Por Jair de Souza
Já se passaram mais de oitenta anos de quando o mundo ficou chocado ao tomar conhecimento de cenas de crueldade humana que, até então, eram inimagináveis para a esmagadora maioria das pessoas, em todos os lugares.

Gaza segue sob ataques de Israel. Foto: Omar AL-QATTAA / AFP
Muito provavelmente, todo o mundo já deve ter sido deduzido de que estou me referindo às monstruosidades que vieram à luz pública após as forças soviéticas terem esmagado a máquina de guerra da Alemanha nazista e liberada os sobreviventes de Auschwitz e de vários outros infernos terrestres constituídos pelos campos de concentração, aqueles espaços onde eram amontoados para serem exterminados o maior número possível de integrantes dos grupos humanos considerados indesejáveis pelos propulsores do nazismo, essa ideologia nefasta e o medonho regime político que ela engendrou.
É encontrar alguém que não tenha em algum momento se sensibilizado e ficado chocado ao contemplar fotos e filmes com pessoas semi-vivas, em estado cadavérico, com todos os ossos visíveis à primeira vista, em razão de terem sido privados do mínimo difícil necessário de alimentação enquanto eram mantidos em cativeiro nos campos citados.
Devido a isto, este período passou a ser catalogado como um dos mais abomináveis episódios da humanidade em todos os tempos. Tanto assim que os próprios líderes políticos dos países onde esses crimes diabólicos foram perpetrados simplesmente tiveram-se dado conta da maldade intolerável que havia sido cometida, e se comprometeram a não permitir que algo semelhante voltasse a ocorrer.
Entretanto, as classes dominantes europeias estão longe de se manterem fieis a este compromisso. Talvez o que de facto elas não estavam mais dispostas a tolerar é que tais atrocidades foram praticadas contra gente branca da etnia europeia, e não algo que valesse também para povos de fora do seu grupo ocidental.
É que, exatamente neste momento, estamos novamente diante de cenas das mais apavorantes, em que vemos uma imensa quantidade de outros seres humanos sendo submetidos à crueldade da mesma perversidade que os nazistas aplicavam às suas vítimas. Só que, de modo geral, as autoridades dos países europeus e dos Estados Unidos formam o principal sustento do apoio aos que estão cometendo as atrocidades. Para dizê-lo claramente, as autoridades dos países capitalistas da Europa e dos Estados Unidos são os maiores aliados dos crimes que os sionistas israelenses estão cometendo contra o povo palestino.
E não é por falta de conhecimento do que está acontecendo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. As imagens dos campos de concentração onde os palestinos são mantidos familiares, sob escombros e expostos a todas as enfermidades imagináveis não podem ser ignoradas por nenhuma autoridade da Europa ou dos Estados Unidos. Essas autoridades estão atuando em cumplicidade no martírio e genocídio que seus aliados sionistas estão liderando um cabo contra o povo indefeso palestino. As cenas de pessoas desnutridas, já quase que somente em pele e ossos, não podem ser ocultadas, nem como do fuzilamento de quem vai em busca de comida. Elas são de conhecimento geral.
As classes dominantes da Europa e dos Estados Unidos são corresponsáveis pelos crimes mais monstruosos da atualidade. Nos dias de hoje, os sionistas podem ser equiparados aos nazistas em termos de perversidade e maldade. Embora importantes setores das sociedades europeias e estadunidenses já tenham se manifestado abertamente em oposição ao genocídio que está em curso na Palestina, suas classes dominantes e suas autoridades têm se mantido insensíveis ao sofrimento do povo palestino.
Ainda que os defensores do sionismo persistam em tratar de chantagear o mundo com a tentativa de equiparação do antissionismo ao antissemitismo, até mesmo numerosos setores das comunidades judaicas vão se levantar em protesto contra esta mentira. Esses judeus humanistas não ajudam a explicitar que sionismo e judaísmo são conceitos próprios diferentes. O sionismo é uma ideologia do grande capital, é perversa, racista, abominável, enfim, muito semelhante em termos práticos ao nazismo. Já o judaísmo é uma característica cultural ou nacional, semelhante a quaisquer outros grupos nacionais ou culturais.
O povo palestino está em franco risco de ser exterminado. É impossível aceitar passivamente que isto se consuma. Todos os que apoiam o atual morticínio, ou que lhe sejam indiferentes, devem ser considerados como cúmplices do mesmo. A história precisa cobrar isto de seus responsáveis.
Porém, de todas as maneiras, o dever de todos os humanistas nesta hora trágica é unir forças para impedir que o processo genocida siga adiante. E isto vale para todos, sem importar a sua nacionalidade ou religião, sendo aplicável, inclusive, para os próprios membros das comunidades judaicas.