© Sputnik / Viktor Antonyuk
Dmitry Orlov [*]
Uma guerra quente está ocorrendo no coração do subcontinente europeu que, se você consultar um mapa geográfico, vai desde o cênico Cabo da Roca em Portugal (entrada gratuita) até a majestosa cordilheira dos Urais, na borda leste da Rússia européia. O locus atual está nas províncias russas recém-adquiridas de Lugansk, Donetsk, Zaporozhye e Kherson. Junto com algumas outras províncias, como Odessa, Kharkov e Kiev, essas eram terras russas até que Vladimir Lenin achou por bem reuni-las em uma República Socialista Soviética Ucraniana inventada às pressas. Mas essa entidade quimérica já se foi há mais de 30 anos e o que veio em seu lugar se mostrou inviável e está em estágio avançado de decomposição política. É a proverbial mala sem alça: impossível de levantar, mas valiosa demais para deixar para trás; daí o conflito atual, que é sobre abri-la e pegar o que está dentro dela.
No que diz respeito às guerras, é real, empregando tanques, APCs (Armored Personal Carriers), todos os tipos de artilharia, foguetes, trincheiras, infantaria e assim por diante. Como na maioria das guerras, esta é baseada em alguns mal-entendidos. Os EUA e seus parceiros da OTAN se recusam a entender que a Rússia quer seu próprio território de volta e continuam pensando que essa demanda é de alguma forma negociável. Eles também têm trabalhado sob o equívoco de que seria de alguma forma possível derrotar a Rússia simplesmente fornecendo às infelizes forças ucranianas algum lixo de guerra obsoleto e alguma inteligência, impondo algumas sanções econômicas à Rússia, tentando isolá-la politicamente e tomando várias outras medidas semelhantes que os russos mal notaram. Os russos estão ganhando tempo e esperando que todos caiam em si e lhes dêem o que querem, enquanto esmagam as tropas ucranianas aos milhares.

Os americanos parecem estar recuperando o bom senso: menos de um ano após o início do conflito, muitos deles já estão declarando que mais apoio aos ucranianos é uma má ideia. Mas então ninguém sabe o que seu Imperador Dementius Optimus Maximus, Destruidor dos Gasodutos do Norte, fará. Seu objetivo declarado era enfraquecer a Rússia, mas como a Rússia só se fortaleceu nesse ínterim, talvez ele pudesse tentar fortalecer a Rússia. (Sabe, se você não consegue soltar algo empurrando, tente puxá-lo.) Os alemães, por outro lado, estão vacilando. Sua ministra das Relações Exteriores, cheia de ginástica, Annalena, anunciou recentemente que a Europa está em guerra com a Rússia, e então se corrigiu apressadamente: a Europa não está (nein! nicht!) em guerra com a Rússia. Por outro lado (lado número três), o primeiro-ministro da Polônia, Tadeusz Morawiecki, declarou desde então que derrotar a Rússia é a razão de ser da Polônia. Isso fez com que a Rússia e a Alemanha se sentassem e olhassem diretamente uma para a outra. Você vê, a Polônia é um daqueles países que continua piscando entre dentro e fora da existência.



