Escolhido pelo governo Bolsonaro para comandar a Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo tem discurso racista associado a práticas do presidente – Reprodução/Facebook
Para especialista, aliado de Bolsonaro “ataca a própria construção que o permitiu chegar onde está”, sem nem perceber
Ao responder as denúncias de assédio moral, feitas por 16 servidores e ex-funcionários da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, presidente do órgão, mostrou, mais uma vez, descontrole e utilizou um linguajar característico dos bolsonaristas. “Assédio moral é o brioco de quem me acusa”, escreveu.
No último domingo (29), a TV Globo revelou que Camargo é alvo de denúncias por impôr uma rotina de humilhação e terror psicológico aos trabalhadores da Fundação Palmares. As acusações basearam uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) contra o presidente da entidade.
Para o psicanalista Kwame Yonatan Poli dos Santos, Camargo foi colocado por Bolsonaro à frente da Fundação Palmares para “acabar com o movimento negro”, e ele, assim, “ataca a própria construção que o permitiu chegar onde está.”
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“Ele mostra uma facilidade de adaptação ao discurso do mito da democracia racial, mas ele é negro. Ele segue um grupo de pessoas que criou isso, mas que são brancos e se privilegiam desse sistema. É um sistema que aniquila pessoas como ele. As coisas que ele diz é puro Estado suicidário, como diria o filósofo”, critica Santos.
O conceito de Estados suicidários foi desenvolvido pelo filósofo francês Paul Virilio (1932-2018). Seria a característica final, e o inevitável desfecho, de todos os Estados que têm o tecnicismo e o progresso econômico por si só como elementos principais de sua existência, sem levar em consideração outros aspectos que compõem a sociedade.
Assim, o conceito de suicida se encaixa porque, enquanto busca seus objetivos finais vai exaurindo seus próprios recursos naturais e humanos, em busca do aumento da produção e do consumo para atender a uma estrutura de mercado econômica neoliberal.
Para além desse tipo de paralelo, o psicanalista afirmou que não há como, à distância, analisar Camargo mais profundamente, mas que alguns sinais são evidentes.
“O Sérgio Camargo não segue nenhuma das leituras de relações sociais construídas dentro do movimento negro. Ele fala pelo governo Bolsonaro. A escolha do Sérgio Camargo, em outra dimensão, é uma escolha para produzir essa dissociação. O fato dele ser negro e produzir falas que reproduzem o racismo, visa produzir esse choque, de que racismo não existe. Em resumo, ele visa reforçar o mito da democracia racial.”
Por fim, Santos arrisca um palpite sobre o futuro de Camargo. “Ano que vem ele será eleito com o voto de muitas pessoas brancas, que se sentirão representadas por um negro que luta contra o próprio movimento.”
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Histórico
Esse é apenas mais um dos episódios grotescos produzidos por Camargo à frente da Fundação Palmares. Apesar de ser responsável pela preservação histórica e cultural da população negra, o bolsonarista a ataca veementemente desde que assumiu o posto, em 13 de março de 2020.
Em 30 de abril deste ano, em reunião a portas fechadas com servidores da Fundação Palmares, Camargo criticou o Dia da Consciência Negra, xingou Zumbi dos Palmares e atacou o movimento negro, a quem chamou de “escória maldita”.
Alguns dias depois, o titular da fundação resolveu atacar representantes do rap nacional. “Projetos com rappers serão aceitos na Fundação Palmares somente após rigorosa checagem da vida pregressa dos ‘artistas’. Aqueles que se enveredam pelo caminho do crime, da apologia das drogas e da putaria, ou se deixam usar como capachos da esquerda, jamais serão contemplados.”
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Em dezembro de 2020, Camargo anunciou a exclusão de 27 nomes da lista de personalidades homenageadas pela Fundação Palmares, como Martinho da Vila, Conceição Evaristo, Elza Soares, Gilberto Gil, entre outros.