Mauro Santayana
Um delegado, em entrevista a uma revista semanal, declara que a Polícia Federal “perdeu” o “timing” para prender Lula.
Outro delegado, que já manifestou publicamente, nas redes sociais, por mais de uma vez, suas preferências políticas e que, criticado por isso, tentou censurar, na justiça, as manifestações de internautas contra ele, vem a público para afirmar que, na verdade, esse “timing” não passou, e que, em 30, 60 dias, será possível obter condições favoráveis para prender o ex-presidente, cuja esposa acaba de sofrer uma cirurgia para conter as sequelas de um AVC.
Ora, não sabemos se há “timing” para fazer, mais uma vez, a reflexão óbvia e ululante, mas se ainda faltavam provas de que parte preponderante da Operação Lava-Jato tem motivação política – e o objetivo de prender Lula antes que chegue 2018, a qualquer custo – e do incontido ativismo de alguns de seus membros, elas estão aí, escancaradas, mais uma vez, à vista de todos.
Em um país minimamente sério, o ex-presidente Lula seria preso se houvesse provas incontestáveis contra ele, e não em função do “timing” institucional, eventualmente construído com o auxílio de uma campanha midiática exagerada e sórdida, que se arrasta já há quase três anos.
Sutis como elefantes, as duas entrevistas fazem parte de um evidente, incomensurável, indiscutível, strip-tease da justiça brasileira aos olhos do mundo, que desnuda, a cada dia mais, todo o seu acovardamento diante das pressões, sua hipocrisia, sua parcialidade, suas rugas éticas e sua manipulação dos fatos, com a fabricação de factoides tão postiços quanto perucas.
A sua cara – e a opinião pública mundial percebe claramente isso, ao ver, horrorizada, os vídeos postados pelos assassinos – não é, apesar dos arroubos costumeiros da mídia local, quando ocorrem certos convescotes, a dos jovens procuradores e juízes de armanianos ternos, que visitam outros países em busca de holofotes, plaquinhas e diplomas honoríficos; mas a das cabeças arrancadas, diante das câmeras de celulares, a golpes de facão, do tronco de prisioneiros – muitos deles provisórios, que sequer ainda haviam sido julgados – que estavam sob a custódia de um sistema apodrecido até a raiz, incapaz de garantir os mais elementares direitos, ou de fazer valer a Lei e a Constituição, em um país com 8.5 milhões de quilômetros quadrados e a quinta maior população do mundo.