Lima (Prensa Latina) Parece finalmente que os Estados Unidos estão dispostos a atacar militarmente a República Bolivariana da Venezuela sob o pretexto de enfrentar e combater o narcotráfico, a mesma força que usaram há alguns anos para intervir no Panamá, capturar o presidente Manuel Antonio Noriega e impor um governo fantoche a seu serviço.
Gustavo Espinoza M.*, colaborador da Prensa Latina
(“Os Estados Unidos parecem destinados pela providência a atormentar a América com fome e miséria em nome da liberdade.” Simón Bolívar)
Nessa circunstância, como lembramos, a maioria dos governos latino-americanos aprovou o ato, alguns por reverência ao governante do Norte; outros, intimidados pela possibilidade de serem implicados em “tal caso”; isto é, supostamente protegendo o narcotráfico.
A pressão imperialista contra os governos e povos da América Latina não é novidade. No início do século XX, Washington costumava enviar seus “fuzileiros navais” para “restaurar a ordem” nas pequenas repúblicas em crise ou que resistiam à dominação das ditaduras tradicionais ou das camarilhas dominantes da época. Essa “política” deu frutos até que Sandino apareceu em La Segovia e os expulsou.
A Revolução Cubana mudou as coisas. A Casa Branca percebeu que não podia mais intervir diretamente nem atacar governos ou países. Então, concebeu outra tática: golpes de estado de estilo fascista. Para executá-los, utilizou as Forças Armadas que controlava permanentemente.
O precedente histórico foi estabelecido pelos militares brasileiros das Escolas Superiores de Guerra, que derrubaram João Goulart em março de 1964. Seguiram-se Hugo Banzer, na Bolívia, em 1971; depois, Uruguai, em junho de 1973; e, mais tarde, Chile, com Pinochet; até que o ciclo quase chegou ao fim com a ditadura de Carlos Rafael Videla, na Argentina, em 1976. Já na década de 1980, um processo de fascistização das Forças Armadas se instaurou no Peru para evitar a repetição de um fenômeno como o de Velasco Alvarado. No entanto, foi possível registrar episódios do passado em nosso continente: Granada, em 1983; e Panamá, em 1989.
Agora, no século XXI, quando os Estados Unidos enfrentam uma grave crise e atacam em todos os lugares para manter sua presença dominante, eles parecem combinar ambos os elementos, modernizados com a tecnologia de nosso tempo. É por isso que agora aparecem nas águas do Caribe e na costa da Venezuela, em poderosos contratorpedeiros de combate, submarinos de ataque e aviões espiões; aos quais acrescentam, se necessário, 4.000 soldados de infantaria habilmente treinados.
Objetivamente, o que o governo ianque busca com tudo isso é uma incursão militar na Venezuela para derrubar o governo de Nicolás Maduro.
O argumento é o mesmo usado contra o Panamá em 1989, mas é uma frase que camufla uma clara intenção política e econômica: impor um governo amigo no Palácio de Miraflores e apoderar-se do petróleo de que tanto necessita hoje em dia.
Por ora, vale lembrar que os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de drogas. Se, hipoteticamente, as drogas não fossem produzidas no mundo, ou se não fossem enviadas para os Estados Unidos, o governo ianque teria uma espécie de rebelião descontrolada, exigindo atenção ao que era proibido.
Isso explica um fato adicional: ninguém jamais viu uma quadrilha ou cartel de tráfico de drogas capturado nos Estados Unidos, nem a DEA jamais foi útil. Além de todas as ofertas, a realidade é que em todos os países onde essa entidade “opera”, o tráfico de drogas cresceu e se desenvolveu. O próprio caso do Peru comprova isso.
Além disso, os Estados Unidos já perderam seu status de “potência líder” em um mundo unipolar. Não detêm mais o monopólio de bombas e mísseis, nem são a potência econômica capaz de administrar tudo. Objetivamente, sofrem os efeitos da crise do sistema capitalista de dominação e assistem com angústia e impotência ao surgimento de outras forças para desafiar sua posição.
Hoje, parodiando Ciro Alegría, poderíamos dizer que o mundo é vasto, mas não é estranho. A multipolaridade se tornou a realidade do nosso tempo.
Já foi dito — e é verdade — que o desespero cega as pessoas. E é curioso: quanto mais alta a posição, maior a cegueira. Donald Trump é hoje a personificação viva desse drama. Ele está convencido de um “Poder” que não possui mais. Ele se considera o “rei do mundo”, mas o mundo não é uma monarquia.
Os Estados Unidos detinham o poder quando convenceram grande parte do mundo de que o Iraque possuía “armas de destruição em massa”. E foi por isso que invadiram o país do Oriente Médio. Foi por isso que seu próprio Secretário de Estado na época teve que admitir nas Nações Unidas que o Iraque nunca teve tais armas. Embora continuasse a invadir, o país do norte foi cada vez mais abandonado. Hoje, na ONU, seu único aliado “até a morte” é Israel. Os dois, como dois rufiões, apertam as mãos e se ajudam, mas não convencem ninguém. Poderiam, no entanto, receber o Prêmio Nobel da Guerra. Não teriam concorrência.
Os Estados Unidos estão enganados se pensam que invadir a Venezuela é um passeio no bosque. Estão enfrentando um país. E, mais ainda, um continente. No hemisfério sul da América, mal podem contar com o apoio de Milei e Noboa. Nem mesmo da Argentina e do Equador. Porque, acima desses governantes, os povos desses países lutarão nas ruas contra a arrogância do Império.
Atacar a Venezuela é como desencadear uma guerra de vastas proporções na América Latina. A Casa Branca saberá onde e quando esse evento sinistro começará; mas nunca saberá onde ou quando terminará. Por enquanto, Caracas já mobilizou suas primeiras tropas: quatro milhões e meio de combatentes “com fuzis e mísseis”. E toda a população os seguirá, se necessário.
A América Latina é um continente de paz, mas seus povos sabem defendê-la, mesmo com armas. E agora, em vários países, há governos dispostos a se manter firmes. As primeiras palavras de Claudia Sheinbaum, Gustavo Petro e Luiz Inácio Lula da Silva confirmaram isso. E, claro, Cuba e Nicarágua também se manifestaram. O continente arderá como uma chama viva se o Império nos atacar.
A “Grande Imprensa”, sempre a serviço das piores causas, lançou há muito tempo uma campanha para desacreditar o governo venezuelano. Ela continua essa campanha hoje, mas agora é menos convincente.
Objetivamente, a Venezuela resistiu a todos os ataques das oligarquias locais e do Império. Conseguiu emergir da crise que enfrentou anos atrás e está passando por um processo de recuperação claro e contundente. Conseguiu equilibrar sua economia, conter a inflação, recuperar o poder de compra de sua moeda, aumentar sua produtividade e garantir a paz dos cidadãos. Hoje, Caracas é objetivamente uma das cidades mais seguras da América Latina. E nada disso pode ser escondido atrás de falácias e mentiras.
O Império está errado em promover incursões ou encorajar ataques. Nenhum país latino-americano está disposto a permitir que um centímetro sequer de seu solo seja tocado. E, como dizem os cubanos, quem tentar morderá a poeira de seu solo encharcado de sangue, se não perecer na tentativa.
* Jornalista e professor peruano. Presidente da Associação de Amigos de Mariátegui e membro da diretoria de Nuestra Bandera. Ex-deputado e ex-secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru.