Esta lista inclui obras-primas famosas de clássicos da literatura russa, bem como contos, romances, peças e poemas de autores que podem ser uma verdadeira descoberta para os leitores estrangeiros.
Os cânones da literatura na Rússia e no exterior são diferentes. Muitos autores russos e suas obras mais importantes nem sempre são conhecidos no exterior, sobretudo quando se trata de poesia, que mais sofre na tradução.
Pensando nisso, o Instituto de Literatura Russa, também conhecido como “Casa Pushkin” da Academia de Ciências da Rússia, compilou, especialmente para a “Janela para a Rússia”, uma lista com as obras literárias que todos os interessados na Rússia e na cultura russa deveriam ler.
Segundo o diretor do Instituto de Literatura Russa, Valentin Golovin, ao compilar a lista, “os especialistas em literatura quiseram elencar os nomes [dos escritores] que são companheiros eternos [dos leitores russos]. Queremos ampliar a lista desses autores adicionando aqueles que poderiam se tornar populares no exterior graças a novas e boas traduções”.
1. Nikolai Karamzin, “Cartas de um viajante russo” (década de 1790)
Nikolai Karamzin é pouco conhecido não apenas no Brasil, mas no Ocidente como um todo. Na Rússia, no entanto, é reverenciado como o autor da História do Estado Russo, uma das primeiras tentativas monumentais de criar um estudo geral sobre a história do país.
No final do século 18, Nikolai Karamzin viajou pela Europa por cerca de um ano, e lá foi apresentado ao gênero epistolar (escrito por meio de cartas). De volta à Rússia, ele se tornou um dos primeiros autores desse gênero na literatura russa.
Suas “Cartas de um viajante russo” foram publicadas em revistas literárias e desfrutaram de enorme popularidade. Especialistas em literatura russa afirmam que essa obra criou “a base do romance russo” e da literatura russa moderna em geral.
2. Aleksandr Griboiedov, “O infortúnio da razão” (1822-24)
O segundo autor da lista criou uma das peças mais importantes de toda a literatura russa, mas é pouco conhecido no exterior — tanto é que sua obra-prima jamais foi publicada oficialmente em português.
Esta comédia em versos se tornou uma verdadeira revolução no drama russo. Escrita em linguagem simples, destruiu todos os cânones do classicismo do século 18 e se tornou a primeira peça realista. Zombando da hipocrisia da aristocracia, essa obra é até hoje conhecida por todos os russos. Os monólogos do protagonista, Tchátski, continuam sendo decorados na escola. O título jamais foi publicado em português, porém existe uma dissertação de mestrado da Universidade de São Paulo disponível on-line que traz a tradução da peça por Polyana de Almeida Ramos.
3. Aleksandr Púchkin, poesia lírica
Aleksandr Púchkin (também grafado como Pushkin em português) é considerado o principal poeta nacional, sendo conhecido por todos os russos. No exterior, porém, Púchkin é incomparavelmente menos famoso. Ele escreveu cerca de 360 poemas sobre todos os aspetos da vida humana.
O seu poema “Para ***”, de 1825, é considerado o verso sobre o amor mais importante da história da literatura russa. Foi traduzido para 210 idiomas. “O profeta”, de 1826, é uma declaração poderosa, quase bíblica, sobre o propósito da poesia.
A coletânea de poemas de Púchkin pode ser encontrada: Amazon
4. Aleksandr Púchkin, “Evguiêni Oniéguin” (1823-1830)
Penguin-Companhia, 2023
Considerado o auge da criatividade de Púchkin, o romance em verso “Evguiêni Oniéguin” (também publicado com o título “Eugênio Onêguin” em português) é chamado de “enciclopédia da vida russa” e se tornou leitura obrigatória nas escolas. O autor apresenta tanto uma propriedade nobre provincial quanto um modo de vida rural, e retrata a secular Petersburgo e a antiga Moscou.
Nesse romance, Púchkin narra a vida do dândi Oniéguin que, entediado com seu cotidiano, viaja para o campo, onde conhece a bela Tatiana. Ela se apaixona à primeira vista, mas é duramente rejeitada. Anos depois, Oniéguin percebe o erro que cometeu e tenta desesperadamente retomar seu caminho no amor. Contudo, o destino e diversas forças sociais não estarão a seu favor. Esta obra é extremamente difícil de traduzir devido ao fato de Púchkin ter inventado a chamada “estrofe Oniéguin”, com uma estrutura e ordem de rima claras.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
5. Aleksandr Púchkin, “Boris Godunov” (1825)
Biblioteca Azul, 2013
Nesta peça, Púchkin aborda uma das páginas mais misteriosas da história russa: o assassinato do príncipe Demétrio e o Tempo de Dificuldades, quando o país estava nas mãos do impostor Falso Demétrio 1º.
Trata do longo legado trágico do reinado de Ivan, o Terrível (1530-1584), que, ao assassinar o próprio filho e sucessor, abre uma caixa de Pandora verdadeiramente shakespeareana. O poeta descreve a lenda de que Boris Godunov ordenou o assassinato do último príncipe da dinástia ruríquida, Demétrio.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
6. Aleksandr Púchkin, “O Cavaleiro de Bronze” (1833)
Kalinka, 2022
Esse conto poético é um verdadeiro hino a São Petersburgo, e seu título deu o apelido ao monumento ao imperador Pedro 1º, o Grande, que se tornou o símbolo da segunda maior cidade russa.
O autor descreve a beleza de São Petersburgo, enquanto o enredo gira em torno da grande enchente que aconteceu na cidade em 1824. O herói Eugênio entende que a casa de sua noiva foi destruída pela água e ela morreu. Ele enlouquece e corre pela cidade, observando as cenas terríveis do desastre natural.
Este livro pode ser encontrado: Editora Kalinka | Amazon
7. Aleksandr Púchkin, “A Filha do Capitão” (1836)
Editora 34, 2022
Publicado em 1836, meses antes da morte de Púchkin em um duelo, o romance é narrado por Piotr Griniov, um jovem militar que é enviado para uma remota fortaleza e se apaixona pela filha do comandante local. É então que irrompe uma rebelião liderada por Pugatchov.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
8. Mikhail Lermontov, poemas
Artêra Editorial, 2022
O oficial de cavalaria russo Mikhail Lérmontov, nascido em 1814 e morto em 1841, é considerado o segundo maior poeta da Rússia depois de Púchkin. Ele é amado por seus poemas e versos em estilo romântico, com contrastes entre o bem e o mal, a liberdade e a escravidão.
Lérmontov ficou famoso aos 22 anos de idade, após escrever um poema emotivo dedicado à morte de Aleksandr Púchkin em um duelo. A morte dele chocou Lérmontov, que era seu admirador devoto. Em seu poema “A Morte do Poeta”, ele culpa a sociedade secular pelo que aconteceu. As cópias manuscritas da obra logo se espalharam por São Petersburgo. A reação das autoridades foi imediata: o jovem foi preso e enviado para a região de Cáucaso, que vivia uma longa guerra.
Os trabalhos mais famosos de Lérmontov são “O Noviço” e “O Demônio”.
Confira aqui outros cincos poemas escritos por Lérmontov
9. Mikhail Lermontov, “Mascarada” (1835)
Esta peça em versos retrata um nobre obcecado por jogos de azar e bastante ciumento, o que leva ao assassinato de sua própria esposa. Lérmontov sonhava em ver sua obra nos palcos, mas os censores não permitiram que a peça fosse encenada ou publicada. O drama apareceu pela primeira vez nos teatros russos apenas 20 anos após a morte do autor e até hoje não sai dos palcos mundo afora.
10. Nikolai Gógol, “Noites na Granja ao Pé de Dikanka”(1829-1832)
Assírio & Alvim, 2004
“Noites na Granja ao Pé de Dikanka” (contos inspirados no folclore ucraniano) é a obra de estreia literária do jovem Nikolai Gógol (1809-1852). As histórias se passam em pequenas aldeias no território da Ucrânia. Gógol usa muitas palavras ucranianas, imagens do folclore local, descreve os costumes regionais e o modo de vida do povo. As histórias são bem diferentes – desde a alegre “A Noite Antes do Natal” até o terror “Vingança Terrível”. Todas elas descrevem espíritos malignos, demônios e bruxas. Esse livro foi calorosamente recebido pelos contemporâneos. Púchkin, por exemplo, ficou encantado com a vivacidade da linguagem de Gógol.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
11. Nikolai Gógol, “Tarás Bulba” (1835)
Editora 34, 2011
Esta história é vista como uma continuação das “Noites na Granja ao Pé de Dikanka”. Os dois livros não estão conectados em termos de enredo, mas ambos são baseados no folclore ucraniano. “Tarás Bulba” conta a história de um cossaco e seus dois filhos e narra as violentas batalhas travadas no século 16 entre os cossacos e os poloneses. “Eu te dei a vida, e sou eu quem te mato” — é uma frase de Bulba que entrou para o cânone dos aforismos russos. Esta história incrivelmente dramática sobre amor e traição é considerada um dos pilares da literatura russa moderna.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
12. Nikolai Gógol, “Almas Mortas” (1835)
Editora 34, 2018
Gógol chamou esta obra de poema escrito em prosa. O livro se debruça sobre as aventuras do herói através de vários “círculos do inferno” repetidos, bem como longas digressões líricas sobre a Rússia e os russos. Por isso, é considerado o ápice da criatividade de Gógol e uma das principais chaves para a compreensão da alma russa.
De acordo com o enredo, o ex-funcionário público Pável Tchítchikov é um homem muito comum. Ele chega a uma cidade provinciana desconhecida e finge ser um proprietário de terras, visitando outros fazendeiros locais e pedindo algo muito estranho: Tchítchikov quer comprar servos (ou “almas”, como são chamados no livro) que já morreram… Isso porque, no século 19, antes da abolição da servidão na Rússia, havia revisões anuais dos servos. Porém, se um servo morresse entre duas revisões, ele era considerado vivo até a seguinte. Tchítchikov queria uma certa quantidade de “almas mortas” para ser considerado um grande proprietário, o que elevaria o seu status social — seu plano era vendê-los a um banco como vivos. A maior parte da narrativa trata das andanças de Tchítchikov de um senhorio ao outro. Todos são bem diferentes (mas refletem personagens verdadeiramente russos), assim como suas propriedades, e cada um reage de maneira distinta à proposta inusitada.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
13. Nikolai Gógol, “O Capote” (1841)
Editora 34, 2015
Esta história, que faz parte da coleção “Histórias de São Petersburgo”, aborda pela primeira vez na literatura russa o tema do chamado “pequeno homem”. Um cidadão comum chamado Akáki Akákievitch recebe o título de conselheiro titular, integrando a nona classe na hierarquia do serviço público russo (na qual o funcionário passa a vida inteira trabalhando sem jamais experimentar nenhuma mobilidade social). Ele gasta todo o seu dinheiro costurando um novo sobretudo, que imediatamente é roubado. Ele não se rebela, mas sofre silenciosamente e enlouquece.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
14. Nikolai Gógol, “O inspetor geral” (1835)
Editora Peixoto Neto, 2007
Uma das principais comédias russas sobre corrupção, bajulação e a atitude das autoridades em relação às pessoas comuns, escrita na forma de uma peça, é encenada até hoje em um grande número de teatros do mundo.
De acordo com a trama, uma cidadezinha russa está à espera da visita secreta de um oficial da capital que irá realizar uma inspeção. No entanto, um funcionário de alto escalão que acidentalmente foi parar na cidade é confundido com o importante inspetor geral. O aventureiro não tem pressa em dissuadir o prefeito e seus subordinados de seu engano — pelo contrário, ele decide usar seus serviços, aceita subornos e até planeja se casar com a filha do prefeito.
“O inspetor geral” é a obra-prima dramática de Gógol. O tema do livro, baseado no provérbio popular “A culpa não é do espelho se a cara é torta”, foi sugerido por Púchkin. Considerada a primeira comédia realista, esse texto só estreou em São Petersburgo graças ao inesperado apoio do tsar Nicolau 1º.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
15. Vassíli Jukôvski, Poemas
Vassíli Jukôvski (também grafado como Jukovsky em português) é considerado o pai do romantismo russo. O poeta escreveu muitas elegias, canções, romances, baladas e poemas épicos. Suas obras mais famosas são os poemas “Svetlana” (1812), “Ludmila” (1908) e “As doze donzelas adormecidas” (1810-1817), a qual o autor se refere como “uma velha história em duas baladas”.
16. Vladímir Odoiévski, “Noites Russas” (1844)
Vladímir Odoiévski (também grafado como Odoievsky em português) escreveu romances filosóficos profundos e foi o primeiro do gênero na literatura russa. Não é estudado nas escolas, mas se tornou um grande evento na literatura do século 19. É impossível classificar claramente o gênero da sua obra “Noites Russas”, que inclui conversas entre intelectuais refletindo sobre tópicos diversos.
17. Antóni Pogorélski, “A Galinha Preta” (1825-1826)
SM, 2012
Antóni Peróvski, que ficou conhecido sob o pseudônimo Pogorélski, era um nobre militar que se interessava por literatura e um grande admirador do escritor alemão de contos de fadas românticos Ernst Theodor Amadeus Hoffmann.
O livro “A Galinha Preta” relata a história sobre Aliocha, aluno de um internato em São Petersburgo. Depois de salvar da panela a galinha Farrusca, o menino descobre um fantástico mundo subterrâneo, habitado por homenzinhos de trinta centímetros. Ali, Farrusca é uma importante ministra.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
18. Evguêni Baratínski, “Baile” (1828)
Na história da literatura russa, Baratínski sempre permaneceu na sombra de seu famosíssimo amigo Aleksandr Púchkin. No entanto, seus contemporâneos valorizavam muito os poemas e versos de Baratínski, famosos por suas rimas fáceis e elegantes. No poema “Baile”, ele descreve a vida social de Moscou no início do século 19.
19. Serguêi Aksakov, “Crônica da Família” (1840-1856)
Aksakov foi um grande publicitário, crítico de teatro e censor. Sua trilogia “Crônica da Família” não é apenas uma autobiografia, mas uma descrição muito detalhada do sistema social e da vida dos proprietários de terras da Sibéria no século 19.
20. Aleksêi Tolstói, “Príncipe Serébrenni” (1859-1861)
O romance histórico “Príncipe Serébrenni” (também conhecido em português como “O Cavaleiro de Prata”) retrata os acontecimentos do século 16, época do reinado de Ivan, o Terrível (1530-1584). O livro conta as aventuras de Nikita Serébrenni, um príncipe russo fictício, cercado por personagens reais da época, incluindo o tsar e a “oprítchnina”. O livro é baseado em documentos históricos reais, e foi muito elogiado por historiadores e críticos.
21. Lev Tolstói, “Anna Kariênina” (1873-77)
Editora 34, 2021
Lev Tolstói é provavelmente o maior escritor russo e o mais famoso no exterior. Fora da Rússia, a sua obra mais popular é o romance “Anna Kariênina”, que foi adaptado diversas vezes para as telonas. A incrível história de uma mulher que desistiu de tudo por amor. Neste romance, Tolstói concentra-se na natureza da felicidade e da infelicidade na vida familiar. Com maestria, o autor conduz o leitor por um salão repleto de música, perfumes e vestidos de renda, em um ambiente de imagens vívidas e quase palpáveis que têm como pano de fundo a Rússia tsarista. Por outro lado, acompanhamos o proprietário de terras Lióvin ― alter ego de Lev Tolstói ― em sua busca pelo ideal de uma vida feliz no campo ao lado da jovem Kitty, bem como seus dilemas intelectuais em torno da fé e da justiça social.
Leia o curto resumo dessa obra-prima no nosso site aqui, ou, se já estiver familiarizado com o livro, confira o guia peculiar sobre o complexo romance tolstoiano, que analisamos ponto a ponto aqui.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
22. Lev Tolstói, “Guerra e Paz” (1863-69)
Companhia das Letras, 2017
“Guerra e Paz” é reconhecido como um dos trabalhos literários mais importantes da história mundial. Essa obra-prima de Tolstói é um romance épico em quatro enormes volumes. Ao acompanhar o percurso de cinco famílias aristocráticas russas no período de 1805 a 1820, Tolstói narra a marcha e a derrota das tropas napoleônicas e seu impacto brutal sobre a vida dos personagens e sobre toda a história da Rússia. Com incrível maestria, Tolstói descreve o amor jovem, a traição, a infidelidade, a morte e as guerras sem sentido, além de oferecer uma descrição detalhada, profunda, colorida e historicamente precisa de Napoleão, do imperador russo Alexandre 1º, do general Kutuzov e de outras figuras históricas.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
23. Lev Tolstói, “Contos de Sebastopol” (1855-1856)
Editora 34, 2024
Entre outubro de 1854 e setembro de 1855 houve um dos acontecimentos mais dramáticos da Guerra da Crimeia: o cerco à cidade de Sebastopol (também grafada como Sevastopol em português), em que o Exército do Império Russo, que havia tomado a Crimeia dos turcos, viu-se sitiado pelas tropas enviadas pela Inglaterra e pela França. Um mês após o início do cerco, chega a Sebastopol um jovem oficial da nobreza russa, Lev Tolstói, que tinha então 26 anos de idade e havia acabado de publicar seu primeiro livro. Em sua obra “Contos de Sebastopol”, Tolstói descreve os horrores da guerra e tenta encontrar uma explicação por que a humanidade não consegue evitar tais conflitos.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
24. Lev Tolstói, romances e contos (“Cossacos”, “Hadji Murat”, “A Morte de Ivan Ilitch” etc.)
Relógio D’Água, 2009
Em 1851, aos 22 anos, Tolstói juntou-se ao Exército russo e viajou pelo Cáucaso. Os quatro anos que se seguiram influenciaram profundamente diversas obras do maior romancista russo; entre elas, “Cossacos” (1862) e “Hadji Murat” (1896-1904).
Editora 34, 2009
As tramas são baseadas em histórias reais, temperadas com fantasias sobre amor, honra e traição. Em seus contos e novelas, ele também reflete sobre a morte; por exemplo, em “A Morte de Ivan Ilitch” (1882-1886), o autor tenta encará-la de frente.
25. Ivan Gontcharov, “Oblomov” (1847-1859)
Companhia das Letras, 2020
Este romance sobre a preguiça russa introduziu o conceito de “Oblomovismo” na linguagem coloquial. O herói principal dessa obra de Ivan Gontcharov, muito popular entre os russos até hoje, é Iliá Oblomov, que não faz nada e mal sai do sofá. Ele é um nobre rico, proprietário de terras que não precisa servir ou trabalhar. Seu fiel servo faz tudo por ele, assim como o seu oposto, o ativo Andrêi Stolz. A única coisa na vida que faz Oblomov emergir brevemente de seu “sono” é o amor. Mas será que ele conseguirá levar isso para um casamento? O autor não condescende nem com o preguiçoso Oblomov, que idealiza a resistência passiva aos ideais de produtividade que chegam à Rússia em meados do século 19, nem com o racionalista Stolz. Leia mais sobre a tradução de “Oblomov” para português aqui.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
26. Fiódor Dostoiévski, “Os Irmãos Karamazov” (1878-1880)
Editora 34, 2019
Fiódor Dostoiévski é, provavelmente, o segundo escritor russo mais conhecido no exterior. Um dos seus romances mais importantes, que combina suas reflexões sobre fé, moralidade, dever e amor, é “Os Irmãos Karamazov” (também grafado como Karamázov em português). Esta história escrita em estilo de detetive é baseada em um escândalo real: um dos três filhos é acusado de assassinar o pai. O livro é repleto de reflexões psicológicas e religiosas, mas também é um romance policial intrigante. Fiódor Karamazov tem três filhos, mas eles nunca tiveram boas relações com o pai. Até que um dia o pai é morto e um deles é suspeito do crime — que teria sido cometido por causa de uma mulher e por dinheiro —, mas nem tudo é tão simples como parece. Neste romance, o escritor inclui uma longa cena de julgamento e discursos de testemunhas e mantém o leitor em suspense até o final. Leia um resumo curto desse livro no nosso site.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
27. Fiódor Dostoiévski, “Diário do subsolo” (1863)
Martin Claret, 2019
O “Diário do subsolo” foi uma obra inovadora em gênero, forma e conteúdo. É um romance existencialista que influenciou as distopias do século 20 — uma história filosófica, confessional e trágica sobre a natureza dos nossos desejos.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
28. Fiódor Dostoiévski, “O Idiota” (1868)
Editora 34, 2020
Dostoiévski é famoso por retratar pessoas cruéis e imorais, porém, no romance “O Idiota” ele conseguiu mostrar não só um personagem positivo, mas uma pessoa quase ideal, com características próximas às de Jesus Cristo. Nele, o ingênuo e confiante príncipe Míchkin atravessa as complexidades de um círculo social restrito de São Petersburgo. Visto como uma ovelha negra por pessoas corrompidas e corruptoras, ele não desiste de seu amplo amor. Mesmo em uma mulher que todos consideram “caída”, o herói tenta encontrar as características mais belas e se enche de uma sincera simpatia.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
29. Fiódor Dostoiévski, “Crime e Castigo” (1865-66)
Editora 34, 2016
“Crime e Castigo” é provavelmente o romance mais popular de Dostoiévski. Na Rússia, conhecer o enredo e o significado do livro é considerado importante para quem quer ser uma pessoa culta. O romance é muito sombrio, cheio de reflexões psicológicas e descrição de pessoas do pior tipo. O pobre estudante Rodion Raskólnikov mal consegue sobreviver e é forçado a pedir dinheiro emprestado a uma senhora idosa. Cansado da vida na pobreza, ele decide provar a si mesmo que é o mestre de seu próprio destino; assim, ele decide cometer um crime – matar a velha. Dostoiévski reflete sobre a natureza da violência e sobre as circunstâncias que podem forçar uma pessoa a tomar medidas extremas. Este romance também é uma importante declaração sobre a busca pelo sentido da vida.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
30. Ivan Turguêniev, “Memórias de um caçador” (1847-1851)
Editora 34, 2013
O romancista, poeta, tradutor e divulgador da literatura russa no Ocidente Ivan Turguêniev nasceu em 9 de novembro de 1818 na cidade de Oriol, então parte do Império Russo. No exterior, as obras de Turguêniev são menos conhecidas do que as de Tolstói ou Dostoiévski, mas na Rússia ele é considerado um escritor da mesma importância, e todos os alunos de escolas no país leem suas obras.
As “Memórias de um caçador” foram escritas por Turguêniev com base em histórias reais que ele ouviu na propriedade da família. O escritor descreve diversos personagens do interior da Rússia com seus problemas e dificuldades da vida. As histórias foram publicadas uma a uma em edições da revista literária “Sovremennik” e depois saíram como um livro separado. O trabalho foi considerado inovador: Turguêniev seria o primeiro a ter uma visão tão ampla do povo russo.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
31. Ivan Turguêniev, “Águas de primavera” (1872)
Amarilys Editora, 2015
Sánin viaja pela Europa e conhece uma jovem italiana, apaixonando-se gradualmente por ela. Embora pense em se casar com ela, Sánin viaja para sua terra natal a negócios, onde é seduzido por uma nobre dama. O escritor deu origem a um fenômeno que passou a ser chamado de “garota Turguêniev”. Isto é, jovens criadas em propriedades rurais que passavam muito tempo lendo livros. São sonhadoras, mas muito bem-educadas, modestas e inteligentes; parecem frágeis, porém, eventualmente demonstram uma personalidade muito mais forte do que os homens. São francas e seguras, e os homens geralmente não suportam essas características e acabam fugindo.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
32. Ivan Turguêniev, “Ninho de Fidalgos” (1856-1858)
L&PM, 2019
O nobre Lavrétski vivia por um longo período de tempo em Paris, mas, depois de ser trocado pela mulher, ele volta para a propriedade da família na Rússia central. Ali, ele se apaixona pela jovem e profundamente religiosa Liza. Porém, quando acaba de declarar seu amor e expor seus sentimentos, ele descobre que a sua mulher retornou… Este romance, com tom decadente, trata da degeneração do “ninho dos fidalgos”: o abandono de propriedades, a vida e as pessoas, nunca plenas. Antes, ali se fazia música, discutia-se literatura e política, e agora todos partiram para o exterior ou se mudaram para as cidades grandes. “Até as próprias pessoas como que decaíram”, escreve, de maneira nostálgica, Turguêniev.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
33. Ivan Turguêniev, “Pais e filhos”, (1860-1861)
Companhia das Letras, 2021
Turguêniev se tornou popular graças aos seus romances realistas. O mais famoso deles é “Pais e Filhos”, que aborda a problemática de duas gerações que jamais se entenderiam (e nem tentam). O intelectual e sombrio Bazarov viaja com seu jovem amigo otimista para visitar o pai e o tio do último. Lá, eles conversam, mas não conseguem chegar a um consenso: a geração mais jovem insiste em seu ponto de vista sobre o mundo, na negação das regras de decoro, moral e até Deus. Mas a geração mais velha não aceita esses novos pontos de vista. Em sua negação de tudo, Bazarov rejeita também o amor de uma mulher inteligente e independente. Foi a partir deste livro que a sociedade russa tomou ciência da existência de indivíduos como Bazarov: os niilistas. Turguêniev também ridicularizou a emancipação e introduziu uma personagem caricatural: a dama que fuma e que cita, fora de contexto, pensamentos absorvidos de livros inteligentes.
Qualquer pessoa que conheça pelo menos um pouco da literatura russa já ouviu falar deste romance. O seu título passou a ser empregado no cotidiano e até se tornou uma expressão. Graças ao romance, os russos pensam e repensam filosoficamente na eterna questão dos “pais e filhos”.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
34. Nikolai Nekrasov, poemas
Nekrasov é um dos autores cuja alma sofreu copiosamente em relação ao destino da Rússia. Ele escreveu o poema épico “Komú na Rusí jit khoroshô” (em tradução livre, “Para quem é bom viver na Rússia?”, publicado em inglês como “Who can be happy and free in Russia?”), em que sete homens viajam e buscam pessoas felizes sem encontrar nenhuma. Outro poema épico seu é “Rússkie jênschini” (em tradução livre, “Mulheres russas”), que conta a história de mulheres que seguem no exílio à Sibéria os seus maridos dezembristas – os membros da primeira revolução, que falhou. Após a obra, “mulher de dezembrista” (em russo, “jená dekabrista”) virou uma expressão idiomática com o significado de uma esposa pronta a seguir seu marido e acompanhá-lo em qualquer situação problemática. Nekrásov também foi editor-chefe de duas revistas influentes da época, a “Sovremênnik” (em tradução livre, “Contemporâneo”), fundada por Aleksandr Púchkin, e a “Otêtchestvennie zapiski” (“Notas patrióticas”). Suas obras não foram publicadas em português.
35. Fiódor Tiutchev, poemas
Um dos mais renomados poemas de Tiútchev discorre tão intrinsecamente sobre a essência russa que ele não poderia ficar de fora desta lista. Tiútchev escreveu os chamados “fragmentos”, reflexões poéticas e contemplações da natureza. Admirar o céu era um de seus principais motes, enquanto outra parte de seus trabalhos é dedicada ao amor. A bibliografia deste autor não foi publicada em português, porém é possível encontrar seu “Silentium!” em espanhol.
36. Afanási Fet, poemas
Fet e Fiódor Tiútchev são normalmente objeto de estudo conjunto nas escolas russas. Fet é um poeta romântico e seus principais temas são a natureza, o amor, a beleza e a arte. Ele também verteu para o russo “Fausto”, de Goethe, “Metamorfoses”, de Ovídio, poemas de Cátulo e muitas outras obras da antiguidade. Fet também chegou a planejar uma tradução completa da Bíblia. Suas obras não foram publicadas em português.
37. Dmítri Grigorôvitch, “Garoto de guta-percha” (1882)
Esse conto comovente discorre sobre a triste existência dos pobres na Rússia. O personagem principal é um menino órfão que trabalha como acrobata em um circo, onde surpreende o público com sua flexibilidade. A história de seu destino é contada por meio das impressões de Vera, uma menina de uma família rica que vai ao circo para assistir à apresentação e testemunha a morte do protagonista. A obra não foi traduzida para português.
38. Vladímir Korolenko, “O Músico Cego” (1886)
Carambaia, 2019
“O Músico Cego” é uma das obras mais conhecidas do escritor Vladímir Korolenko. O romance conta a história de Piótr Popélski, um garoto que não enxerga desde nascença. A novela mostra a trajetória do menino, suas sensações e reações, entre a luz e a escuridão, e sua sensibilidade e aptidão em relação à música. A história oferece uma análise psicológica da vida e dos sentimentos de um homem cego que aprende sobre o mundo por meio da música. O próprio Korolenko definiu o gênero como um “estudo”.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
39. Vsevolod Gárchin “Flor Vermelha” (1883)
Gárchin deu sequência ao trabalho dos escritores de prosa da segunda metade do século 19 penetrando profundamente na psique humana. Uma de suas histórias mais importantes é a autobiográfica “Flor Vermelha”, uma incrível imersão no mundo interior de uma pessoa com doença mental.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
40. Nikolai Leskov, Contos e novelas (“Lady Macbeth do distrito de Mtzensk”, “O peregrino encantado”)
Editora 34, 2009
Apesar de listado entre os gigantes clássicos do século 19, Leskov não conquistou o devido reconhecimento fora da Rússia. Ele era o autor favorito de Tchékhov, e Maksím Górki o equiparava a Gógol, Turguiênev e Tolstói. A maior parte dos estrangeiros que o conhecem, porém, relacionam seu nome à ópera de Chostakóvitch baseada em seu conto “Lady Macbeth do distrito de Mtsensk” (publicado no Brasil pela editora 34 e também na antologia “Contos Russos Vol. II”, da Martin Claret).
Ele também escreveu “O peregrino encantado” (que saiu em português pela editora Nova Vega), um romance pitoresco sobre Ivan Fliáguin, nascido servo e conhecedor de cavalos que conta suas experiências próximas da morte. Ele trabalha como cocheiro, soldado, ator e babá (“russos conseguem fazer tudo”, diz o homem que lhe dá este trabalho). Assim, conhece aristocratas alcoólatras com poderes sobrenaturais e vendedores de cavalos tártaros, assim como príncipes impotentes e ciganos.
41. Aleksêi Písemski, “Mil Almas” (1853-1858)
Editora Futura, 1974-75
“Mil Almas” é um exemplo do naturalismo na literatura russa, no qual prevalece o contexto “empresarial” e não o moral. Um escritor pobre é enviado para trabalhar em uma escola de uma cidade pequena. Ele é um carreirista cínico que rejeita uma simples garota provinciana apaixonada por ele e se casa com uma velha e rica proprietária de terras. Sua posição na sociedade e sua fortuna começam a crescer rapidamente, quando de repente começa a ser dominado por dúvidas. É então que o escritor repensa sua vida e se torna um lutador pela justiça.
Este livro pode ser encontrado: Leituria
42. Nikolai Polmialôvski, “Ensaios sobre o Burso” (1863)
Polmialôvski é considerado um dos mais importantes realistas russos do século 19, cujas obras, segundo os especialistas em literatura, seguem subestimadas até hoje. Ele escreveu sobre a vida de heróis do povo e, paralelamente, descreveu de forma negativa a vida da nobreza e da burguesia. Ele tinha especial interesse pela questão da educação dos jovens. “Ensaios sobre o Burso” é uma história sobre a vida dos estudantes de um burso, ou seja, um seminário teológico. O autor descreve castigos corporais, crueldade e leis severas que reinam no dormitório dos jovens.
A obra não foi traduzida para o português.
43. Mikhail Saltikóv-Schedrín, “A Família Golovliov” (1880)
Relógio D’Água, 2010
Saltikóv-Schedrín é um dos autores mais controversos de sua época. Descrito por seus contemporâneos como “o escritor do sarcasmo e da análise corrosiva”, ele era intransigente em seus ácidos ataques satíricos contra a sociedade e o Estado.
No romance “A Família Golovliov”, completamente implacável com seus personagens, Saltikóv-Schedrín descreve a vida sem esperança dos proprietários de terras. Este é um romance sobre o empobrecimento e a morte de uma família nobre e de toda a nobreza russa. O autor apresenta um “ninho nobre” sob um novo ponto de vista — não um bastião idílico de valores familiares, mas a decadência e a devastação da vida dos proprietários de terras, com toda a sua apatia e hipocrisia. Talvez este seja o primeiro exemplo na literatura russa de relacionamentos tóxicos dentro de um contexto familiar. A mãe autoritária e temperamental, o filho preguiçoso que perdeu todo o dinheiro da família, a filha que fugiu com um hussardo. O romance foi um incrível sucesso na época de sua publicação.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
44. Mikhail Saltikóv-Schedrín, “A História de uma Cidade” (1870)
Em 1870, Saltikóv-Schedrín publicou uma novela satírica intitulada “Istória odnogô góroda” (em tradução livre, “A História de uma Cidade”), desviando seu olhar irônico em relação às províncias diretamente para os círculos do governo. Aqui, o tsar e seus ministros são apresentados como prefeitos das cidades, e a cidade imaginária em questão, Glúpov (em tradução literal, algo como “dos tontos”) torna-se símbolo do regime.
A obra não foi traduzida para português.
45. Anton Tchékhov, contos e histórias (“Na Ravina”, “A dama do cachorrinho”, “Enfermaria N. 6”, “Kachtanka” etc.)
Boa Companhia, 2015
O nome deste grande escritor russo está associado sobretudo ao teatro. Mas ele não era apenas um dramaturgo incrível, como também um gênio dos contos. Anton Tchékhov nunca escreveu obras longas, mas publicou mais de 500 contos e 17 peças, que ainda são encenadas em teatros mundo afora.
Entre os contos curtos de Tchékhov estão aqueles que as crianças russas aprendem ainda no primário. Por exemplo, “Kachtánka”, a história de uma cachorrinha perdida que vai parar na casa de um palhaço. Ele ama a nova amiguinha de quatro patas, e ela parece ser realmente muito esperta. O palhaço e a cadela começam a se apresentar juntos, mas durante uma apresentação Kachtánka vê seu dono original e corre para ele, toda contente.
Outros contos de Tchékhov podem ser encontrados: Amazon
46. Anton Tchékhov, peças (“Três Irmãs”, “O Jardim das Cerejeiras”, “A Gaivota”)
Penguin-Companhia, 2021
“O jardim das cerejeiras” (L&PM), “As três irmãs” (ed. Global, Abril, Nova Cultural, Círculo do Livro, Peixoto Neto, Relógio d’Água, Assírio & Alvim) e “Tio Vânia” (Relógio d’Água, L&PM, Autêntica,) estão entre as peças mais encenadas no mundo todo. Todas estrearam no Novo Teatro de Arte de Moscou, que hoje leva o nome de Tchékhov. Todos os papéis de protagonistas femininas foram interpretados por Olga Knipper, jovem atriz com que Tchékhov se casou.
“O Jardim das Cerejeiras”, de 1903, é a obra mais popular do autor e uma das peças mais encenadas na história mundial. A protagonista Ranêvskaia é uma nobre que vive na França há anos com seu amante. Após gastar todo o seu dinheiro, ela eventualmente vai à falência. Ela então retorna à Rússia acompanhada da filha de 17 anos. Sua enorme propriedade foi hipotecada, porém Ranêvskaia gastou o empréstimo e não pagou os juros. Com isso, o banco coloca a propriedade, incluindo o enorme jardim de cerejeiras da família, em leilão. Um amigo da família chamado Lopakhin faz uma visita e sugere que Ranêvskaia corte o enorme jardim de cerejeiras e divida a terra em lotes, para alugá-los separadamente e ganhar dinheiro com isso. Ranêvskaia recusa o plano e diz a Lopakhin que este jardim de cerejeiras é uma relíquia de família. Quando chega o dia do leilão, para surpresa de todos, Lopakhin compra a propriedade com o jardim de cerejeiras. A peça termina ao som de machados cortando as árvores.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
47. Maksim Górki, “Ralé” (“No fundo”) (1902)
Veredas, 2007
Maksim Górki (também conhecido como Máximo Górki e Maxim Gorky em português) foi o principal escritor do início da União Soviética e louvava a primeira Revolução Russa de 1905. Ele é conhecido como o maior escritor proletário, tinha o apoio da propaganda soviética e dos líderes da URSS e entrou para a história como um dos principais escritores do regime. “Ralé”, também traduzida como “No fundo” e “No subsolo” para português é a peça mais famosa do escritor, apresentando, de forma inédita na dramaturgia russa, um olhar solidário para com o sofrimento dos miseráveis, resgatando a humanidade dos excluídos da sociedade: ladrões, ex-presidiários, prostitutas, tuberculosos, bêbados, nobres decaídos e oprimidos de toda espécie. Depois de ler este drama, o surpreso Lev Tolstói escreveu a Górki: “Por que você está escrevendo sobre isso?”. O maior escritor russo não imaginava que o público se interessaria por uma peça sobre um abrigo noturno para moradores de rua, que mostrava prostitutas e alcoólatras sem censura. No entanto, o drama sombrio fez grande sucesso tanto na Rússia como no exterior.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
48. Maksim Górki, romances e contos (“A Velha Izerguil”, “Infância” etc.)
Editora Hedra, 2010
A prosa de Górki, assim como o drama, impressiona pela “trivialidade” do conteúdo, pela denúncia da vida real. Mas há também histórias verdadeiramente mágicas, como “A Velha Izerguil” ou a primeira parte da sua trilogia autobiográfica “Infância”. É um relato incrivelmente vívido e colorido da vida e do crescimento de um menino na cidade de Níjni Nôvgorod. O amor materno, as pancadas do avô, a “escola da vida” nas ruas — Górki, que tinha vivenciado isso tudo pessoalmente, descreve a vida provinciana russa de forma cativante.
49. Ivan Búnin, romances e contos (“Alamedas Escuras”, “O Amor de Mítia”, “Dias Malditos” etc.)
ARS ET VITA, 2024
Ivan Búnin venceu o Nobel de Literatura de 1933 “pelo talento artístico cuidadoso com que levou as tradições russas clássicas ao escrever prosa”. Ele poderia ser considerado o último escritor russo do século 19 e não aceitava o bolchevismo, apoiando o exército branco na Guerra Civil. O escritor deixou a Rússia e emigrou para a França em 1920 e publicou seus diários sob o título de “Dias malditos”. A obra, cheia de ódio aos bolcheviques e desilusão com a revolução, foi proibida na URSS até a perestroika. Búnin considerava como uma de suas melhores obras uma antologia de contos curtos intitulada “Alamedas escuras”. Aliás, é considerado um mestre inigualável da prosa curta e plástica. Ele se revelou o mais ousado de todos os romancistas russos em sua descrição do amor sensual. “Provavelmente cada um de nós tem alguma lembrança de amor particularmente querida ou algum pecado de amor particularmente grave”, escreveu.
Entre suas obras publicadas em português, também estão “O amor de Mítia”, “Insolação”, “A aldeia” (Cruzeiro) e “A noite”.
50. Ivan Búnin, “A Vida de Arseniev” (1929)
Segundo Búnin, foi este romance que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura. O escritor Konstantin Paustôvski qualificou “A Vida de Arseniev” como um dos fenômenos mais notáveis da literatura mundial. O personagem principal, Aleksêi Arseniev, relembra nas páginas do livro sua infância e juventude, cheias de reviravoltas, e seu primeiro grande caso de amor, que terminou em tragédia.
A obra não foi traduzida para português.
51. Leonid Andreev, Histórias e contos (“Judas Iscariotes”, “Riso Vermelho” etc.)
Sistema Solar, 2020
A prosa de Andreev é uma mistura de misticismo e religião, existencialismo e simbolismo. Seu estilo é inconfundível. No conto “Riso Vermelho”, escrito no auge da Guerra Russo-Japonesa, o autor reflete sobre os horrores do conflito. O narrador, um oficial de artilharia, se vê no meio das batalhas. Ele é perseguido por um “riso vermelho”, uma metáfora sangrenta para uma guerra sem sentido — que é chamada de “terrível gelo morto”, “ar vermelho” e “loucura genuína”.
Este livro pode ser encontrado: Wook
52. Leonid Andreev, “A Vida do Homem” (1906)
O escritor simbolista tentou encontrar uma nova forma de dramaturgia: a peça é escrita em um estilo livre e contém várias cenas que mostram esquematicamente a vida humana do nascimento até a morte.
A obra não foi traduzida para português.
53. Dmítri Merejkôvski, “Leonardo da Vinci” (1901)
(zero papel), 2013
Merejkóvski era filho de um conselheiro pessoal do tsar Alexandre 2º. Suas residências na infância — uma datcha com ares de palácio na Ilha Ielaguin, em São Petersburgo, e uma propriedade em estilo clássico na Crimeia, entre as montanhas e o mar — encheram a imaginação de Merejkóvski com muito material pitoresco para ser trabalhado.
Ele é considerado um dos primeiros escritores simbolistas russos. No romance “Leonardo da Vinci”, o autor descreve não apenas a vida do grande mestre, mas também todo o Renascimento, discute o poder da arte, da religião e dos novos valores humanísticos que substituíram a Idade Média.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
54. Fiódor Sologub, “O Pequeno Demônio” (1892-1902)
Kalinka, 2018
Sologúb é uma figura de destaque na literatura, sendo altamente original, embora seja considerado um sucessor de Gógol e Dostoiévski. Sologúb passou toda uma década escrevendo seu romance mais popular, “O Diabo Mesquinho” (no Brasil, o título saiu pela editora Kalinka), que terminou em 1902. O protagonista, um professor provinciano chamado Peredonov, é um homem difícil, covarde e insuportavelmente banal que tem prazer em machucar os outros e mal consegue esconder sua loucura sob um véu de homem de respeito. Uma das personagens mais formidáveis do romance não é nem uma pessoa, mas sim a alucinação de Peredonov — uma criatura chamada Nedotikomka. O escritor se mantém na linha do realismo, porém, consegue descrever a vida cotidiana sutil e mística na província, fazendo um balanço entre os sonhos e a realidade, o medo e o desespero, sentimentos tão fortes em cidades dos rincões do país.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
55. Alexandre Blok, poemas
Blok é um dos poetas mais famosos e importantes do início do século 20. Sua influência é enorme e conhecê-lo era o sonho de todos os russos. Seus “Versos sobre uma mulher bonita” são a quintessência do simbolismo russo, do qual ele foi um dos principais criadores e seguidores.
Nos primeiros anos da revolução, Blok apoiou ativamente o novo governo e elogiava o regime. No poema “Os Doze” (1918), o poeta apresenta a revolução como um apocalipse, no lugar do qual surge um novo mundo. Os heróis do poema, 12 soldados do Exército Vermelho, ou seja, 12 “apóstolos” da nova fé, sacrificam vidas humanas em prol da nova era. Jesus Cristo caminha à frente dos soldados do Exército Vermelho, usando uma “coroa branca” de rosas. Há diferentes interpretações desta imagem: ou Cristo abençoa a revolução e a lidera, ou os soldados do Exército Vermelho o expulsaram, destruindo a fé. Pouco tempo depois da revolução, porém, Blok se desiludiu com os bolcheviques, passou a beber e parou de escrever poemas.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
56. Andrei Biéli, “Petersburgo” (1913)
Ars Poética, 1992
“Ele é russo até as profundezas de seu ser, o caos russo agita-se dentro dele”, escreveu o filósofo Nikolai Berdiáiev sobre Andrei Biéli, escritor simbolista e herdeiro das tradições de Dostoiévski e Gógol. “Petersburgo” é uma obra modernista abstrata, um romance de viagem no qual a imagem da segunda maior cidade do país se torna uma unidade artística independente durante a primeira Revolução Russa de 1905.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
57. Vladímir Maiakôvski, poemas (“Uma Nuvem de Calças”, “Bom!” etc.)
Perspectiva, 2017
Maiakóvski foi um dos principais poetas russos da primeira metade do século 20 e um dos líderes do movimento futurista. Ele louvava a revolução e o regime soviético, e seus poemas, marcados pelo espírito rebelde e ritmo quebrado nada convencional, são populares até hoje. Inventou novas palavras, colocando-as aleatoriamente, enquanto seus versos formavam representações visuais simbólicas. O poeta também teve uma vida privada nada convencional, e a partir de 1918, viveu um triângulo amoroso com sua amante, Lilia Brik, e o marido, Óssip Brik.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
58. Óssip Mandelstam, poemas
Assírio & Alvim, 2023
Mandelstam é um dos principais poetas russos do século 20 e, talvez, o mais complexo: seus escritos são cheios de subtextos e referências à antiguidade. Ele sofreu com o regime soviético, sendo banido, exilado e morto. Na década de 1930, o posicionamento antissoviético de Mandelstam tornou-se ruidoso demais e a publicação de seus livros foi quase proibida por completo. Em 1933, ele escreveu uma sátira antistalinista na qual havia uma frase que se tornou famosa: “Vivemos sem sentir o país debaixo de nós”. Como resultado, foi preso e enviado ao exílio, fora de Moscou. Em 1938, ele foi sentenciado a cinco anos em um campo de trabalhos forçados. Mandelstam morreu em algum ponto a caminho do Extremo Oriente Russo. Até hoje são desconhecidas as circunstâncias de sua morte e o local exato onde seu corpo foi enterrado. Entre suas obras publicadas em português, estão “Fogo errante” (Relógio d’Água), “O Rumor do Tempo e Viagem à Armênia” (Editora 34).
A antologia de prosa e poema de Mandelstam pode ser encontrada: Wook
59. Aleksêi Rémizov, “O Lago” (1905)
Rémizov foi um dos modernistas mais proeminentes do início do século 20, mas suas principais obras foram escritas em prosa, não em poesia. O seu estilo não se encaixava em nenhum gênero clássico. “O Lago” é considerado o primeiro romance existencial russo, em que o foco principal não está no enredo, mas na mudança na consciência do herói e em sua visão de mundo, que Rémizov transmite por meio do equilíbrio entre a realidade e o simbolismo.
A obra não foi traduzida para português.
60. Aleksêi Rémizov, “Estrela Acima das Estrelas” (1928)
As histórias da coleção “Estrela Acima das Estrelas” são estilizadas como folclore russo. Nelas, o escritor reescreve as passagens bíblicas sobre a criação do mundo, sobre Cristo, a traição de Judas e a negação de Pedro, sobre a caminhada da Virgem Maria pelo tormento e as conta em uma linguagem popular simples.
A obra não foi traduzida para português.
61. Marina Tsvetáeva. Poemas
Martins Fontes, 2019
Os poemas sentimentais de Marina Tsvetáieva são cheios de angústia de alguém apaixonado ou sofrendo com amores não correspondidos. Ela foi uma das poetas mais brilhantes do início do século 20, e sua vida se estendeu sobre dois mundos totalmente diferentes: o final do período tsarista de sua infância e o turbulento período inicial soviético. Devido à fome nos tempos de revolução, Tsvetáieva perdeu sua filha de três anos. Ela se suicidou assim que a Segunda Guerra Mundial começou e seu marido e a filha mais velha foram presos. Entre suas obras publicadas em português, estão “Vivendo sob o fogo” (Martins Fontes) e “Indícios Flutuantes” (Martins), além de “Depois da Rússia” (1922-1925), “Indícios terrestres” e “O diabo”, pela editora portuguesa Relógio d’Água.
Uma antologia de poemas e prosa de Tsvetáieva pode ser encontrada: Amazon
62. Vladímir Nabokov, “O Dom” (1938)
Alfaguara, 2017
Nabokov é um dos escritores russos do século 20 mais conhecidos no exterior. Ele deixou a Rússia aos 20 anos com a família porque seu pai era político e se colocou contra os bolcheviques. Mais tarde, ele estudou em Cambridge, onde começou a escrever poemas e, depois, romances. O último livro de Nabokov, escrito em russo, é considerado a sua obra-prima. Do ponto de vista filosófico, é um metarromance em que cada nova camada é imbuída de um profundo significado existencial. Não é coincidência que Nabokov tenha usado um exercício aparentemente simples de um livro de gramática escolar como epígrafe para o romance “O Dom”: “Carvalho é uma árvore. Rosa é uma flor. Cervo é um animal. Pardal é um pássaro. A Rússia é nossa pátria. A morte é inevitável”. Segundo ele, a nossa vida ainda consiste em mil detalhes contraditórios, e o atemporal “O Dom” é um romance sobre a vida, a morte e o curto período entre as duas.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
63. Vladímir Nabokov, “A Defesa Lujin” (1930)
Companhia das Letras, 2008
Este é um romance sobre um jogador de xadrez russo que é tão obcecado pelo jogo que gradualmente perde todo o contato com a realidade. Após sofrer um colapso durante uma partida crucial e passar uma temporada em um sanatório, Lujin retoma o cotidiano usando a lógica do jogo de xadrez, buscando antecipar-se a um oponente imaginário. Tomado pela necessidade de se defender, o personagem aproxima-se de modo angustiante da loucura, da alienação, e torna ainda mais aguda sua misantropia. No final, descobrimos que o romance inteiro é, de certa forma, um jogo de xadrez. O próprio Nabokov era um grande fã desse jogo e adorava resolver problemas de xadrez.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
64. Boris Zaitsev, “Casa em Passy” (1933)
Zaitsev é um dos autores mais proeminentes do início do século 20. Ele emigrou após a revolução e foi praticamente esquecido em sua terra natal. No romance “Casa em Passy”, Zaitsev descreve em detalhes a vida dos emigrantes russos em Paris e reflete sobre o lugar do povo russo no exterior.
A obra não foi traduzida para português.
65. Ivan Chmeliov, “O Ano Aceitável do Senhor” (1927-1948)
A criação deste romance autobiográfico levou 20 anos. No exílio, Ivan Chmeliov relembra a vida na Rússia, sua infância em uma família de comerciantes e oferece uma descrição detalhada da vida pré-revolucionária no Império Russo. O título do romance é uma referência a uma frase do Evangelho de Lucas do Antigo Testamento. Chmeliov encaixa toda a narrativa na estrutura do ano eclesiástico, abordando em detalhes os feriados e tradições ortodoxas.
A obra não foi traduzida para português.
66. Mikhail Ossorguin, “Sivtsev Vrazhek” (1928)
O título desse livro de Mikhail Ossorguin (também conhecido como Osorguin em português) pode ser familiar para aqueles que conhecem o centro de Moscou; os eventos do romance crônico acontecem em torno de uma casa na rua Sivtsev Vrazhek. A obra descreve a vida de um professor ornitólogo e sua neta, que gradualmente deixa de ser uma criança e se torna uma mulher adulta. Ossorguin escreveu esse romance no exílio. Logo após sua publicação, o livro foi traduzido para diversos idiomas e fez grande sucesso na Europa e nas Américas.
A obra não foi traduzida para português.
67. Mark Aldanov, “Suicídio” (1956)
Aldanov passou a vida inteira refletindo sobre eventos revolucionários: escreveu uma série de livros sobre a Revolução Francesa e Napoleão, bem como sobre o movimento bolchevique e Vladímir Lênin. O líder revolucionário é a figura central do romance histórico “Suicídio”, que oferece uma visão incomum de sua figura.
A obra não foi traduzida para português.
68. Gaito Gazdanov, “Uma Noite na Claire” (1929)
Gazdânov estreou na cena literária no final dos anos 1920, inicialmente como autor de contos. O escritor trocou a União Soviética por Paris em 1923, quando tinha 20 anos, e teve que trabalhar com o que estivesse à mão: descarregando barcaças no rio Sena, limpando locomotivas, operando máquinas na fábrica da Citroën e, por três meses, na editora Hachette. O escritor chegou a ser obrigado a morar nas ruas, até que encontrou um emprego como motorista de táxi noturno, em 1928. Foi em 1929 que sua carreira sofreu uma reviravolta, quando foi lançado em Paris seu primeiro romance, “Vietcher u Kler” (em tradução livre, “Uma noite na Claire”). Trata-se de um romance de viagem e de memórias de acontecimentos, impressões e pessoas. O personagem principal busca sua infância perdida, relembra seus entes queridos, seu primeiro amor e reflete sobre a Guerra Civil na Rússia. O livro foi muito bem recebido pela comunidade de emigrantes russos, e os críticos o comparavam a Proust e Vladímir Nabokov.
A obra não foi traduzida para português.
69. Boris Poplávski, “Apollon Bezobrazov” (1930)
Ainda jovem, Poplávski emigrou com sua família para a França durante a Guerra Civil Russa. Durante sua curta vida (Boris morreu aos 32 anos), ele escreveu várias coleções de poemas e romances simbolistas. Rico em imagens, “Apollon Bezobrazov” é escrito em estilo impressionista. O livro evoca uma série de emoções, enquanto o enredo fica em segundo plano. O tema principal é a relação do herói principal com Deus e com a morte.
A obra não foi traduzida para português.
70. Anna Akhmátova, poemas (“Poema sem Herói”, “Réquiem”)
L&PM, 2009
Anna Akhmátova é uma das autoras que moldaram a linguagem poética de gerações. Seus poemas profundos e com imagens ricas influenciaram gerações de escritores subsequentes e ainda conquistam milhões de fãs. Akhmátova conseguiu escrever um hino lírico para todas as mulheres soviéticas que esperavam por seus companheiros presos em longas filas. Entre 1935 e 1940, ela compôs seu famoso poema “Requiem” (Art Editora), dedicado à resistência do povo ao governo Stálin. Uma das passagens mais poderosas da obra é “Ao invés de prefácio”. Esta elegante musa de Modigliani chegou até a ser indicada para o Nobel. Também foi símbolo de Leningrado, onde passou os dias mais duros do cerco escrevendo poemas que não foram publicados. Durante a era Stálin, seu primeiro marido, o poeta Nikolái Gumilióv, foi morto, e seu terceiro marido, Nikolái Púnin, foi, assim como seu filho Lev Gumilióv, preso. “Toda uma geração passou por mim como se fosse sombra”, escreveu. Apesar da pobreza e saúde frágil, Akhmátova foi marcada pela generosidade e solidariedade com família e amigos.
A antologia de poemas de Akhmátova pode ser encontrada: Amazon | Relógio d’água
71. Evguêni Zamiátin, “Nós” (1920)
Editora Aleph, 2017
Zamiátin foi o primeiro escritor distópico (ou antiutópico) russo, e seu “Nós” foi escrito antes de “1984”, de George Orwell, e de “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley. A obra retrata um mundo aparentemente ideal onde o Estado Único suprimiu a liberdade em nome da felicidade. Zamiátin descreve um Estado totalitário construído sobre os princípios de controle total sobre o indivíduo. O romance se passa em um futuro distante, em uma cidade onde tudo é controlado, e os nomes e sobrenomes dos indivíduos, como em um campo de concentração, são substituídos por letras e números. Todos os cidadãos que vivem no Estado Único devem seguir uma rotina rigorosa, dia e noite, e até mesmo a ocupação do amor é rigorosamente regulamentada. A distopia foi publicada pela primeira vez na íntegra em inglês em 1924.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
72. Isaac Bábel, “O Exército de Cavalaria”, “Contos de Odessa”
Penguin-Companhia, 2015
O “Exército de Cavalaria” é uma das obras mais pungentes da literatura russa. É uma série de histórias aterrorizantes e muito realistas sobre a Guerra Civil. O chefe da cavalaria do Exército Vermelho Semion Budiónni e outros bolcheviques ficaram furiosos com esse livro, cujas qualidades artísticas foram apreciadas por muitos críticos e até pelo principal escritor proletário, Maksim Górki. Isaac Bábel, porém, se tornou um escritor muito popular graças aos seus “Contos de Odessa” sobre os gângsteres judeus e seu líder permanente Ben Krik.
73. Boris Pilniak, “O Conto da Lua Não Extinta” (1926)
Em seu livro “O Conto da Lua Não Extinta”, Boris Pilniak, um dos escritores mais famosos da então jovem URSS, escreve sobre como a liderança do Partido Comunista manda realizar uma cirurgia no comandante do Exército Vermelho Gavrilov, da qual ele não precisa de forma alguma. Os médicos também entendem isso, mas têm medo de contradizer a decisão do partido. O militar morre de envenenamento por clorofórmio durante o procedimento. Os censores soviéticos proibiram esse livro depois de verem indícios da morte do famoso bolchevique Mikhail Frunze, que, segundo rumores, havia sido organizada pelo próprio Ióssif Stálin. Pilniak escreveu no prefácio que sua história não tem nada a ver com Frunze: “O leitor não deve procurar fatos genuínos e pessoas vivas”. Isso, porém, não ajudou. O escritor foi demitido, preso e fuzilado sob acusações de ter ligações com inimigos estrangeiros e do partido.
A obra não foi traduzida para português.
74. Mikhail Bulgákov, “A Guarda Branca” (1925)
Relogio D’Agua, 2023
Bulgákov é um dos escritores russos mais populares de todos os tempos. Nasceu em uma família grande de Kiev. A atmosfera calorosa e espiritual que ele absorveu em sua infância se refletiu na lendária peça “Os Dias dos Turbins” e no romance épico “A Guarda Branca”. Este último não é apenas um romance histórico extraordinário escrito nas melhores tradições de Lev Tolstói, mas também uma saga familiar que conta a história de intelectuais russos, bem como de seus amigos e parentes, que se viram no meio dos eventos sangrentos da Guerra Civil russa no final de 1918.
75. Mikhail Bulgákov, “Um Coração de Cachorro” (1925)
Edusp, 2023
Bulgákov é cheio de humor e sátira, e outra de suas obras mais populares é “Um Coração de Cachorro” (que saiu no Brasil como “Um coração de cachorro e outras histórias”, pela editora Edusp, e em Portugal como “Coração de cão”, pela Vega). Esse romance, ambientado em meados da década de 1920, retrata o brilhante cirurgião Professor Preobrajénski, que realiza um experimento sem precedentes. Ele transplanta uma glândula pituitária (hipófise) humana em um cachorro de rua, que se transforma em humano diante de seus olhos. O homem-cachorro, porém, se comporta de forma terrivelmente imprudente: bebe, fuma, xinga, muda-se para o apartamento do professor em Moscou como se fosse seu dono e entra para o Partido Bolchevique. A sátira sobre o sistema soviético e o “novo poder do proletariado” não foi apreciada pelos censores; com isso, o livro foi proibido, sendo publicado apenas em 1987. A adaptação soviética dessa história para as telinhas é essencial para amantes da literatura e do cinema russo.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
76. Mikhail Bulgákov, “O Mestre e Margarita” (1940)
Alfaguara, 2010
“O Mestre e Margarida” (editora Alfaguara, Editorial Presença, Relógio d’Água) é um dos romances favoritos dos russos. Considerado o mais importante livro de Bulgákov, foi publicado anos após a morte do escritor. A obra tem dois enredos paralelos. No primeiro, Satã e sua comitiva chegam a Moscou nos anos 1920 para se divertir. No segundo, Yeshua (Jesus) é julgado e executado em Jerusalém há 2.000 anos. Nessa obra metafísica, Satã é uma figura ambígua, “parte daquela força que eternamente deseja o mal e eternamente faz o bem”. O diabo de Bulgákov é contrastado com o novo mal — burocracia, socialismo e despersonalização. É também um romance sobre amor sacrificial.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
77. Mikhail Chôlokhov, “O Don Tranquilo” (1928-1940)
Livros do Brasil, 1983
A grande realização de Mikhail Chôlokhov foi “O Don Tranquilo” (ed. Livros do Brasil, Dois Mundos, Lisboa), um equivalente do “Guerra e Paz” para o século 20. O clássico épico em quatro livros é leitura obrigatória e trata dos cossacos do Don durante a Primeira Guerra Mundial e a subsequente Guerra Civil, cujas vidas são permeadas de suor e sangue, crueldade e sofrimento. Chôlokhov recebeu um Nobel de Literatura “pelo poder artístico e integridade com que, em seu épico do Don, deu expressão à uma fase histórica na vida do povo russo”. Acredita-se que o comitê do Nobel tenha sido influenciado por Jen-Paul Sartre, que havia rejeitado o prêmio no ano anterior, expressando pesar pelo fato de que o prêmio não havia sido concedido a Chôlokhov.
Esta obra pode ser encontrada: Wook
78. Iliá Ilf e Evguêni Petrov, “As Doze Cadeiras” (1927), “O novilho dourado” (1931)
POMNITE BOOKS, 2021
Se você é brasileiro e já colocou os pés na Rússia, certamente conhece esta dupla do barulho. Isso porque um de seus principais personagens, o malandro Ostap Bender, que foi adaptado para TV diversas vezes, sonhava em ir ao Rio de Janeiro e Copacabana, imortalizando o Brasil na cabeça de russos e soviéticos. “As doze cadeiras” (em português saiu também sob o título “A Aventura das 12 Cadeiras”) conta a engraçadíssima história de Bender, um estelionatário que vive de mentiras e casamentos falsos para encontrar um tesouro escondido em uma de 12 cadeiras espalhadas pelo país.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
79. Mikhail Zôschenko, histórias e contos
Um dos sucessores mais bem-sucedidos da tradição de Gógol na literatura soviética, Mikhaíl Zôchenko continua pouco conhecido entre os leitores estrangeiros. Ele escreveu a maior parte de sua obra nos anos 1920 mostrando como os ideais da revolução foram substituídos por valores da pequena burguesia. As histórias de Zôchenko são contos ou anedotas: curtos, em linguagem simples, frequentemente paradoxais e sempre muito engraçados. Mesmo assim, era um dos queridinhos da elite soviética, que via sua sátira de modo ideológico, como uma denúncia do “filistinismo” e dos “sinais de nascença do velho mundo”. O seu livro “Causos Russos” foi publicado em 1988 pelas Edições Paulinas, vertido ao português por Tatiana Belinky.
80. Daniel Harms, poemas e contos
Kalinka, 2018
Outro mestre do humor, Kharms, cujo sobrenome era originalmente Iuvatchev, formou o movimento absurdista OBERIU junto com o poeta Aleksandr Vvedênski. Censurado, preso e enviado a um hospital psiquiátrico, Kharms passou fome durante o Cerco de Leningrado, em 1942, e seus escritos sobreviveram principalmente na forma de manuscritos secretos que passaram de mão em mão. Durante sua vida, Kharms não foi popular como um escritor “adulto”, sendo conhecido sobretudo como autor de poemas infantis. A maior parte de sua obra, que era conhecida por um pequeno círculo de especialistas literários, não foi publicada na URSS. Seu conto “A Velha” é o ápice de sua maestria em prosa, uma das obras mais misteriosas e ocultas da literatura russa, ecoando a tradição europeia do existencialismo de Camus e Sartre.
Entre outros títulos de Kharms já publicados em português estão “7 gatas” e “
81. Andrêi Platonov, “Tchevengur” (1928)
Ars Et Vita, 2021
Visto como um farol de criatividade da literatura soviética, este autor é extremamente complexo. Os críticos o chamam de um dos maiores prosaístas da Rússia: Brodsky comparou Platonov com Proust, Kafka e Beckett. O autor decifrou o plano utópico soviético para construir uma sociedade socialista, expondo em detalhes o absurdo burocrático da ideologia vigente. “Tchevengur” é o único romance completo de Platonov que oferece uma visão dos bastidores da URSS. O título se refere a uma cidade utópica onde o comunismo está sendo aplicado em velocidade recorde. Como resultado, uma catástrofe aguarda a todos; Platonov, que testemunhou a coletivização de Stálin, a descreve com frieza e inteligência. O romance escrito em 1928 foi publicado na íntegra na URSS pela primeira vez apenas em 1988.
Este livro pode ser encontrado: Livraria da Travessa
82. Andrêi Platonov, “A Escavação” (1930)
“A Escavação” é o romance mais conhecido de Andrêi Platonov, escrito em 1929, mas também publicado na Rússia somente após 1988. Essa obra sombria e perturbadora discorre sobre as “vantagens” do comunismo na URSS. A desoladora história satírica descreve um grupo de trabalhadores do início do regime tentando fazer uma fundação para um enorme edifício que jamais é erguido. Platonov retrata fome e morte, trabalhadores, camponeses e funcionários burocráticos completamente desprovidos de qualquer tipo de sentimento, dia e noite realizando sua construção sem fim e sem sentido. É uma sátira dura ao stalinismo e ao sistema burocrático opressivo que destrói a esperança e a fé na humanidade. Ecoando o romance “1984”, de George Orwell, Platonov mostra a face distorcida do coletivismo, desprovida de emoções e sentimentos humanos.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
83. Aleksandr Tvardóvski, “Vassíli Tiôrkin” (1942-1945)
Tvardóvski é um icônico poeta soviético, famoso sobretudo por seu poema épico “Vassíli Tiôrkin”, em que a personagem principal é uma imagem coletiva de um soldado da Segunda Guerra Mundial, heroico, porém comum. O poema foi bastante popular, especialmente entre os que serviram e lutaram contra os nazistas. Cada capítulo retrata um incidente da vida do protagonista na linha de frente.
A obra não foi traduzida para português.
84. Boris Pasternak, “Doutor Jivago” (1945-1955)
Companhia das Letras, 2017
Pasternak é um dos poucos vencedores russos do Nobel reconhecidos “por sua importante realização, tanto em poesia lírica contemporânea, como no campo da grande tradição épica russa”. Ele era poeta, mas ficou conhecido principalmente por seu romance “Doutor Jivago” (que saiu em português pelas editoras Itatiaia, Best Bolso e Sextante), um relato épico sobre a revolução e a Guerra Civil, e que foi proibido na URSS por mais de 30 anos. A obra descreve o poder destrutivo da revolução, a devastadora Guerra Civil, o colapso das esperanças e a força do espírito humano. O romance teve que ser contrabandeado para fora do país e acabou sendo publicado primeiramente na Itália, em 1957. Materiais de arquivo da CIA recentemente desclassificados confirmam o papel da agência secreta norte-americana na publicação da obra, considerada “antissoviética”. Em 1958, Pasternak recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, que foi obrigado a recusar sob pressão do então governo da URSS.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
85. Víktor Nekrasov, “Nas trincheiras de Stalingrado” (1946)
Foi com esta história sobre a defesa heróica de Stalingrado, publicada imediatamente após a guerra, que as pessoas começaram a falar sobre a “prosa de tenente”, que expõe a “verdade das trincheiras” sem embelezamento. O texto, difundido na revista “Známia”, foi lido e aprovado pessoalmente por Ióssif Stálin.
A obra não foi traduzida para português.
86. Vassili Grossman, “Vida e Destino” (1959)
Alfaguara, 2014
Após passar mais de mil dias na frente de batalha, Vassili Grossman escreveu seu “Vida e Destino” (que saiu no Brasil pela Alfaguara/Objetiva, e em Portugal pela Dom Quixote, além da Kobo Editions), considerado um dos maiores romances de guerra de todos os tempos. Grossman observa e registra de maneira vívida a tragédia das pessoas vivendo em uma sociedade totalitária e em guerra. Como muitos de seus colegas, ele nunca viu o próprio trabalho publicado em vida. Sua saga indomável, conhecida como “O Guerra e Paz do século 21”, retrata a história dramática da vida de uma família durante a Batalha de Stalingrado. Mas o romance foi considerado “antissoviético” e precisou ser contrabandeado para fora do país. Em 1989, no final da perestroika, “Vida e destino” foi publicado pela primeira vez em russo. “Todas as pessoas são culpadas diante de uma mãe que perdeu seu filho na guerra, e tentam em vão se justificar diante dela ao longo da história da humanidade”, escreveu o autor do romance, cujos eventos se desenrolam de setembro de 1942 a fevereiro de 1943.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
87. Varlam Chalámov, “Contos de Kolimá” (1954-1973)
Editora 34, 2016
Outro escritor que sofreu nas mãos do poder soviético, Varlam Chalámov sobreviveu em um lugar ainda mais medonho que a guerra, já que não eram os nazistas, mas os soviéticos quem matavam seus próprios cidadãos. Chalámov permaneceu 17 anos nos campos de trabalho forçado, os chamados gulags. Lá, teve a sua saúde irremediavelmente prejudicada, mas deixou para a humanidade um relato verdadeiro e assustador de um dos sistemas repressivos mais cruéis da história. Os “Contos de Kolimá”, que no Brasil saiu em seis volumes pela editora 34, é um relato da brutalidade desumana do poder e do sofrimento humano. Chalámov escreveu, certa vez, que “um escritor deve ser estranho aos objetos que descreve”. Seu trabalho é definido por essa linha, sendo direto e objetivo. Cada relato dos “Contos de Kolimá” está contido em si próprio, focando um elemento diferente da vida na gulag, um acontecimento ou personalidade específica. Mas a divisão temática mascara uma unidade artística mais profunda. A questão central de Chalámov é o que sustenta e direciona os humanos, dando-nos a capacidade de sobreviver a experiências como os campos de Kolimá.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
88. Konstantin Paustóvski, histórias e contos
Paustóvski é conhecido como mestre das descrições naturais. Sua prosa lírica foi motivo de indicação ao Prêmio Nobel de Literatura, que, no entanto, ele nunca recebeu. O primeiro livro a lhe trazer reconhecimento do público e da crítica foi “Kara-Bogaz”, cujo título se refere à baía de Garabogazköl, ou Lago da Garganta Negra, no Turcomenistão. Já “Zolotáia rôza” (em tradução livre, “Rosa dourada”), é dedicado a seu processo criativo, profundamente pessoal; nela, Paustóvski pesquisa a essência da arte de ser escritor, relembrando seus momentos de inspiração, assim como os de outros autores. “Pôvest o jízni” (em tradução livre, “História sobre a vida”, publicado em inglês como “The story of a life”), é uma obra autobiográfica fundamental em seis volumes.
Sua obra ainda não foi vertida para o português
89. Evguêni Schwartz, “Um Milagre Comum” (1954)
A bruxaria transforma um urso em um jovem que se apaixona pela princesa. Porém, com o beijo dela, ele deve se transformar novamente em um urso. Em muitas das peças de Schwartz, pode-se identificar uma mensagem antitotalitária por trás das metáforas, mas a obra “Um Milagre Comum” e sua adaptação cinematográfica são apenas um belo conto de fadas com um final feliz.
A obra não foi traduzida para português.
90. Arkádi e Boris Strugátski, “Segunda-feira Começa no Sábado” (1964)
Os irmãos Strugátski são os mais celebrados escritores de ficção científica da União Soviética. Seu “Segunda-feira começa no sábado” era o equivalente soviético de “Harry Potter” e estava comprometido com a burocratização da mágica ao torná-la nativa, acessível e digna de inveja. Esse livro não foi traduzido para português. Sua obra mais famosa no exterior é “Piquenique na beira da estrada”, que inspirou o filme “Stalker”, de Andrêi Tarkóvski.
Outra obra deles já publicada no Brasil foi “É difícil ser Deus”.
91. Aleksandr Vampilov, “Caça ao Pato” (1967)
O intelectual soviético Zilov está cansado da vida e passa por uma crise espiritual. Então, seus amigos decidem fazer uma brincadeira e lhe enviam uma coroa de flores fúnebre para a festa de inauguração de sua casa. Entrando na brincadeira e convidando todos para o funeral, Zilov se entrega às memórias da vida. Esse drama “Caça ao Pato”, que milagrosamente contornou a censura soviética, não sai dos palcos dos teatros russos desde a década de 1970. Os críticos comparam Zilov com os personagens de Dostoiévski e de Lermontov.
A obra não foi traduzida para português.
92. Vassíli Chukchin, contos
O siberiano Chukchin chegou a Moscou para estudar e se tornar roteirista e diretor. Acabou se tornando ambos, além de um dos mais populares escritores soviéticos, um mestre do conto sobre a vida rural. Chukchin escreveu muitas histórias que mostram a vida na aldeia e os camponeses de uma forma incrivelmente abrangente e com muito amor. A tradução do seu conto “Dá-lhe, Coração” pode ser encontrada na “Nova Antologia do Conto Russo”.
93. Víktor Astáfiev, “Amaldiçoados e Mortos” (1990-1994)
A maioria das obras de Víktor Astáfiev retratam a Segunda Guerra Mundial. O romance “Amaldiçoados e Mortos” não é exceção. O livro reflete as memórias pessoais do autor, a vida pré-guerra, a preparação para o serviço no exército e os relacionamentos no ambiente militar. Ele descreve batalhas em detalhes, e discorre sobre patriotismo, religião e moralidade.
A obra não foi traduzida para português.
94. Valentin Raspútin, “Adeus a Matiora” (1976)
“Adeus a Matiora” é um exemplo notável de “prosa de aldeia” soviética de um escritor realista original, admirador de Dostoiévski e Búnin. A vila siberiana Matiora está prestes a ser inundada antes da construção de uma usina hidrelétrica, e os moradores precisam se mudar urgentemente. O conflito entre o antigo modo de vida e o progresso é percebido de forma dramática pelos locais. Nem todo mundo está pronto para deixar seus lugares de origem, e os idosos são especialmente afetados pelas mudanças.
A obra não foi traduzida para português.
95. Serguêi Dovlátov, histórias e contos
Kalinka, 2016
O nome de Serguêi Dovlátov remete imediatamente aos absurdos da vida soviética. Ele relata os dias de trabalho como jornalista enfrentando inúmeras situações engraçadas e embaladas por bebida alcoólica. Com o passar dos anos, suas histórias passaram a ser vistas como crônicas brilhantes dos dias soviéticos, despertando risos que chegam às lágrimas. O estilo de Dovlátov é uma sátira autobiográfica com um toque de desesperança. Em “Compromisso”, ele ridiculariza sarcasticamente tanto o sistema soviético quanto o trabalho de um jornalista na era totalitária. Em “Parque Cultural”, o herói ridiculariza a admiração por Púchkin, enquanto bebe e sofre com problemas em sua vida pessoal. “A Mala” conta a história de um herói que planeja emigrar da União Soviética para os Estados Unidos, levando consigo apenas uma pequena mala, dentro da qual cada item se torna uma memória da vida passada.
96. Aleksandr Soljenítsin, “Um dia na vida de Ivan Deníssovitch” (1959)
Siciliano, 1995
Gigante da literatura, famoso dissidente e sobrevivente da gulag, Soljenítsin foi comandante de artilharia na Segunda Guerra Mundial, após a qual foi preso pelo NKVD, a polícia secreta russa que precedeu a KGB, por “agitação antissoviética”. Ele recebeu uma sentença de oito anos de prisão, considerada branda naqueles tempos.
Seus trabalhos mais famosos são dedicados aos campos prisionais. “Um dia na vida de Ivan Deníssovitch” lhe trouxe fama e, por um milagre, foi publicado com aprovação pessoal de Nikita Khruschov. A história apareceu em 1962 na revista “Novy Mir” e se tornou a primeira publicação soviética sobre os campos de trabalho forçado. A obra causou sensação não apenas na sociedade soviética, mas no mundo todo. Nela, um camponês heróico relembra como foi lutar contra os alemães: foi capturado, escapou e depois imediatamente enviado para os campos de trabalho forçado. A história descreve em detalhes a vida difícil nos campos, que Soljenítsin conheceu em primeira mão.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
97. Aleksandr Soljenítsin, “Arquipélago Gulag” (1958-68)
Carambaia, 2019
Soljenítsin escreveu sua monumental obra-prima “Arquipélago Gulag”, sobre os campos de trabalho forçado soviéticos, ao longo de dez anos. Esse livro é baseado nas experiências pessoais do autor em vários locais de detenção e nas histórias de mais de 250 prisioneiros que ele entrevistou. Logo após a publicação do primeiro volume do “Arquipélago Gulag” em Paris, em dezembro de 1973, Soljenítsin foi expulso da URSS, e todas as suas obras publicadas anteriormente foram destruídas. Ele só pôde retornar ao país após a desintegração da URSS.
Este livro pode ser encontrado: Amazon
98. Andrêi Bitov, “A Casa de Púchkin” (1964-1971)
Record, 1998
“A Rússia toda é a casa de Púchkin sem seu hóspede de cabelos cacheados” — é assim que Bitov explica o título do seu livro. “A Casa de Púchkin” é um romance pós-modernista sobre literatura, Leningrado, repressões de Stálin e a época do “degelo”. O livro, proibido na URSS, foi publicado pela primeira vez no exterior.
Este livro pode ser encontrado: Livraria Roteiro
99. Evguêni Evtuchênko, poemas
Evtuchênko é um representante da geração de escritores do pós-guerra e um dos raros poetas cujos versos entraram na língua moderna, transformando-se em provérbios: “Um poeta na Rússia é mais que um poeta” e “E os russos querem guerra?”. Falantes nativos de russo proferem essas linhas sem pensar sobre de onde vieram. Como um dos expoentes da poesia dos anos 1960, junto a Voznesénski e Rojdéstvenski, ele ganhou enorme popularidade e enchia estádios de espectadores para ouvir seus poemas. Entre os mais famosos deles estão “Estação hidrelétrica Bratsk” e “Babi Iar”.
Alguns títulos seus foram publicados no Brasil, como “Não morra antes de morrer” (Ed. Record) e “Biografia Precoce” (Ed. José Alvaro e, posteriormente, pela Brasiliense).
100. Joseph Brodsky, poemas
Editora Âyiné, 2020
Tendo completado apenas sete anos de escola, Joseph Brodsky era, no entanto, um intelectual e um homem com um aguçado senso das palavras. Sua poesia se distinguia por uma linguagem fundamentalmente nova. “É impossível recontar a triste metafísica de Joseph Brodsky”, escreveu o crítico literário Samuil Lurie. O estilo e os temas de poemas de Brodsky eram incompreensíveis para a maior parte dos leitores soviéticos. O escritor foi perseguido, condenado e enviado ao exílio por parasitismo. Em 1972, após deixar a URSS, partiu para os EUA com ajuda de seu editor norte-americano, Carl Proffer. Lá, estabeleceu-se como poeta em residência da Universidade de Michigan, em Ann Arbor. Em 1987 Brodsky ganhou o Prêmio Nobel por sua “autoria abrangente, imbuída de clareza de pensamento e intensidade poética”.
Entre as suas obras publicadas no Brasil estão “Marca d’água: um ensaio sobre Veneza”, “Sobre o exílio”, “A musa em exílio” e “Poemas de Natal”.
https://br.gw2ru.com/cultura/231390-os-100-melhores-livros-russos-que-todos-devem-ler