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sexta-feira, 20 setembro, 2024

Pepe Escobar: jovens do Sul Global migram para a ‘isolada’ Rússia

Sputnik – Segundo o jornalista e analista Pepe Escobar, por qualquer métrica, o Festival Mundial da Juventude, que decorre no território federal de Sirius, de 1º a 7 de março, é uma conquista impressionante: uma espécie de operação cultural especial que abrange o jovem Sul Global.

Começa com o cenário incomparável — o parque de ciência e arte dos Jogos Olímpicos de 2014, aninhado entre montanhas nevadas e o mar Negro — até as estrelas do espetáculo: mais de 20 mil jovens líderes de mais de 180 nações, russos e principalmente asiáticos, africanos e latino-americanos, bem como diversos dissidentes do “jardim” ocidental obcecado por sanções, conta Pepe Escobar à Sputnik.
Entre eles estão dezenas de educadores, doutores, ativistas do setor público ou da cultura, voluntários de caridade, atletas, jovens empreendedores, cientistas, jornalistas cidadãos, bem como adolescentes de 14 a 17 anos que, pela primeira vez, têm como foco especial o programa “Juntos no Futuro“. Estas são as gerações que construirão o nosso futuro comum, conta o jornalista.

“O presidente [russo Vladimir] Putin é mais uma vez bastante incisivo: enfatizou como se aplica uma distinção clara entre os cidadãos do mundo — incluindo o Norte Global — e a intolerante e extremamente agressiva plutocracia ocidental. A Rússia, um Estado-civilização multinacional e multicultural, por princípio acolhe todos os cidadãos do mundo”, mencionou ele.

Festival Mundial da Juventude de 2024, que se realiza sete anos depois de sua última edição, renova uma tradição que remonta ao Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes de 1957, quando a União Soviética (URSS) acolheu todos em ambos os lados da cortina de ferro durante a Guerra Fria.
A ideia de uma plataforma aberta para pessoas jovens, empenhadas e muito organizadas, atraídas pelos valores conservadores/familiares russos, permeia todo o festival em um claro contraste com as relações públicas artificiais e obcecadas pela cultura da “sociedade aberta”, vendidas incessantemente pelas habituais fundações hegemônicas, de acordo com Escobar.
Bandeiras russa e chinesa em mesa antes de cerimônia de assinatura no Grande Salão do Povo, em Pequim (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 08.03.2023

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Cada dia do festival é dedicado a um tema principal. No sábado (2), o tema foi sobre “responsabilidade pelo destino do mundo”; no domingo (3), “unidade e cooperação entre as nações”; na segunda-feira (4) sobre “um mundo de oportunidades para todos”.
Nada menos que 300 mil jovens de todo o mundo se inscreveram para participar do festival. Obviamente, selecionar pouco mais de 20 mil foi uma grande façanha. Após o festival, 2 mil participantes estrangeiros viajarão para 30 cidades russas para um intercâmbio cultural, exatamente o que o presidente chinês Xi Jinping define como “trocas entre pessoas”, lembra o analista.

“Não é de admirar que os organizadores do festival, Rosmolodezh, a agência federal russa para assuntos juvenis, o chamem de ‘o maior evento juvenil do mundo'”, afirmou. Pepe Escobar lembrou ainda as palavras da diretora Ksenia Razuvaeva, que afirmou: “Estamos destruindo o mito de que a Rússia está isolada.”

As armadilhas da ‘multipolaridade assíncrona’

O festival tem tudo a ver com networking entre grupos de jovens, laços interculturais e comerciais que vão desde o nível comunitário sustentável até o nível geopolítico mais amplo.

O jornalista lembra ainda que teve a “enorme honra e responsabilidade de se dirigir a um público verdadeiramente multiglobal do Sul no pavilhão da região de Belgorod, convidado pela Russia Knowledge Foundation [Fundação de Conhecimento da Rússia], ao lado de um consultor de Hyderabad, na Índia”.

Para o jornalista, a sessão de perguntas e respostas foi fantástica. Segundo seu relato, perguntas extremamente contundentes do Irã à Sérvia, do Brasil à Índia, da Palestina a Donbass representaram “um verdadeiro microcosmo do jovem Sul Global multicultural, ansioso por saber tudo sobre o atual grande jogo geopolítico, bem como os governos nacionais podem facilitar a cooperação cultural e científica internacional entre os jovens”.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov durante o Festival Mundial da Juventude 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 04.03.2024

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Um workshop no domingo, por exemplo, focado em “o futuro de um mundo multipolar” discutiu a “multipolaridade assíncrona”, uma questão considerada particularmente útil para o público, de acordo com Pepe Escobar. O tema suscitou questões extremamente contundentes por parte de pesquisadores da Sérvia, Ossétia do Sul, Transnístria e, claro, da China.
“Nada no fórum se compara a ir de sala em sala lotada, ter um vislumbre das discussões aprofundadas e depois passear pelos pavilhões em modo de rede total. Fui abordado por todos, do Sudão ao Equador, da Nova Guiné a um grupo de brasileiros, de indonésios a um funcionário do Partido Comunista dos Estados Unidos”, contou.
Para o analista, a grande troca cultural revela o potencial que a multipolaridade guarda para o mundo, algo não apenas defendido pela Rússia, mas buscado por ela.

“Agora compare esta reunião pacífica e panglobal focada em todas as formas de programas comunitários sustentáveis, encharcada de esperanças e sonhos, com o lançamento da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] de um exercício massivo de belicismo de duas semanas denominado ‘Resposta Nórdica 2024’, realizado pela Finlândia, Noruega e pela recém-chegada Suécia a menos de 500 km das fronteiras russas”, destaca o analista.

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