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sexta-feira, 29 março, 2024

O que se passa com o preço do petróleo?

El Diario – [Luis González, Tradução do Diário Liberdade]
Para explicar a evoluçom do preço do petróleo é preciso recorrer a múltiplos elementos que fam com que a dinâmica seja complexa e pouco óbvia.

Está barato o petróleo?

Se respondermos esta pergunta segundo as cotizaçons do petróleo atuais (por volta dos 30 dólares o barril), a resposta seria positiva. Mas se abrimos a escala temporal, a resposta nom é tam clara.

Entre 1900 e 2005, se descontarmos as duas crises petroleiras dos anos setenta, produzidas por decisons políticas, o preço do petróleo tivo duas caraterísticas: foi barato (moveu-se aproximadamente entre 20 e 30 dólares o barril a preços atuais, isto é, com a inflaçom corrigida) e estável (sem flutuaçons apreciáveis excepto nas duas crises petroleiras).

No entanto, desde 2005 o petróleo oscilou fortemente e moveu-se em preços notavelmente maiores. Entre 2005 e 2008 aumentou até atingir uns 140 dólares/barril. A seguir, colapsou, chegando a uns 45 dólares/barril em 2009. Até 2011, subiu novamente. Entre 2011 e 2014 oscilou entre 100 e 120 dólares/barril. Finalmente, diminuiu até a situaçom atual.

O que explica a mudança no padrom de comportamento do preço do petróleo e a situaçom atual?

Para explicar a evoluçom do preço do petróleo é preciso recorrer a múltiplos elementos que fam com que a dinâmica seja complexa e pouco óbvia. Entre eles, vamos concentrar-nos nos geológicos e financeiros, por considerá-los mais importantes atualmente, o qual nom exclui que existam outros.

A mudança de padrom no preço do petróleo produziu-se em 2005, e em 2005 atingiu-se a capacidade máxima de extraçom do petróleo convencional. O pico do petróleo convencional (Peak Oil).

O petróleo convencional é o mais fácil de extrair e tem melhores prestaçons. Supóm a imensa maioria do petróleo extraído a nível histórico e, ainda hoje, é 85% do explorado. O nom convencional é o que está em águas ultra-profundas, no Ártico, embutido em rochas pouco porosas que há que partir através de técnicas como a fratura hidráulica (fracking), as areias bituminosas do Canadá ou o petróleo extra-pesado da Venezuela. Para que a exploraçom dos nom convencionais seja rentável, o preço do petróleo deve estar por volta dos 80-100 dólares/barril, umha vez que o seu custo de extraçom é alto.

O pico dumha substância nom renovável é o momento apartir do qual começa a diminuir a capacidade de extraí-la. Na exploraçom dum recurso mineiro, a primeira fase tem forma de curva ascendente. É umha etapa na que cada vez se pode extrair mais quantidade. Nesta fase estám os campos petrolíferos mais acessíveis e grandes e, com a experiência acumulada, exploram-se de maneira singela. Mas, inevitavelmente, chega um momento em que a extraçom começa a decair. Este momento coincide, grosso modo, com a metade das reservas. O ponto de inflexom é o ‘pico’ da substância. Durante a segunda metade da curva de extraçom, o recurso poderá conseguir-se em quantidades decrescentes, será de pior qualidade (pois em primeiro lugar exploram-se os melhores) e mais difícil de conseguir (já que ao princípio se escolhem os emprazamentos de mais fácil extraçom e de maior tamanho e, aliás, a segunda metade das reservas dum recurso sempre som mais difíceis de tirar que as primeiras). Também requerem o uso de técnicas mais contaminantes e, portanto, de mais medidas paliativas. Deste jeito, uma vez ultrapassado o pico do recurso, o que resta é umha extraçom decrescente, de pior qualidade e mais difícil técnica e energeticamente. Isso tudo implica umha tensom para o aumento do preço do petróleo, exceto importantes reduçons na demanda, até chocar com o tecto de preço aceitável economicamente.

O pico do petróleo também implica umha menor capacidade de controlar o fluxo colocado no mercado e, portanto, umha maior facilidade para especular com ele e com isso exagerar mais as flutuaçons de preços. Esta possibilidade especulativa viu-se muito acrescentada por causa das políticas de forte desregulamento dos mercados financeiros, a maioria das quais continua vigente depois da crise financeira iniciada em 2007. Isto é, o cenário pós-pico é de preços flutuantes e atinge quotas mais altas. É o que vivemos desde 2005.

O ‘baixo’ preço do petróleo nos dias de hoje responde, ao menos, a três fatores. Por um lado, a oferta de líquidos combustíveis que se englobam na categoria de ‘petróleo’ aumentou (o pico ainda é apenas do petróleo convencional). Isto deveu-se, acima de tudo, ao incremento da fratura hidráulica em EEUU e à extraçom de areias bituminosas em Canadá. Se medirmos este aumento em energia neta proporcionada à sociedade (que é o que deveria interessar-nos) o incremento nom é tal, já que som petróleos que requerem muita mais energia para a sua extraçom e refino que os convencionais. No entanto, como o único indicador que manejam os mercados é o volume, parece que exista um incremento da oferta. Seja como for, desde 2015 a extraçom de petróleo dos EEUU está-se a desmoronar devido à retirada massiva de investimentos em empresas de fracking.

Para explicar este aumento da oferta é preciso responder como é possível que os preços do petróleo estejam por baixo do custo de extraçom em muitos locais do mundo e continue a se produzir. No concernente às empresas privadas, isto é especialmente patente nas de fracking. A chave nom está no campo produtivo, mas no financeiro. O negócio nom estava na venda do petróleo, mas nos ativos financeiros. A estas empresas compensou-lhes sustentar estes déficits porque puiderom aumentar as suas reservas de hidrocarburos e a aumentar a extraçom. Isto significou subir na bolsa e conseguir importantes benefícios financeiros. Dede 2010, o sector converteu-se num forte atraente para investimentos, o que potenciou ainda mais as suas açons, gerando umha borbulha especulativa. Apesar das perdas no apartado produtivo, a perforaçom de poços continuou para sustentar o fluxo de petróleo e, com ele, o preço das açons. Esta bolha começou a estourar em 2015.

No caso das empresas públicas, há vários fatores que explicam a manutençom da extraçom a preços ruinosos. Provavelmente, os mais importantes sejam a tentativa de manter a quota de mercado e nom baixar ainda mais as receitas a curto prazo, dado que a situaçom económica e social é complicada para muitos (Venezuela, Rússia, Brasil, Arábia Saudita).

O segundo fator é a demanda. A Grande Recessom, que começou em 2007 – 2008, persiste. Entre os estados emergentes, o Brasil e a Rússia estám numha forte crise e a China está a reduzir de maneira muito importante o seu crescimento (provavelmente bastante mais do que mostram os dados oficiais). A EU e o Japóm nom conseguirom sair do letargo económico. Os EEUU tenhem um comportamento um pouco mais dinâmico, mas sem números realmente importantes. Um indicador claro deste cenário de crise é que o comércio internacional está em níveis menores dos atingidos em 2008 (na irrupçom da Grande Recessom). Portanto, o aumento da oferta (aparente) e um descenso da demanda implicam umha pressom à baixa sobre os preços.

O terceiro fator é a especulaçom. O petróleo, como o resto de matérias primas, negocia-se nos mercados financeiros. Em bolsas como as de Chicago e em transaçons privadas nos mercados OTC. A OPEP nom impóm os preços do petróleo, mas tenta regulá-los colocando mais ou menos cru no mercado. Como com qualquer outro ativo financeiros, com os derivados do petróleo pode obter-se lucro quando o seu valor aumenta (isso parece óbvio), mas também quando o valor diminui. Um mecanismo habitual para este segundo caso é o ‘aluguer’, por exemplo de futuros de petróleo, a um preço relativamente alto. Depois, ponhem-se em venda esses futuros e recompram-se mais baratos, obtendo lucro com isso. Em muitos mercados financeiros esta operaçom pode fazer-se até, por incrível que pareça, sem ter os ativos (di-se que se vam vender, provoca-se umha queda do preço por um aumento da oferta e compram-se depois mais baratos). Isto é: o ‘desequilíbrio’ entre oferta e demanda vê-se incrementado pola especulaçom.

Qual pode ser a evoluçom futura do preço do petróleo?

Provavelmente, o preço do petróleo continue a flutuar de forma forte no futuro, marcando o ritmo do agravamento da Grande Recessom nos aumentos e permitindo leves (e fictícias) recuperaçons nas diminuiçons. Isto acontecerá durante alguns anos.

A seguinte fase poderá ser a dum preço elevado e estável. Acontecerá quando exista uma escassez de cru manifesta e continuada, a menos que o desmoronamento económico tenha sido tam enorme que a demanda seja muito pequena. Ou, noutras palavras, isto acontecerá quando o petróleo deixe de ser o motor energético da economia e seja mais um artigo de luxo.

Que implicaçons tem um preço do petróleo alto?

O crescimento é indispensável para o funcionamento do capitalismo. Entre os fatores necessários para que exista crescimento, a disponibilidade abundante de energia barata é central. Por isso, a energia útil usada direta ou indiretamente para gerar um produto ou serviço e o PIB tenhem umha correlaçom quase linear. E, falar de energia atualmente é falar dos combustíveis fósseis (suponhem por volta de 90% da energia comercializada no mundo). Entre eles, o papel do petróleo é absolutamente central, sobretudo em sectores tam estratégicos como o transporte, a indústria petroquímica e a exploraçom doutras fontes energéticas renováveis e nom renováveis.

A correlaçom entre energia e crescimento deve-se a vários fatores que se derivam de que, simplesmente, nom há atividade económica sem energia:

1. A disponibilidade energética é um elemento central do aumento da produtividade, ao permitir que umha pessoa gere mais bens por hora graças ao uso de máquinas.

2. A subida do preço do petróleo implica que os custos das matérias primas, os produtos manufaturados e o transporte aumentem. Para tentar controlar a inflaçom, os bancos centrais costumam aumentar o preço do dinheiro, o que tende a limitar o crescimento por falta de crédito.

3. Este crescimento dos preços, assim como a diminuiçom na produtividade, retrai o consumo num cenário de crise (desemprego, reduçom salarial), o que incentiva mais a recessom.

4. A relaçom entre o preço da energia e o crescimento também estriba em que os custos de extraçom dos combustíveis fósseis estivérom notavelmente por baixo do seu valor económico, o que permitiu umha etapa de crescimento irrepetível.

5. Com um alto preço da energia, que é umha despesa impossível de contornar, simplesmente fica menos dinheiro para desenvolver outras partes da economia. A demanda total desce e a capacidade de investimento também. Aliás, este incremento da fatura energética nom produzirá mais energia e materiais.

6. Na medida em que um território seja um importador de energia, isto também implicará umha deterioraçom a balança comercial e umha maior dificuldade para encontrar financiamento.

7. Sem energia barata nom há transporte global, o que reduze as possibilidades dumha economia de escala e umha alta especializaçom, que som elementos centrais do crescimento.

8. A energia abundante e barata é a que gera confiança em todo o sistema e permite a criaçom de dinheiro e dívidas com a expectativa de que poderám ser recuperadas no futuro.

Deste jeito, há um preço do petróleo a partir do qual se dispara a recessom no capitalismo fossilista. Para os EEUU, o umbral para estar no barril de petróleo a 120-130 dólares. Em qualquer caso, a cifra nom é estática e depende da estrutura produtiva do país e do grau de complexidade (a maior complexidade, mais barato tem que ser o petróleo). Por exemplo, por causa da deslocalizaçom da indústria mais consumidora de energia das regions emergente, o umbral nas centrais aumentou e nas receptoras diminuiu (podem permitir-se umha menor fatura energética antes de entrar em crise).

E um preço baixo?

Entóm, se a energia barata é um requisito básico para o crescimento, um barril a 30 dólares deveria ser umha boa notícia. Mas nom. Teria sido umha boa notícia em 2001 (e, claro, antes), quando as companhias petroleiras requeriam um barril a 9 dólares para cobrir custos; mas nom em 2016, quando esse barril pode atingir até os 120 dólares. Isto responde a que os custos de extraçom aumentou muito devido a ter ultrapassado o pico do petróleo convencional. Em Arábia Saudita rondam os 25 dólares/barril, os 30 dólares/barril no Irám e Iraque, 60 dólares/barril na Venezuela, 70 dólares/barril em México e a China, 90-100 dólares/barril nos EEUU e 120 dólares/barril no Canadá.

Para além disso, a rentabilidade dos investimentos é decrescente: em 1998-2005 a indústria petroleira gastou 1.500 milhons de dólares em exploraçom e extraçom, conseguindo 8,6 Mb/d adicionais. Em 2005 – 2013, o gasto foi de 4.000 milhons de dólares e o ganho de 4 Mb/d.

A isto é preciso acrescentar que cada vez é mais difícil conseguir investimentos por fatores como:

1- A viabilidade das companhias depende mais do seu atractivo especulativo do que produtivo (do valor das suas açons). Deste jeito, as empresas desviam os investimentos a atividades como a recompra das suas açons para manter o valor, em lugar da construçom de novas plantas, a manutençom da infraestrutura ou o desenvolvimento de novos campos. Isto, longe de ser umha conjuntura transitória, é um imperativo do mercado.

2- Nos últimos anos, os impostos sobre a atividade petroleira aumentarom consideravelmente na maioria de países extratores e nom é provável que isto mude conforme avançam os seus problemas fiscais.

3- Os custos também aumentam por causa do incremento de acidentes por causa das alteraçons climáticas e da menor acessibilidade dos recursos.

Isto plasma-se num desinvestimento. Acoplada à queda do preço do petróleo entre 2008 e 2009, diminuiu o investimento em exploraçom até 20%. Agora está a acontecer o mesmo: o investimento em exploraçom e desenvolvimento de novos campos petrolíferos reduziu-se em 15% em 2014 em relaçom a 2013, e 20% em 2015 em relaçom ao ano anterior. Isto traduz-se em que, a nível mundial, diminuirom as cabeças perfuradas em 50% desde o início da queda de preços atual.

Além desses problemas, o sector petroleiro está fortemente endividado (por volta de 500.000 milhons de dólares em 2015), o que nom só dificulta enormemente realizar novos investimentos, mas está a levar à falência a numerosas empresas do sector, nomeadamente as focadas na exploraçom do petróleo de rocha pouco porosa mediante fracking e as areias bituminosas. 81 empresas de serviços e campos petrolíferos forom à falência em 2015.

Esta situaçom afeta também às companhias estatais. Muitas delas sofrem perdas significativas (Pemex, Statoil, Petrobras). Aliás, desde que a economia dos seus países matriz depende em grande medida do cru (90% das receitas estatais em Arábia Saudita) e aumentarom muito as suas despesas, os preço mínimo para acertar as contas estatais é alto. No caso de Arábia Saudita, este preço mínimo ronda os 100 dólares/barril, e na Venezuela atinge 120-150 dólares/barril. Perante esta situaçom, alguns sectores estám a apostar por abrir-se ao investimento estrangeiro e às tecnologias das companhias privadas (México, Venezuela, Brasil, Argentina, Bahréin, Líbia, Irám, Noruega e mesmo Arábia Saudita) para manter o ritmo de extraçom. No entanto, as grandes multinacionais do petróleo, as investidoras naturais, estám a realizar o movimento contrário.

Por se fosse pouco, reativar a extraçom nom é algo singelo e nom se fai automaticamente conforme aumentam os preços. Primeiro, pola degradaçom da infraestrutura; segundo, polos altos custos económicos e temporários requeridos (que necessitam umha estabilidade nos preços); e, terceiro, porque será mais difícil que as investidoras confiem novamente na rentabilidade do petróleo após umha queda.

Desta maneira, a mistura entre desinvestimento e falência de empresas que deixa o cenário de baixos preços do petróleo pressagia um futuro com umha quantidade de petróleo disponível que diminuirá mais rápido que a disponibilidade geológica. Esta análise provavelmente está por trás das recentes quedas dos mercados financeiros com a diminuiçom do preço do petróleo. Antes de 2005, os mercados teriam aumentado com o descenso nos preços do cru.

Nom podem fazer nada os Governos?

É verdade que os Estados e as economias, sobretudo centrais, tenhem algum aguante. Possuem umha (relativa) capacidade para pagar altos preços do cru durante um tempo, como mostra que, após o pico de preços que desatou (com outros fatores) a Grande Recessom, a economia se recuperou ligeiramente, embora os preços se mantivessem altos até 2014. Isto conseguiu-se graças a umha injeçom maciça de dinheiro no sistema mediante a “relaxaçom quantitativa”, que mantivo a capacidade de compra da populaçom, os Estados e, nomeadamente, as empresas (ademais de inchar a bolha do fracking). Mas esta é umha política nom sustentável no tempo. Por um lado, porque nom parece muito razoável baixar os tipos de interesse por baixo d 0, onde basicamente já estám. Por outro lado, porque o dinheiro fictício criado necessita espaços onde investir para que poida reativar a economia, o que é cada vez mais difícil. E, o mais importante, nom se podem imprimir barris de petróleo e, sem energia barata, a economia financeira nom poderá manter este enquadramento.

Também se pode argumentar que já se viverom situaçom de carência de combustíveis, como durante a II Guerra Mundial ou nas crises energéticas dos setenta, e que em nengum caso as economias chegarom a colapsar. Porém, nas crises dos setenta o desajuste entre oferta e demanda foi de 5-7% e durou apenas uns poucos meses. O cenário em que estamos é de alta volatilidade, com picos que poderám ser superiores aos 150 dólares/barril e um desfase entre oferta e demanda crescente, que poderia chegar a 70-90%.

Isto tudo gera um cenário em que nom haverá possibilidade de escapar ao colapso da economia fossilista.

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