– A Rússia não sofrerá. As vítimas são os cidadãos europeus que estão a ser mergulhados em dificuldades econômicas desastrosas devido às maquinações do capital americano, dos seus instrumentos banderistas e dos europeus tolos
SCF [*]
Este novo ano começou uma nova era que pressagia um deslize irrevogável da Europa para a escuridão econômica e a submissão abjeta ao domínio dos EUA.
O Tio Sam ganhou o que ambicionava há décadas: dominar totalmente a Europa, graças à ajuda de um regime neonazi na Ucrânia e dos patéticos políticos europeus que aclamam a escravatura da Europa como uma libertação.
Os povos da Europa estão a enfrentar um período de dificuldades económicas que se adivinha. Podemos afirmá-lo com segurança porque o mais fundamental dos factores de produção econômica – a energia – está prestes a tornar-se mais caro à União Europeia e o seu fornecimento mais precário.
As relações energéticas da Rússia com a Europa, que perduraram décadas, agora estão cortadas. Parece um espantoso ato final de autoflagelação. As economias da União Europeia têm-se debatido com uma crise energética causada pelo facto de os líderes da UE terem cortado deliberadamente o fornecimento de gás russo. Agora, com a última grande rota de trânsito encerrada, a Europa caminha para a autodestruição econômica, social e política.
Na quarta-feira, dia de Ano Novo, o regime ucraniano cortou a última rota de abastecimento de gás russo à União Europeia. Este regime, que glorifica Stepan Bandera e outros fascistas da era nazi, está, de facto, a manter refém toda a União Europeia com a sua russofobia e corrupção implacável.
A arrogância e a audácia são espantosas. O regime ucraniano não tem um líder eleito (Zelensky cancelou as eleições no ano passado), não é membro da UE, já sugou centenas de milhares de milhões de euros aos contribuintes europeus e agora fechou unilateralmente o último gasoduto da Rússia para a UE.
Ironicamente, o gasoduto chamava-se “Fraternidade”. Foi concebido na década de 1970 e começou a funcionar na década de 1980, transportando gás natural russo da Sibéria Ocidental para a UE. A Ucrânia recebia taxas de trânsito generosas pelo trajeto terrestre. A era de décadas de cooperação transcontinental foi morta a 31 de dezembro por um regime banderista que tem a desfaçatez de afirmar que as suas acções são virtuosas pois “estancam a hemorragia de dinheiro para a Rússia”.
Incrivelmente, vários líderes europeus também saudaram a ação ucraniana como uma libertação da dependência energética russa. Alguns meios de comunicação ocidentais tentaram mesmo apresentar Moscou como o vilão que instigou o corte. O Council on Foreign Relations, com sede em Nova Iorque, por exemplo, inverteu a realidade com o título: “A Rússia acaba com as exportações de gás natural para a Europa através da Ucrânia”.
O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, parece ser o único dirigente sensato entre os 27 Estados-membros da UE. Condenou aquilo a que chamou a “sabotagem” da Ucrânia ao abastecimento energético da Europa e às suas economias. Fico alertou para o fato de a União Europeia estar perante uma catástrofe económica de grandes proporções.
A rota do gás através da Ucrânia abastecia a Eslováquia, a Áustria, a Itália e a República Checa. Agora, estes países terão de encontrar fontes de abastecimento alternativas nos mercados internacionais. A rota ucraniana também abastecia a Moldávia, que agora enfrenta uma crise energética imediata. A Rússia afirma que o Governo moldavo deve fturas pendentes relativas a fornecimentos de gás anteriores.
O gasoduto da Fraternidade recorda uma era de amizade e cooperação, apesar de ter sido concebido durante a Guerra Fria entre o Ocidente e a União Soviética. O gasoduto de 4 500 quilómetros foi parcialmente financiado por capitais alemães.
Outra ambiciosa rota de abastecimento da era da Guerra Fria foi o gasoduto Yamal, que percorria mais de 4 100 km desde a Sibéria até à Polónia e à Alemanha. O seu funcionamento foi interrompido em 2022 pela Polónia a seguir ao início das hostilidades na Ucrânia.
Os gasodutos Nord Stream 1 e 2, construídos mais recentemente, que percorriam 1 200 km sob o Mar Báltico, da Rússia à Alemanha, foram explodidos em 2022. Este ato de sabotagem encoberta foi sem dúvida executado pelos Estados Unidos sob as ordens do Presidente Joe Biden, de acordo com o respeitado jornalista de investigação Seymour Hersh.
O resultado é que todas as principais linhas russas de abastecimento de gás natural à Europa agora estão encerradas. A única que resta é a Turk Stream, que passa sob o Mar Negro até à Turquia. Mas esta abastece sobretudo países dos Balcãs não pertencentes à UE.
No espaço de dois anos, a Rússia deixou de ser o principal fornecedor das importações de gás da UE (mais de 40%) e passou a ser uma fonte menor. O grande vencedor da fenomenal perturbação do mercado são os Estados Unidos, cujas exportações de gás natural liquefeito (GNL) para a UE triplicaram. Outro vencedor é a Noruega, que não é membro da UE. Outras fontes de gás para a Europa são o Azerbaijão e a Argélia.
No entanto, os custos adicionais sem precedentes para a Europa decorrentes desta enorme reorganização do seu comércio de energia estão a sobrecarregar as economias, as indústrias e os agregados familiares da UE com encargos incomportáveis. Têm de ser construídos novos gasodutos, bem como novos terminais metaneiros para receber o gás transportado. As exportações dos EUA custam 30 a 40% mais do que o produto russo.
A queda da economia alemã devido ao aumento dos custos da energia é causada diretamente pelo corte do abundante e acessível gás russo. E vai piorar ainda mais. O amargo destino da Alemanha prenuncia a miséria económica em que toda a UE está a mergulhar.
A história do declínio econômico da Europa é tanto óbvia como flagrante.
É claro que o que está em causa é o fato de os Estados Unidos usarem e abusarem dos seus “aliados” ocidentais em prol dos seus próprios interesses. Para os imperialistas ocidentais, não existem aliados, apenas interesses. E os americanos estão a aplicar essa máxima até ao limite.
Durante décadas os EUA opuseram-se veementemente ao comércio de energia entre a UE e a Rússia. Na década de 1980, a administração do Presidente Ronald Reagan tentou ao máximo bloquear o desenvolvimento do gasoduto Fraternidade com ameaças de sanções económicas. Os americanos afirmaram abertamente que não quererem o desenvolvimento de relações de cooperação entre a Europa e a União Soviética.
Pelo menos em tempos anteriores, os governos europeus pareciam ter mais independência e espinha dorsal. A Alemanha, a França, a Itália e outros países rejeitaram as exigências de Washington no sentido de encerrar os projectos de gás.
O objetivo estratégico de longa data dos EUA, de substituir a Rússia como fornecedor de energia à Europa, foi agora concretizado. É um sinal dos tempos de desespero e de ilegalidade que os agentes militares americanos ataquem as infraestruturas europeias.
A explosão dos gasodutos Nord Stream e a guerra por procuração na Ucrânia garantiram o objetivo estratégico dos EUA e dos seus representantes na OTAN – manter os alemães (europeus) em baixo, os americanos dentro e os russos fora.
Lá se vai o capitalismo de mercado livre e a ordem baseada em regras que as elites americanas e europeias apregoam. A prática é a competição econômica bruta e o domínio pelo cano de uma arma. Milhões de vidas foram destruídas neste “grande jogo” da chicana imperialista americana, e a guerra por procuração na Ucrânia está a arriscar a escalada para uma Terceira Guerra Mundial nuclear.
O regime banderista – uma reminiscência do passado nazi – permitiu aos Estados Unidos escravizar a Europa aos desejos imperialistas de Washington.
Tragicamente, um círculo de líderes políticos europeus elitistas está tão obcecado com a russofobia e o servilismo ao seu senhor americano que vocifera a favor do corte com a Rússia. Mas a Rússia não sofrerá. Os seus vastos recursos energéticos encontram mercados globais alternativos e lucrativos. As vítimas são os cidadãos europeus que estão a ser mergulhados em dificuldades econômicas desastrosas devido às maquinações do capital americano, dos seus instrumentos banderistas e dos europeus tolos.
05/Janeiro/2025
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