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sexta-feira, 13 setembro, 2024

Panamá e os desafios da água

Cidade do Panamá (Prensa Latina) O Panamá, quinto país que mais chove no mundo, sofre com um déficit de água doce causado pelo fenômeno El Niño 2023-2024, segundo estatísticas oficiais.

Por Mário Hubert Garrido

Correspondente-chefe no Panamá

No interior do país, na região metropolitana ou no coração do canal, há falta de água e a sua ausência põe em causa a capacidade de produzir alimentos suficientes, de fazer passar navios suficientes pela hidrovia interoceânica e de tem o suficiente para as pessoas consumirem.

A situação é agravada por saber que, na bacia do Canal – que possui as maiores reservas artificiais de água do país – choveu menos do que o habitual, e apenas 50 por cento do líquido vital necessário para este verão foi reservado.

O Lago Gatun, que permite a passagem de navios, deveria ter 89 pés de água acumulada e, no final de 2023, tinha pouco mais de 80.

Consequentemente, o Canal vem reduzindo o número de embarcações que podem passar porque não chega à água e porque Gatún – e seu banco de água, o Lago Alajuela – sustenta o consumo de mais de dois milhões de pessoas residentes em Colón, Arraiján. , La Chorrera, Panamá e San Miguelito.

Em 2019, um estudo que o Governo contratou à Autoridade do Canal especificou a necessidade de procurar água para a bacia do rio Índio, que corre ao longo da costa da província oriental de Colón, mas ainda este ano o Executivo ainda não decidiu … ou o que fazer.

VÁRIAS ALTERNATIVAS

Como explicou recentemente à imprensa nacional e estrangeira o administrador da Autoridade do Canal do Panamá (ACP), Ricaurte Vásquez, o trabalho continua com múltiplas alternativas para encontrar água, das quais possivelmente a mais eficiente e com muito maior progresso é a possível construção de um reservatório no rio Índio.

O administrador esclareceu que se trata de uma medida que vem sendo considerada desde antes da transferência do Canal para a administração panamenha, em 1999. A questão da água tem abrangência nacional, embora sem dúvida a hidrovia seja a maior usuária de água. doce, mas gera a maior receita por metro cúbico, disse ele.

Apesar dos alertas feitos pelos ACP, a questão permanece estagnada, apesar da crise que o Canal do Panamá enfrenta nas operações, impulsionada pelo Fenômeno El Niño, cujo impacto se refletirá pelo menos até ao final do primeiro trimestre de 2024.

DEFINA A BACIA

Vásquez indicou que o Canal não pede autorização para construir no rio Índio, mas que o Governo deve definir claramente os limites geográficos da bacia para ter mandato ou poder para agir.

É preciso também um entendimento com as pessoas afetadas – cerca de duas mil, segundo cálculos preliminares – de qualquer tipo de projeto que seja proposto na bacia hidrográfica.

A este respeito, acrescentou que inicialmente foi feita uma proposta ao Conselho de Administração do Canal do Panamá, uma vez que a Lei estabelece que é esse órgão quem propõe os limites da Bacia Hidrográfica da hidrovia interoceânica.

Não se trata apenas de saber se é necessária uma bacia maior ou menor, mas também de uma definição clara e geográfica de quais são os limites das bacias hidrográficas do Canal do Panamá, sublinhou.

Segundo o responsável, esta definição é importante porque a Constituição atribui ao Canal do Panamá responsabilidades na bacia e não fora dela.

«A questão é que o Canal do Panamá tem a responsabilidade, mas não tem autoridade sobre a bacia. E mais importante que isso, a Bacia Hidrográfica do Canal não é propriedade do Canal”, insistiu.

A bacia hidrográfica aprovada pela Lei 44 de 1999 era superior a 500 mil hectares; Com a sua revogação em 2006, o Canal do Panamá voltou à bacia definida pelos usos da água e do solo da antiga Zona do Canal.

PROPOSTA DO RIO INDIANO

Sob este princípio, a proposta apresentada pelo Conselho de Administração do Canal do Panamá ao Órgão Executivo incluía a jusante do rio Índio, porque se fosse limitada à população a montante, as condições dos residentes na parte baixa se deteriorariam, ele explicou.

A resposta do Executivo acrescenta a necessidade de ter aprovação para realizar um projecto. A este respeito, o administrador esclareceu que o Canal do Panamá não necessita do consentimento do Executivo para executar um programa.

«As aprovações são através do Conselho de Administração, via orçamento, aprovado de alguma forma pelo Conselho de Ministros, feito lei da República na Assembleia Nacional. Porém, o programa de investimentos está definido dentro do Canal do Panamá”, comentou.

Vásquez esclareceu que o projeto de lei apresentado ao Executivo não incluía nenhum pedido de aprovação para construção de reservatório. O que o projeto de lei propõe é a delimitação clara e geográfica do Canal do Panamá.

Por outro lado, esclareceu que se a bacia se tornar maior, os custos de manutenção dela, atribuíveis à operação do Canal do Panamá, também aumentam devido ao aumento da superfície e o número da população atendida também cresce.

A norma, tal como está, estabelece um referendo para a ampliação do Canal do Panamá, e não para qualquer outro projeto, esclareceu, embora reconheça que a água é um assunto de interesse nacional.

A definição de bacia hidrográfica não significa que o Canal do Panamá possa fazer o que quiser naquela propriedade, mas sim que está obrigado a estabelecer consultas com a comunidade, por respeito aos direitos humanos e às questões públicas, esclareceu.

Autoridades do Canal do Panamá têm conversado com as comunidades do rio Índio desde que foi assinado o contrato para estudá-lo, bem como do rio Bayano e do rio La Villa, observou.

MAIS DEMANDA

A variação climática teve um impacto mais significativo no funcionamento do Canal do Panamá e na necessidade de obtenção de água, especialmente para consumo humano.

«Se simplesmente operássemos com Gatún e Alajuela em plena capacidade, a operação do Canal do Panamá seria normalizada. O que está a aumentar muito rapidamente é a taxa de crescimento da procura de água para consumo humano”, disse Vásquez.

Atualmente o Canal do Panamá faz 24 trânsitos, antes de 32 e em média 36, ​​para isso se somam os sete trânsitos equivalentes que representam a extração de água para consumo e quando terminarem de ser construídas as estações de tratamento de água que a extraem do Lago Alajuela, haverá ter 11.

AGENDA DO PAÍS

Perante o maior sindicato empresarial privado do país e os candidatos presidenciais às eleições de Maio deste ano, o vice-presidente de Projectos Hídricos do ACP, John Langman, insistiu que o Rio Índio é a alternativa mais viável para obter a água que o rodovia interoceânica necessita de água tanto para consumo humano quanto para seu funcionamento.

O especialista destacou a urgência de encontrar alternativas hídricas para o Canal, porque a situação se torna cada vez mais complexa e difícil à medida que as demandas continuam a crescer, além de uma condição hidrológica com escassez mais frequente.

“Estamos aumentando as cobranças e as consequências vão ser mais frequentes. Teremos que enfrentar situações como esta (seca), a menos que encontremos soluções reais para o problema hídrico do Canal.

“As verdadeiras soluções são transferir, obter água de outras bacias, porque o consumo da população e o trânsito dos navios superam o que vamos ter no futuro em contribuições para a bacia hidrográfica”, notou.

Além disso, indicou que, sem dúvida, a exigência de um projecto como este é que as comunidades terminem com condições iguais ou melhores que as actuais.

Quanto aos prazos para a solução do Rio Indiano para a crise hídrica do Canal, ele respondeu que “infelizmente não existe uma solução de curto prazo capaz de fornecer certeza”.

“Com o Río Indio é um projeto que envolve execução na parte social, inicialmente entre 12 e 18 meses, e a construção de um projeto levaria vários anos, porque novamente o reservatório deve ser abastecido”, continuou.

Especificou que se todas as limitações políticas e sociais forem ultrapassadas, “teremos um projecto no final de 2030 capaz de fornecer água para a estação seca de 2031”.

Langman proferiu a conferência intitulada “Água: a tarefa de um país”, na qual destacou que são necessárias ações para enfrentar as ameaças à disponibilidade de água para consumo humano e ao Canal.

Sobre o assunto, Jessica Young, gestora do programa nacional para o Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Alterações Climáticas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, colocou o dedo no problema: a água não é um sector das alterações climáticas, nem é um sector do ambiente. .

A governação da água é um espaço para procedimentos e mecanismos para tomar decisões e criar colaboração entre todos os setores que permitem inclusão, adaptação e resiliência e maior proximidade com a comunidade.

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