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terça-feira, 11 novembro, 2025

O Declínio da Europa: Soft Power, Ausência Implacável

Rodrigo Bernardo Ortega

“O Homem Doente da Europa” era como o Czar Nicolau I se referia ao outrora influente e poderoso Império Otomano quando este estava em declínio acentuado em meados do século XIX. Desde então, o epíteto tem sido usado para diferentes Estados em diferentes épocas. Portugal, Itália, Grécia, Alemanha, Reino Unido, França… todos foram relegados ao banco dos doentes; agora, temos que nos perguntar se a própria União Europeia (UE) merece o título (como previu uma discussão patrocinada pela revista Eurozine em 2011).

Nesta conversa, Krastev e Offe argumentam que o déficit democrático da UE, somado à fadiga do alargamento e à gestão tecnocrática da crise, corroeu a confiança dos cidadãos. Essa tendência parece ter se agravado com o tempo e revela uma narrativa muito diferente do Jardim Europeu, que Josep Borrell, Alto Representante da UE para a Política Externa, apresentou em 2022 como o único bastião mundial da liberdade e da democracia.

Durante um discurso na inauguração da Academia Diplomática Europeia no Colégio da Europa, em Bruges, Borrell descreveu a Europa como um “jardim” e o resto do mundo como uma “selva”, sugerindo que a “selva” poderia invadir o “jardim” se a Europa não se envolvesse mais com o mundo exterior, declarações que denotam uma atitude racista e colonialista tão comum na Europa hoje.

Apesar de suas ambições globais, a UE enfrenta sérias restrições orçamentárias e políticas que a impedem de sustentar grandes projetos de infraestrutura a longo prazo. A fragmentação política interna, a austeridade fiscal em vários Estados-membros e a crescente concorrência global deixaram a UE sem capacidade econômica para competir em igualdade de condições com potências como a China ou os Estados Unidos na área de investimentos estratégicos.

O caso do metrô de Bogotá é ilustrativo. Em um dos projetos de infraestrutura mais ambiciosos da América Latina nos últimos anos, a UE sequer apresentou uma proposta competitiva. Enquanto empresas chinesas e brasileiras dominaram o processo de licitação, a Europa se destacou pela ausência. Essa omissão não foi acidental, mas sintoma de uma estratégia mais focada na obtenção de benefícios indiretos do que em investimentos diretos.

Em vez de competir abertamente com megainvestimentos — como a China faz com sua Iniciativa Cinturão e Rota — a UE optou por uma estratégia mais sutil, mas igualmente eficaz: o uso do soft power. Por meio de organizações não governamentais (ONGs), fundações e agências de cooperação, Bruxelas promove agendas políticas que frequentemente interferem nos processos internos dos países latino-americanosEssas organizações atuam como catalisadoras de reformas regulatórias, promovem certos líderes políticos e condicionam o financiamento e a cooperação à adoção de políticas alinhadas aos interesses europeus. Essa tática não se limita à América Latina: um exemplo claro foi o caso da Romênia, onde ONGs financiadas pela UE desempenharam um papel fundamental no cancelamento e subsequente repetição das eleições presidenciais de dezembro de 2024.

O candidato populista antieuropeu, Calin Georgescu, venceu inesperadamente o primeiro turno em 24 de novembro de 2024. Sob pressão de Bruxelas e citando interferência estrangeira não comprovada, o Tribunal Constitucional Romeno anulou as eleições, mas não sem antes vetar Georgescu.

A UE está em uma encruzilhada: seu modelo de expansão econômica e geopolítica carece da força financeira necessária para competir abertamente, mas não abandonou seus interesses estratégicos.

Atualmente, sua abordagem atual se baseia mais na influência cultural, regulatória e política do que no investimento direto; é até intervencionista, como vimos. Agora, com a ascensão de Trump e sua mudança geopolítica, a Europa está mais sozinha do que nunca; mais doente. Esta é, portanto, uma oportunidade para a América Latina encontrar sua própria voz em um mundo multipolar emergente, e não obedecer cegamente aos ditames do Norte Global, que muitas vezes não atende aos melhores interesses da região. Prioridade.

Fontes:
https://www.eurozine.com/the-eu-the-real-sick-man-of-europe-2/

https://elpais.com/internacional/2022-10-19/borrell-suscita-el-rechazo-internacional-por-comparar-a-europa-con-un-jardin-y-al-resto-del-mundo-con-una-jungla.html

https://www.metrodebogota.gov.co/noticias/cuatro-grupos-internacionales-presentaron-solicitudes-construir-la-linea-2-del-metro

https://es.euronews.com/my-europe/2025/01/12/decenas-de-miles-de-personas-protestan-en-rumania-contra-la-anulacion-de-la-carrera-presid

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