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quinta-feira, 6 fevereiro, 2025

O Irã e a ideia de transferir a sua capital: uma alternativa real?

O Irã está a colocar sobre a mesa a opção de transferir a sua capital para outra região para aliviar a pressão sobre Teerão. É uma alternativa real?

Por Xavier Villar

No âmbito do debate sobre a transferência do capital político do Irão, o presidente dos Conselhos e da Comissão de Assuntos Internos do Parlamento iraniano, Mohamad Saleh Jokar, concedeu uma entrevista a um jornal local. Durante a conversa, Jokar destacou que a ideia de transferir o capital político de Teerã está em discussão há mais de duas décadas.

A proposta, segundo o parlamentar, surge em resposta aos problemas crescentes que têm tornado a vida na capital cada vez mais insustentável. A sobre população, o colapso das infraestruturas urbanas e o aumento do congestionamento do tráfego são apenas alguns dos fatores que impulsionaram a necessidade de explorar alternativas. Com mais de 8 milhões de habitantes, Teerã enfrenta uma pressão constante sobre os seus recursos, o que leva as autoridades a considerar opções para descongestionar a cidade e redistribuir as funções governamentais.

Embora a medida não seja uma medida imediata, o debate sobre a sua viabilidade continua a ganhar força, refletindo a crescente preocupação com a sustentabilidade de Teerã como sede do Governo. No entanto, os detalhes sobre os desafios logísticos, económicos e sociais associados à mudança ainda permanecem por resolver.

O deputado Mohamad Saleh Jokar explicou que a transferência do capital político tem sido considerada uma questão estratégica e que, para esse efeito, foi criado um conselho encarregado de tomar decisões sobre esta transição, no qual participam o presidente e outras autoridades chave. No entanto, criticou que muitos governos anteriores não deram a importância necessária ao tema e, em muitos casos, nem sequer convocaram reuniões sobre o assunto.

Jokar observou também que embora alguns governos tenham realizado reuniões sobre a possível relocalização da capital, não foram tomadas decisões sérias ou concretas. Na sua opinião, uma das decisões mais difíceis para o conselho será determinar a nova localização da capital política.

Quando questionado sobre onde deveria ser localizada a nova capital, Jokar respondeu:

“A capital política deve estar localizada em um local acessível a toda a população do país, mesmo aqueles que vivem nas áreas mais remotas. No entanto, está capital não deverá sofrer problemas como trânsito ou congestionamento urbano.” A área urbana de Teerã, com uma área de 730 quilômetros quadrados e uma densidade populacional de 125 pessoas por hectare, está classificada entre o 20º e o 25º lugar no mundo em termos de densidade populacional. O que realmente chama a atenção nesta área é a distribuição da população e as atividades econômicas internas. Segundo estimativas, mais de 20% da população e 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país estão concentrados nesta região. Além disso, a densidade populacional em Teerã é 20 vezes superior à média nacional, o que gerou uma elevada concentração populacional e de atividades económicas, intensificando os desafios relacionados com a sustentabilidade e infraestruturas da cidade.

Por causa desses problemas, a ideia de transferir a capital de Teerã para outra cidade é considerada há anos. A primeira vez que foi levantada a possibilidade de transferir a capital para cidades próximas foi no final da guerra entre o Irã e o Iraque, ocorrida na década de 80 do século XX. Este conflito de oito anos deixou o país com infraestruturas gravemente danificadas e problemas econômicos significativos, levando as autoridades a considerar alternativas para aliviar a pressão sobre Teerão. Desde então, o assunto foi abordado diversas vezes. Nos últimos anos, a questão tem sido repetidamente discutida no governo e no Parlamento da República Islâmica do Irã, refletindo a crescente preocupação com a sustentabilidade e a qualidade de vida na capital.

Em 2012, foi apresentado um plano intitulado “Tradução do capital administrativo e político” com o objetivo de abordar os múltiplos desafios enfrentados pela grande cidade de Teerão. No âmbito deste plano, foram implementadas diversas resoluções governamentais destinadas a realizar uma “sem tradução” da capital. De acordo com estas resoluções, aprovadas durante o governo de Mahmoud Ahmadinejad, foi decidida a transferência de funcionários de diversas agências, instituições e órgãos governamentais localizados em Teerão para outras cidades, a fim de descongestionar a capital. No entanto, apesar dos esforços iniciais, a implementação destas medidas foi suspensa devido a vários obstáculos logísticos e financeiros, o que atrasou o andamento da proposta.

As razões apresentadas para a mudança da capital nos últimos anos centram-se principalmente no trânsito, na poluição atmosférica e no risco de sismos. Estes fatores exacerbaram os problemas de qualidade de vida em Teerão, uma cidade que enfrenta uma pressão crescente nas suas infraestruturas e recursos. Contudo, no contexto atual, estas preocupações são agravadas por outros desafios significativos, como os problemas sociais, a má prestação de serviços básicos, as questões ambientais, a insegurança e o aumento excessivo dos preços no mercado imobiliário. A acumulação destes problemas intensificou o debate sobre a necessidade de reconsiderar a localização da capital, numa tentativa de aliviar a sobrecarga que Teerão enfrenta e garantir um futuro mais sustentável para a cidade e os seus habitantes.

No entanto, este plano também encontrou forte oposição. As razões apresentadas pelos detratores centram-se principalmente em dois pontos: “organizar a situação em vez de a mover” e “os encargos financeiros e os elevados custos” associados à sua mudança. Nesta perspectiva, argumenta-se que, em vez de transferir a capital, os problemas de Teerã poderiam ser resolvidos através de uma melhor organização e de uma gestão mais eficiente dos recursos e serviços urbanos. Desta forma, acredita-se que a cidade poderia ser revitalizada sem a necessidade de realocação de instituições governamentais, melhorando assim a qualidade de vida sem recorrer a reestruturações dispendiosas.

Além disso, salienta-se que a transferência do capital implicaria um encargo financeiro considerável, com custos elevados associados à construção de novas infraestruturas, à deslocalização de agências governamentais e outras complicações logísticas que poderiam resultar num investimento não rentável a longo prazo. .

Este debate pode ser analisado a partir da geografia política, uma vez que a capital de um país é normalmente uma cidade densamente povoada, com uma rica história ligada às funções políticas e económicas de alto nível ali desempenhadas. No entanto, por vezes os líderes governamentais optam por mudar a capital para outra cidade. Ao longo da história, este tipo de transferência tem sido uma prática recorrente em diversas culturas e épocas. Os antigos egípcios, romanos e chineses, por exemplo, mudavam frequentemente de capitais, procurando novas localizações que oferecessem vantagens estratégicas, económicas ou de segurança.

Alguns países escolhem novas capitais em locais que são mais facilmente defensáveis ​​em tempos de invasão ou guerra. Noutros casos, novas capitais são planeadas e construídas em áreas anteriormente subdesenvolvidas, com o objetivo de promover o desenvolvimento económico e social em regiões menos urbanizadas. Além disso, em situações de tensões internas, algumas nações optam por localizar a nova capital em regiões consideradas neutras para grupos étnicos ou religiosos em conflito, procurando promover a unidade, a segurança e a prosperidade nacional.

Ao longo da história moderna, vários países tomaram a decisão de realocar a sua capital por vários motivos. Exemplos notáveis ​​incluem os Estados Unidos, Rússia, Canadá, Austrália, Índia, Brasil, Belize, Tanzânia, Costa do Marfim, Nigéria, Cazaquistão, a antiga União Soviética, Birmânia e Sudão do Sul. Estas medidas refletem a complexa interação de fatores políticos, económicos, sociais e de segurança que influenciam as decisões governamentais, e destacam como as necessidades de cada país determinaram a localização da sua sede governamental em momentos chave da sua história.

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