Por Jessé Souza
O QUE A ESQUERDA DEVE FAZER?
É difícil imaginar ser humano mais asqueroso moralmente e mais limitado intelectualmente do que o presidente da República Brasileira Jair Bolsonaro. Ninguém no mundo civilizado o quer por perto. Todos o evitam como se ele fosse portador de uma doença contagiosa e incurável. Nunca o Brasil foi tão ridicularizado como hoje em dia. Sua eleição, sempre fundamental lembrar, foi um “protesto” da classe média imbecilizada pela imprensa venal da elite, aliado às frações ressentidas e empobrecidas das classes populares. Estas últimas, empobrecidas e desempregadas sem compreender as causas reais e, portanto, também enganadas pela “corrupção dos tolos”, protagonizada por Sérgio Moro e seus asseclas da famigerada “Lava Jato”. Portanto, sem a farsa de Moro e da lava-jato não teríamos o maluco no poder.
Mas o “protesto” do voto no aloprado deveria se restringir à uma espécie de negação “simbólica” e momentânea do processo civilizatório brasileiro que estas eleições representaram. Cuja causa real é a rapina da própria população pela elite, travestida de bode expiatório da “corrupção política” para a população enganada. Bolsonaro era, para estes incautos desprovidos de reflexão produzidos por uma esfera pública manipulada e comprada, a negação contra todo o mal. A raiva e o desespero do empobrecimento não explicado nas suas causas reais foram o combustível do protesto dos imbecilizados unidos.
Recuperados da embriaguez patrocinada pelos inimigos da sociedade brasileira dentro e fora dela no período eleitoral com fraudes de toda espécie, os brasileiros percebem hoje que foram, mais uma vez, feitos de tolos. O cara na presidência é, no mínimo, um louco digno de hospício senão de cadeia, como as investigações reabertas agora podem indicar. A elite já decidiu que não o quer mais e os jornais mais conservadores, a “boca” da “elite do atraso”, como o Estadão e O Globo, já passam a senha de modo claro.
O seu braço no aparelho de estado, muito especialmente o ministério público, já desenterrou investigações que de outro modo seriam empurradas para debaixo do tapete. Começou o ordálio de morte de Jair Bolsonaro. O futuro de Bolsonaro deve ser a renúncia ou, como louco não renuncia à própria loucura, o “impeachment”. Bons motivos, ao contrário do “golpeachment” contra Dilma, não faltarão.
Ninguém em sã consciência poderia querer no comando da nação um sujeito sem competência para ser síndico de prédio. A questão agora passa a ser como as forças progressistas poderão tirar maior proveito deste desatino. O instante é propício para um aprendizado político importante. Seria um erro personalizar todo o processo na figura do capitão trapalhão.
Nesse sentido é fundamental que os protestos populares e estudantis se acirrem até a queda final. Estes foram os primeiros protestos de rua das forças progressistas desde a “revolução dos tolos” de 2013. Ainda que grupos de esquerda tenham iniciado aqueles protestos, estes foram quase que imediatamente cooptados pelos conservadores. Este fato é fundamental para a renovação da política brasileira que, precisa criar uma pauta proativa para não ser condenada à mera reatividade política contra o Bolsonarismo aloprado. Infelizmente este é precisamente o quadro atual.
Precisa também criar novas lideranças políticas que possam recuperar o terreno perdido, muito especialmente com o crescente público evangélico, o mais passível de pregação e manipulação conservadora. E, mais importante, embora a esquerda apequenada e colonizada intelectualmente eventualmente jamais entenda isso: é necessário aproveitar o momento atual, de profunda crise moral e política, para denunciar a “corrupção dos tolos” como a causa de toda manipulação simbólica da sociedade pela elite e por sua imprensa. Afinal, Bolsonaro é filho deste engodo. E depois dele surgirão outros “xerifes”.
A superficialidade de nossos quadros políticos atuais, muito especialmente na “esquerda”, talvez não permita a percepção do cavalo selado passando à sua frente. Mas a oportunidade de se construir uma contranarrativa da esparrela elitista, rente aos fatos e, portanto, compreensível por todos, nunca esteve tão a mão. A tarefa é ligar o desastre que Bolsonaro representa à Lava Jato e suas mentiras. Sem isso, não existirá narrativa de “esquerda” no Brasil.
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