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sexta-feira, 6 setembro, 2024

Para onde vai Cuba numa nova conjuntura?

 Por Miguel Sobrado

Os atores em disputa se encontram tanto em Miami com os cubanos americanos situados em posições chave no Governo dos Estados Unidos, assim como por interesses internos que querem ver a derrocada para se apoderarem do país, como o fizeram os oligarcas russos e outros que, desde uma posição “revolucionária”, pretendem impedir o que consideram excessivo enriquecimento dos produtores, retardando as transformações e o desenvolvimento da produção, especialmente campesina, vital para o bem-estar e a estabilidade do país.

O bloqueio aplicado a Cuba tem 63 anos com restrições maiores que as que se lhe impuseram a Rússia, afetando a liberdade de desenvolvimento econômico e social do país em quase todos os campos. Esse bloqueio estabelecido, naquele então, devido a aliança de Cuba com a União Soviética, se mantém, apesar do bloco socialista ter desaparecido há 34 anos e se estar transformando a correlação de forças no mundo, de tal forma que os Estados Unidos deixou de ser a única potência e ter surgido um mundo multipolar. Quase a totalidade das nações do planeta tem se manifestado contra esse bloqueio realizado na contramão do direito internacional.

Nestas novas condições, por sua geopolítica e riqueza de matérias-primas, a América Latina é fundamental para os interesses dos Estados Unidos. A tradicional política do grande porrete aplicada ao subcontinente, desde os séculos XIX e XX, deve se transformar numa política de cooperação e respeito à soberania dos países, se não quer correr o risco de afetar seriamente sua segurança e se isolar reduzindo seu papel protagônico no mundo do século XXI. Esta nova conjuntura já está sendo aproveitada pela América Latina: o Brasil é um dos promotores dos BRICS.

Ainda que os cubanos americanos, como Menéndez e Rubio, tenham tido um papel decisivo na política norte-americana para a América Latina com o tema da migração e das sanções àqueles que se afastem de seus ditames; no entanto, mais cedo que tarde os norte-americanos reconhecerão o erro no qual incorreram por causa dos interesses desses forasteiros. De tal forma, recuperarão os interesses estratégicos de seu país nesta nova conjuntura e realizarão oportunamente as mudanças, para garantir sua segurança e seu abastecimento.

Mais além do impacto desastroso que tem tido o bloqueio na contramão do direito internacional, estão as políticas internas de Cuba que limitam o desenvolvimento das forças econômicas locais devido a normativas que dificultam o desenvolvimento das nascentes empresas pequenas e médias no âmbito urbano.

As PYMES já podem operar nos centros urbanos, porém outra é a situação no mundo rural onde, se bem que podem produzir, mesmmo assim não podem comercializar livremente os produtos. Estes devem ser encaminhados a entes estatais que, ademais de serem pouco ágeis, determinam preços não estimulantes para os produtores. E é aqui onde está o tendão de Aquiles das reformas à economia cubana. Já que os campesinos cubanos têm possibilidades de abastecer plenamente e não só parcialmente o mercado nacional, porém as restrições e normativas burocráticas os desestimulam.

As mudanças de ministros não garantem que se destrave a economia cubana, senão que é combinando antes de tudo com os campesinos. É importante que, seguindo a tradição da Revolução Cubana, estes joguem um papel relevante no novo reordenamento econômico.

Cuba resistiu por 65 anos a um bloqueio criminoso, gerando, apesar destas [más] condições, uma população sem excluídos, com uma educação destacada como a melhor do continente. Tem, neste sentido, possibilidades de emergir e se colocar na vanguarda do desenvolvimento latino-americano quando finalize o bloqueio norte-americano e o controle burocrático reativo perca também suporte.

Existe a capacidade de inovar e produzir colocando o mercado não como objeto de culto da mão invisível mas sim a serviço do desenvolvimento nacional, como China e Vietnã têm feito. Onde, mantendo o controle das finanças e dos setores estratégicos da economia, se conquistou um bem-estar para a população.

Não seria bem-vindo que o valioso capital humano gerado pela revolução emigre porque não vê esperança em seu país por causa de normativas e disposições absurdas que mantêm estruturas econômicas ineficientes e não estratégicas, podendo se integrar plenamente ao desenvolvimento.

Cuba é um país importante para Latinoamérica em sua luta pela autonomia e pela autodeterminação. Tem marcado trilhas de esperança que são de interesse continental. É muito importante que, apesar do bloqueio, esse país siga adiante, realizando as mudanças internas urgentes e que não se desvie por caminhos oportunistas. Retomando o espírito libertário de seus fundadores e de suas melhores práticas.

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

Biblioteca Campesina, Santa Maria, BA, 4mar2024

Acesse original> https://semanariouniversidad.com/opinion/hacia-donde-va-cuba-en-una-nueva-coyuntura/

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