Beto Almeida*
Aquele Congresso Latino-americano de Jornalistas, realizado em Havana, no início de outubro de 2001, portanto 20 dias depois dos atentados às Torres Gêmeas de Nova York, em 11 de setembro, foi de fato extraordinário.
Primeiramente, porque o mundo revisava todos os seus conceitos a partir daquele Atentado, que foi se revelando como um Golpe de Estado de alcance mundial, pois, a partir de 11 de setembro, qualquer país poderia transformar-se em alvo de ações dos EUA, inclusive militares, bastando, para tanto, que os falcões raivosos que controlam o Pentágono, ”decretem” que tal ou qual país é terrorista, a partir de provas falsas, como as inventadas contra o Irak. Um conclave de jornalistas que estava radicalmente desafiado a explicar à sociedade o grau de degradação no uso da mentira midiática para justificar uma guerra, que havia superado qualquer limite, questionando a própria prática do jornalismo.
Mas, aquele Congresso de Havana também foi um Congresso extraordinário porque, devido à gravidade da nova onda de intervencionismo militar imperial, teve suas sessões presididas pelo Comandante Fidel Castro, em seus 4 dias. Presente o tempo todo, ele ouviu todas as colocações dos delegados, fez comentários, fez indagações diretamente aos expositores, participou dos debates, fez anotações durante todo o tempo, e, ao final, analisou o agravamento da situação internacional, a questão da mídia e os novos desafios da Revolução Cubana e dos povos do mundo para resistir à escalada de ataques do imperialismo. Fidel não foi meramente protocolar, não foi a uma solenidade mais, não, ele se meteu nos temas, ouviu, anotou, compartilhou preocupações, problemas e desafios, entre eles a urgência de organizar novos instrumentos comunicacionais para democratizar a informação relevante, necessária, decisiva aos povos. Um exemplo para estadistas com dificuldades de ouvir e debater.
Foi quando nasceram ou pelo menos ganharam forma duas propostas que ainda estão aí cumprindo suas funções na luta contra a colonização informativa: Telesur, já com 15 anos de existência e ameaçada pelo títere Juan Guaidor, financiado por Washington, e o Pátria Latina que já completa 18 anos imprimindo uma nova visão integradora da comunicação latino-americana.
Foi uma surpresa quando Fidel, em meio àquela quantidade de ideias e propostas, sintetizou de modo genial, numa frase, aquilo que daria a fagulha para acender a chama que iluminaria a Telesur: “precisamos de uma CNN dos humildes!”, disse o comandante. Logo em seguida, o comandante Hugo Chavez se encarregou de colocar a ideia em marcha, dar-lhe a tradução concreta e organizativa. Telesur é hoje, um dos grandes legados da Revolução Bolivariana, com apoio de Cuba, Nicarágua, Argentina, Uruguai, Equador e Bolívia. Telesur, o sinal latino-americano, desempenha papel na Batalha das Ideias, com alcance internacional, provando que um outro jornalismo sim é possível, humanista, informativo, integrador dos povos e defensor das conquistas dos povos contra o poder imperial.
O Pátria Latina, que começou circulando impresso e com distribuição gratuita, lutou por ampliar a visão de que a integração da América Latina não é apenas uma retórica ou um chavão propagandístico. Graças à determinação e esforço do jornalista baiano Valter Xéo, o Pátria Latina se caracteriza por imprimir ângulos e informações relevantes, qualificadas, revelando aquilo que a mídia do capital sempre buscou esconder, ou seja, que há inúmeras formas de cooperação, nos campos da economia, do comércio, da cultura, da ciência, da educação e da comunicação que foram implantadas, apresentam resultados positivos em favor dos povos latino-americanos, e que precisam ser informadas, destacadas, para gerar uma consciência cada vez mais sólida de que a integração regional latino-americana e caribenha é uma necessidade da História.
Pátria Latina demonstra, na prática, ser possível realizar um jornalismo de integração, confrontando-se ideológica e culturalmente, com os conceitos conservadores disseminados pelo jornalismo da desintegração, que fomenta ódio e desconfiança entre os povos, ao invés da solidariedade e da cooperação, que podem, sim, ser realizadas por meio das políticas estatais. Pátria Latina esclareceu e revelou, com habilidade no trato jornalístico, as sombras que se tentaram criar sobre ações integradoras, como as manipulações contra a construção do Porto de Mariel, os preconceitos sórdidos contra o Programa Mais Médicos, os esforços de vários países da região que erradicaram o analfabetismo (Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e, o pioneiro, Cuba). Pátria Latina também denunciou os golpes de estado aplicados no Brasil, Honduras, Bolívia, Equador, as sabotagens criminosas contra a Revolução Bolivariana da Venezuela e contra a Nicarágua Sandinista, as manipulações contra os direitos dos migrantes, denunciando a prepotência criminosa dos EUA contra os povos, e a brava luta do povo do Chile para livrar-se da ditadura que nunca terminou na Pátria de Violeta Parra e Victor Jara.
Os dois instrumentos, Telesur e Pátria Latina nasceram praticamente naquele inesquecível Congresso Latino-Americano de Jornalistas, sob o olhar atento e encorajador do Comandante Fidel Castro, e por isso mesmo, seguem suas respectivas trajetórias cumprindo com a função histórica de praticar e lutar por um jornalismo de integração dos povos.
*Beto Almeida é diretor fundador da Telesur