A OTAN lança os maiores exercícios de guerra de sempre no Atlântico e no Pacífico
– O maníaco instinto belicista ocidental ainda é viral e um perigo potencialmente catastrófico
SCF [*]
Em concordância com a sua fatídica implosão imperial, a máquina militar liderada pelos Estados Unidos, conhecida como OTAN, está desesperadamente a funcionar em plena força – a fim de incitar tensões de guerra em ambos os hemisférios do mundo.
O quadro global é simultaneamente condenável e ultrajante, mas ainda assim os consumidores dos media corporativos do ocidente estão entorpecidos com mentiras, sofismas, distrações e bajulações.
Assista, para rir, a este vídeo de parlamentares canadianos a posarem como democratas preocupados, desfilando com saltos altos cor-de-rosa. Seriamente, será essa a sua maior preocupação? E, como de costume, os media seguem o exemplo, garantindo que o público ocidental fique saturado com tais trivialidades.
Nas próximas semanas e meses, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, da era da Guerra Fria, está a conduzir as suas maiores manobras de guerra de sempre, não só no seu habitual domínio transatlântico, mas também na Ásia-Pacífico.
As manobras de guerra na Europa são relatadas como as maiores desde a formação da OTAN em 1949, após a derrota da Alemanha nazi. Também o são as manobras de guerra na Ásia-Pacífico. Em conjunto, confirmam que a China está na mira da OTAN juntamente com a Rússia.
Mas esta manobra provocadora – vamos chamá-la pelo que é: agressão – está de certa forma normalizada pelos media corporativos ocidentais.
No momento, ainda, em que o público ocidental está a ser brutalmente esmagado por uma austeridade económica ditatorial, como discute a nossa entrevista desta semana.
Na verdade, os media ocidentais tornaram-se uma vergonha e afronta totais à inteligência e decência públicas habituais. Os auto-proclamados bastiões do jornalismo e da informação pública, como o New York Times e a BBC, são mestres no uso de sintaxe xaroposa para encobrir a mobilização da guerra global liderada pelos EUA como “exercícios defensivos”, quando na realidade deveria ser claro para a maior parte das pessoas que o propósito nefasto é inflamar tensões e atacar a paz e a segurança global.
É criminosamente imprudente para Washington e os seus aliados militarizar os hemisférios do mundo simultaneamente num momento já pejado tensões com as potências nucleares Rússia e China. E, deveria ser reiterado, estas relações foram tornadas tenebrosas pela implacável demonização da Rússia e da China como sendo potências agressivas e expansionistas, quando na realidade é o eixo imperialista ocidental liderado pelos EUA que é culpado de projetar as suas próprias depredações.
A Rússia procurou um acordo de segurança política antes do conflito irromper na Ucrânia no ano passado. Moscovo foi ignorada pelo Ocidente. A China tem defendido repetidamente o fim da mentalidade da Guerra Fria e o diálogo e cooperação multipolar. Pequim é desdenhosamente menosprezada e caricaturada por Washington e pela Europa como “autocrática” e uma “ameaça à segurança”.
Os americanos e os seus vassalos usam uma retórica auto-suficiente narcisista sobre a ordem baseada em regras e a democracia mundial, enquanto na prática exploram todas as oportunidades de ampliar conflitos. Isso porque militarismo, guerra, conflito, divisão e tensões – morte e destruição – são o sangue vital do capitalismo liderado por americanos.
Os chamados exercícios de guerra Defender da OTAN começam este mês na Europa e seguirão em cascata em múltiplas outras manobras em grande escala com nomes igualmente pirosos tais como Noble Jump [Pulo Nobre] e Dynamic Guard [Guarda Dinâmica] (George Orwell roer-se todo!).
Foram os jogos de guerra BALTOPS em Junho passado que forneceram a cobertura para o rebentamento final dos gasodutos russos Nord Stream em Setembro por mergulhadores da U.S. Navy, sob as ordens pessoais do Presidente Joe Biden, de acordo com Seymour Hersh.
Este ano assiste-se ao maior destacamento de tropas e aviões dos Estados Unidos para o continente europeu desde 1949. O New York Times louva o “regresso dos Estados Unidos ao coração da defesa europeia”. A total idiotice e credulidade do New York Times e de outros media ocidentais são estarrecedoras.
As próximas operações da OTAN estender-se-ão desde a Islândia no Mar do Norte até à Alemanha e ao Mar Báltico, descendo à Roménia e ao Mar Negro. A mobilização maciça envolve todos os membros do bloco das 30 nações da OTAN mais países parceiros. O objetivo é declarado pelos comandantes militares como sendo de “simulação ofensiva” e formando uma “aliança combatente de guerra”. No entanto, os media ocidentais continuam a dizer-nos que se trata de “defesas”. Tais media são, portanto, cúmplices na normalização da agressão.
Significativamente, os membros da OTAN estão cada vez mais coesos sob um comando militar único dos Estados Unidos e os objetivos chave são a “interoperabilidade” e o “posicionamento rápido”. O novo membro Finlândia deve participar, o que este ano duplica a força de proximidade da OTAN junto à fronteira noroeste da Rússia.
A Alemanha deverá servir de ponto de apoio para todas as forças da OTAN durante os próximos exercícios. Segundo o comandante da força aérea alemã, tenente-general Ingo Gerhardt, “está a ser enviada uma mensagem à Rússia”, como citado pelo U.S. Air Force Times.
Que mensagem poderia ser essa? Um eco descarado e odioso da Operação Barbarosa, a invasão maciça da União Soviética pela Alemanha nazi em junho de 1941, que resultou na morte de cerca de 30 milhões de cidadãos soviéticos.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, os Estados Unidos e os seus parceiros da OTAN vão realizar exercícios de guerra que quebram recordes na Ásia-Pacífico. Certamente, “Organização do Tratado do Atlântico Norte (sic)” deveria invalidar o mandato para tal mobilização no Pacífico. Mas aí está. O mundo já não lhe é suficiente!
Estes “jogos de guerra” conhecidos como Talisman Sabre envolverão os EUA, Canadá, Grã-Bretanha, França, Alemanha, bem como a Austrália e a Nova Zelândia. Provocadoramente, as forças militares do Japão estão também notificadas para se juntarem às manobras juntamente com a Coreia do Sul, Filipinas, Indonésia, Papua Nova Guiné e outros. Estes jogos surgem na sequência da recém-formada aliança AUKUS de Washington com a Grã-Bretanha e a Austrália. Este último país deverá tornar-se um centro de submarinos nucleares para os Estados Unidos, a fim de intensificar a sua vigilância à China. As manobras sem precedentes na Ásia-Pacífico também seguem uma série de declarações de comandantes do Pentágono apelando explicitamente à prontidão para travar uma guerra com a China.
Assim, temos aqui dois importantes acontecimentos militares a ocorrerem este Verão envolvendo a Alemanha e o Japão, as duas potências agressoras derrotadas da Segunda Guerra Mundial, as quais infligiram morte e sofrimento colossais ao povo russo e chinês. O número de mortos da China infligidos pelo Japão imperial é estimado em 20 milhões.
E estas mesmas duas nações – Alemanha e Japão – com a sua desprezível história de crimes de guerra estão de novo a mostrar-se na agressão neo-imperial sob a liderança de Washington. Qualquer sobrevivente da Segunda Guerra Mundial deve certamente ficar surpreendido com este horrendo déjà vu. Qualquer pessoa com juízo perfeito deveria também ficar horrorizada.
O principal impulso para esta depravação é a agonia do imperialismo americano e da sua economia capitalista. Os Estados Unidos e os seus comparsas ocidentais estão todos a sofrer uma crise existencial pelo fracasso histórico das suas sociedades capitalistas. Tal como em períodos anteriores da história, a saída para tais crises recorrentes no sistema capitalista é travar uma guerra. A Primeira e Segunda Guerras Mundiais foram os resultados hediondos, com um número de mortes combinado de até 100 milhões de pessoas.
Hoje em dia, as nações ocidentais capitalistas lideradas pelos EUA encontram-se na mesma situação de beco sem saída. É por isso que o executivo americano do sistema capitalista ocidental – os bancos, corporações, oligarcas, etc – estão a forçar os seus lacaios políticos e mediáticos a incitarem à guerra a todo o custo. Tal como em períodos anteriores, a guerra é amplamente preferida a, digamos, uma revolução socialista contra a ordem capitalista. A questão é, porém, que desta vez os belicistas ocidentais podem não ser capazes de executar a sua vil rota de fuga porque a) a Rússia e a China são demasiado fortes, e b) desta vez as revoluções políticas nas sociedades ocidentais podem simplesmente materializar-se.
No entanto, o maníaco instinto belicista ocidental ainda é viral e um perigo potencialmente catastrófico.
A guerra por procuração de Washington na Ucrânia contra a Rússia é cada vez mais vista como um desastre: militar, política e financeiramente. As recentes fugas de informação do Pentágono testemunham esse desastre absoluto e à bancarrota dos media de propaganda ocidentais. Mais de 200 mil milhões de dólares foram esbanjados pelos Estados ocidentais nesta guerra fútil ao longo do ano passado, enquanto as sociedades ocidentais estão a desintegrar-se na pobreza e nas privações.
Ao invés de se afastar dos seus erros abissais e erros de cálculo criminosos, a máquina de guerra liderada pelos EUA está a redobrar a fim de aumentar as tensões e a agressão contra a Rússia e a China. A máquina de guerra, por definição, não conhece qualquer outro caminho.
Se os media noticiosos ocidentais tivessem um mínimo de independência e do espírito de serviço público de que se vangloriam incessantemente, estariam a chamar os belicistas com questões e observações críticas óbvias.
Mas os media americanos, europeus e australianos são parte do problema. Eles não oferecem sequer um remoto vislumbre de solução. Pois tais meios de comunicação social são organizações compradas e pagas pela oligarquia ocidental que dirige a extorsão da guerra capitalista.
Aqui está a prova final. Os belicistas da OTAN liderados pelos EUA estão praticamente a travar a guerra em todos os cantos do globo e ainda assim os serviços de propaganda mediática do tipo Goebbels estão a tentar dizer-nos que é tudo pela nobre “defesa do mundo”. Eles revelam-se pelo seu próprio absurdo abjeto.
21/abril/2023
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