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terça-feira, 18 março, 2025

Oposição machista teme Gleisi que agrega eleitorado petista e feminista

Foto Ricardo Stucker

César Fonseca

A nova ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), no lugar do ministro Alexandre Padilha, representa opção do presidente Lula para fortalecimento do PT mais à esquerda, em contraposição às posições conciliadoras e conservadoras do candidato petista à sua sucessão, ex-prefeito Edinho Silva, de Araraquara, que divide o partido, graças a sua posição conservadora conciliadora.

Ao mesmo tempo, Gleisi fortalece, principalmente, o governo junto ao eleitorado feminino, abalado com a demissão da ministra Nísia Trindade, da Saúde, tida como perfil antipolítico, no momento em que se faz necessária a escalada política governamental rumo à eleição presidencial de 2026.

Gleisi terá a difícil missão de negociar com o Congresso majoritariamente dominado pela direita e ultradireita machista, propensa ao parlamentarismo, para tentar esvaziar a candidatura Lula à reeleição.

No entanto, dificilmente ela será empecilho às prioridades oposicionistas favoráveis às emendas parlamentares que criaram novo status quo de poder ao legislativo frente ao executivo.

Gleisi, politicamente experiente, acompanhará o presidente Lula que não interessa ter a oposição cerrada contra seu governo, dispondo-se a concordar com a repartição de verbas pelo novo modus operandi conquistado pelos oposicionistas, razão pela qual se arrefeceram quanto à insistência em disputarem acirradamente postos no governo de forma intransigente.

Eles já estão de barriga cheia: dispõem de suficiente poder para não se rebelarem se não forem devidamente contemplados em suas reivindicações quanto à reforma ministerial.

A garantia da distribuição das verbas parlamentares, obedecidos os ritos fixados pelo Supremo Tribunal Federal, avalista das posições do ministro Flávio Dino, nesse sentido, já representa, simbolicamente, uma reforma ministerial, com fortalecimento da voz legislativa frente ao executivo.

Gleisi, evidentemente, não negará esse status quo político como forma de pacificação entre os dois poderes, nos dois anos que restam à administração do presidente Lula.

Praticamente, a negociação entre as partes já está assentada em obediência a essa divisão de poder dada pela correlação de forças favorável à oposição contra a qual Gleisi Hoffmann, pragmaticamente, não se oporia.

A aliança governista como representação da Frente Ampla já implica, portanto, negociação concluída, na qual, aliás, Gleisi teve participação como coordenadora, durante a campanha eleitoral de 2022, ocasião em que foram acertados os acordos político-partidários vigentes atualmente.

Agora, como articuladora do governo, na Secretaria de Relações Institucionais, a nova ministra traz consigo o cacife político acumulado desde que coordenou a candidatura do presidente, levando-a à vitória sobre Bolsonaro, em 2022.

Não se trata de marinheira de primeira viagem: volta à tarefa essencial com bagagem suficiente para solidificar a Frente Ampla vitoriosa contra o fascismo bolsonarista, para isolar a ultradireita da direita em favor da atração dela ao centro-esquerda.

Trata-se, portanto, de aposta na social democracia como contraponto ao radicalismo direitista fascista.

TRABALHO PREPARATÓRIO DE LULA

Certamente, facilitará o trabalho de Gleisi a decisão do presidente Lula de fortalecer relações com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre(União Brasil-AP), de apressar exploração do petróleo no Amapá, que garantirá ao estado polpudos recursos em forma de royalties petrolíferos.

Do mesmo modo, contribui para o trabalho de Gleisi, no Congresso, a aproximação política do governador Tarcísio de Freitas(Republicanos) à proposta de parceria governo federal-governo de São Paulo para construção do túnel entre Santos e Guarujá, atrativa ao eleitorado paulista.

Na prática, Lula arrefece adversidades políticas no Congresso e no bolsonarismo, visto que o aplauso do governador paulista à iniciativa lulista de fortalecer investimentos em São Paulo contribui para rachar a força do ex-presidente Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio.

Afinal, se Tarcísio, em nome da sua proximidade a Bolsonaro, resiste ao que o presidente oferece ao estado mais rico da federação, como fator de progresso da mobilidade urbana, estará contrariando a própria população de São Paulo. O bolsonarismo é, parcialmente, anulado com a aproximação Lula-Tarcísio.

NOVAS CIRCUNSTÂNCIAS

É nesse cenário, portanto, que a coordenação política de Gleisi Hoffmann, no Congresso, inicia-se, a partir de março, com possibilidades de aprofundar cooperação com as forças políticas que ensaiaram resistência ao governo, depois da vitória eleitoral em 2024, devido ao triunfo significativo da direita, ultradireita e centrão, no contexto municipal.

Tal triunfo chegou a levar o presidente do PSD, Gilberto Kassab, secretário do governador Tarcísio, a afirmar possibilidade de abandonar aliança com o governo Lula, tendo como argumento o governador de SP como candidato para disputar a presidência em 2026.

À parte, porém, de Tarcísio perceber a vantagem eleitoral de Lula para a disputa presidencial no próximo ano, atestada por pesquisas de opinião, o que o levou a admitir não disputar a corrida sucessória, tem, agora, o fato relevante que não pode recusar.

Ou seja, o governo de SP se alinha ao chefe do Planalto na tarefa de empreender o que é caro aos paulistas: a ligação Santos-Guarujá, que implicará, com a construção do túnel, em bilhões de reais em investimento, emprego, renda, consumo e arrecadação.

O jogo político de Lula em SP começou logo depois que as pesquisas Quest e CNT atestaram sua queda de popularidade nos estados do sul, na sequência de outras que revelaram indicadores no mesmo sentido para a região nordeste, onde está o eleitorado tradicional do presidente.

Desse modo, o titular do Planalto, com nova articulação no Congresso, por intermédio de Gleisi, no lugar de Padilha, reprovado na tarefa de dialogar com os adversários, busca vantagem, em novo contexto:

1 – acertou, politicamente, com o titular do Senado;

2 – flexibilizou ou posicionamento do governador paulista, e;

3 – adquire simpatia do presidente da Câmara, que promete aprofundar diálogo com a nova titular da SRI.

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