Por Carmen Esquivel
Durante a visita efetuada em 14 de setembro a uma zona fronteiriça da Colômbia com a Venezuela, Almagro assegurou que quanto à intervenção militar para derrubar ao presidente Nicolás Maduro, ‘não devemos descartar opção nenhuma’.
Suas declarações são uma paráfrase das oferecidas pelo chefe da Casa Branca, Donald Trump, no ano passado, quando afirmou que ‘temos muitas opções para a Venezuela, incluindo uma opção militar se for preciso’.
Fiel a sua retórica antivenezuelana, Almagro qualificou como ditador ao presidente Maduro, eleito democráticamente por seu povo, e o culpou de ocasionar uma crise de migrantes na região.
O máximo representante da OEA tinha ordenado antes criar um grupo de trabalho sobre a migração venezuelana, iniciativa que -de acordo com o governo de Caracas- busca impor um chamado ‘canal humanitário’, contra a soberania de seu povo.
Estão criando uma narrativa da Venezuela como Estado fracassado, em que eles são os salvadores humanitários, advertiu o embaixador do país sul-americano perante a OEA, Samuel Moncada.
Segundo a Agência de Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), volta de 1,6 milhões de pessoas saíram da Venezuela nos últimos três anos, e 90 por cento delas estão nas nações da América do Sul.
Entre as causas desta migração, um fator determinante, que os monopólios midiáticos evitam mencionar, é a sabotagem permanente dos Estados Unidos à economia nacional.
A nova escalada de agressões contra o país sul-americano começou desde março de 2015, quando o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou à Venezuela como uma ‘ameaça para a segurança nacional’ e decidiu aplicar sanções contra vários funcionários.
O bloqueio à economia continuou nos anos seguintes e se recrudesceu, até mais, depois de que Nicolás Maduro fora reeleito nas eleições de maio passado com 68 por cento de votos, um resultado que Washington recusou.
Após essas eleições, Trump assinou um decreto executivo para endurecer os embargos financeiros e interditar as transações com os organismos públicos, incluída a empresa Petróleos da Venezuela (Pdvsa).
Esta guerra econômica, apoiada pela oposição, tenta asfixiar ao país e impede ao Governo a compra de alimentos, remédios e outros bens essenciais.
Um dos casos mais recentes foi o bloqueio de sete milhões de dólares destinados à aquisição de tratamentos de diálise para pacientes com problemas renais.
Na campanha midiática sobre o tema da emigração, os meios também evitam assinalar que a Venezuela foi historicamente um grande receptor de refugiados.
Mais de seis milhões 500 mil colombianos, peruanos e equatorianos radicam em território venezuelano e se beneficiam dos programas sociais aplicados pelo Governo.
Uma sorte muito diferente corre o venezuelano noutros países, muitos dos quais resultaram vítimas de falsas promessas sobre uma melhor qualidade de vida.
Daí que durante os últimos dias, uns três mil venezuelanos se acolhessem ao Plano Volta à Pátria, ponte aérea ativada pelas autoridades para facilitar o regressode cidadãos em condições de vulnerabilidade.
O presidente Nicolás Maduro denunciou que em países como a Colômbia, Equador e Peru se está desenvolvendo uma cruzada de ódio, perseguição, desprezo e xenofobia contra seu povo.
Esta campanha mundial, encabeçada pelos Estados Unidos, busca criar um escândalo para justificar uma intervenção no país, advertiu.
Os planos de agressão, instados pelo secretário geral da OEA, provocaram o repúdio de governos e organizações progressistas na região.
‘Atentar contra a Venezuela é atentar contra a América Latina’, advertiu o presidente da Bolívia, Evo Morales, em sua conta da rede social Twitter.
A Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa a América (ALBA) considera as declarações do Almagro como uma clara evidência dos planos desestabilizadores contra os governos progressistas.
Para o presidente da Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina e o Caribe (Copppal), o dominicano Manolo Pichardo, as palavras do Almagro reafirmam o papel da OEA como um instrumento ao serviço dos Estados Unidos.
Pichardo recordou o silêncio cúmplice e a atitude assumida pela Organização de Estados Americanos frente ao golpe de estado na Honduras (2009) e contra o governo legítimo da Dilma Rousseff no Brasil (2016).
‘Sobejam exemplos que evidenciam que a OEA, que legitimou a intervenção militar norte-americana em abril de 1965 em República Dominicana para impedir o retorno do governo democrático de Juan Bosch, segue sendo um instrumento para justificar as agressões contra a América Latina e o Caribe’, afirmou.
Até a maioria dos países do chamado Grupo de Lima, com exceção da Colômbia, Canadá e Guiana, disseram recusar qualquer curso de ação ou declaração que implicar uma intervenção na Venezuela.
Em um artigo, o jornal ‘The New York Times’ revelou contatos secretos mantidos durante 2017 e 2018 por funcionários do governo do Donald Trump e ex-militares venezuelanos adversos ao processo revolucionário, visando promover a derrubada do presidente Maduro.
Se a isso se acrescentam as denúncias sobre um plano do Comando Sul com esse mesmo propósito, os incidentes e provocações na fronteira Colombia-Venezuelana e as mais recentes declarações do Almagro, é fácil inferir que se prepara um golpe contra a Venezuela.