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quinta-feira, 18 abril, 2024

O crime compensa? – A faca é cega, mas ainda corta

Pensata de Silas Corrêa Leite

Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão.
(Carl Jung, In, A Prática da Psicoterapia)
-… vc prepara a sua própria alma para as sequelas futurais; vc se prepara confortavelmente para ser e permanecer uma coisa que na verdade não tem nada a ver com vc, mas vc se sustenta na hipocrisia, na pose e na falsidade, mal sabendo que numa curva do tempo, numa curva do caminho, dou do destino tampão, virá o retorno do que plantou naquilo que vc achou como vida certa. Como eu, bobo, querendo escrever o livro perfeito, o livro ideal, o romance consagrador, e, numa simples poesia minha, resumo as minhas próprias neuras: “Estou tentando escrever um livro perfeito/Ainda não consegui/Um livro ideal nunca cabe em si…”
… vc faz o caminho ao caminhar, disse o poeta, e vc pelas referências de berço e criação, estudos e bases do clã, leituras e problemas, facilidades e facilitações, cursos e sofrências, acaba com isso tudo alimentando o seu pensar, a sua persona, a sua estrada de tijolos amarelos, e vc aqui e ali num malfeito passageiro checa a impunidade de ocasião e de circunstância, ninguém sacou, vc impune, ileso, segue em frente, errando e acertando, e há erros portáteis, há acertos de reformatação do caráter, quando se vê, vc, corrompido pelo meio ou como sequela de DNA ancestral de purgações, mais uma justiça que tarda e falha possivelmente um dia surpreende vc, a mão do destino, acaso ou ocaso, e vc ainda grita, feito coió inocente sem prumo, pior, sem caráter: -Por que eu? E os outros?
-… vc sabe, desde que nasceu, protegido em casa ou se ocupando logo de tentar mudar o mundo que recebeu ao nascer, e o caminho é o que vc recebe com religião, as vezes inócua ou boba, educação, as vezes severa, as vezes errada, estudos, que vc apreende cem por cento e evolui, ou pega diploma só por resultante burocrática, quando se vê, a vida pune vc, a vida cobra vc – a faca é cega mas ainda corta – e vc não foi treinado forte para ser forte, acaba um bebê babão, sanguessuga, parasita, todo mundo ajudando vc e vc sendo omisso, tentando não encarar nada, não enfrentar ninguém, não comprar briga; é mais fácil e mais cômodo, e nesse angu de caroço do mundo vc não tem porte de alma para ser guerreiro, mas, por ser fraco e aceitar as coisas erradas como elas são, dá nisso, um frouxo, um pangaré. Afinal, viver não é só abanar o rabo. O que há de errado com vc, depois de tudo? Vc foi testado e repetiu, perdeu pra vc mesmo. Vai encarar?
-… daí vc descobre, cedo ou tarde, aqui ou ali, num acidente de percurso, que a ocasião faz o furtador, faz o ladrão, como a ocasião fez o bobão, e vc se surpreende tentando levar vantagem também, aproveitar-se de uma situação para um malfeito concorrido em seu clã ou em seu meio escuso, e vc não perde a oportunidade de enriquecimento ilícito, de passar coisas como bens ilícitos para o seu nome ou no nome de um laranja de ocasião, que não foram conquistas com muito trabalho, suor e sangue, quando se vê, vc tem o que não deveria ter, não poderia ter, não merece ter, mas vc tem e pensa que engabela todo mundo, porque seu meio prostituiu vc. Mas a fila anda, as pessoas sacam, e vc posudo gastando mais do que ganha, tendo mais do que o que recebe mensalmente, quando se vê, vc é corrupto e posa de santo, mas finge, alega que todo mundo faz, porque vc não iria fazer também? Perdeu rapazinho, perdeu, perdeu, perdeu… Perdeu a chance de ser aprovado como íntegro, honesto, transparente, digno, justo.
-… a faca é cega, mas ainda corta. O destino-mãe? Ou a infração madrasta? A ocasião faz o ladrão? O meio conspurcado? A família com problemas e vc querendo ser melhorzinho, quando fundo é igualzinho até mesmo por resultante ou sequela? Vc perdoa, deixa para lá, releva, alegando querer paz, não esquenta a cabeça, não topa fazer barulho, quando se vê, vc não tem moral para criticar quem é o seu reflexo do espelho. Mas não há evolução na paz. Só ignorantes não têm inimigos. Desde o berço birrento, turrão, ledor voraz, estudante exemplo, não gostar de coisas erradas, de injustiças, de errar propositalmente para conseguir, de ferir para vencer, quando se vê, vc é forte por evolução natural, e tem grandes conquistas limpas. Já pensou que chiqueza?
-… não há conquista fácil que valorize o conquistador. Não há batalha que se ganhe amarrando seu burro na sombra. Não há sorriso limpo se vc está engolindo sapo, não há pose serena se vc é falso. Não há valor na posse se o bem adveio de improbidade. O seu meio familiar faz a sua cabeça, para o bem e para o mal. Freud explica. Algemas também. O seu meio se for corrupto, e vc vence nele, vc é corrupto também. Ser vencedor com as mãos sujas nesses tempos tenebrosos de impunidade por atacado, é feio, triste, injusto; fere seu rito de passagem nesse mundo insano, e vc se dá um atestado de falso, de corrupto de cara lavada, achando que os julgadores não têm nada com isso, quando vc é que não tem caráter, moral e uma vida pregressa transparente.
-… quando vier a dobra do tempo cobrar vc, punir vc, revelar vc pra vc mesmo e para o seu meio, o que vc vai fazer da vergonha, da desonra, dos arremedos, querendo ser o que não é, pensando que era o que não era, se passando por uma coisa que mascara a sua realidade? Vai doer mais em vc, ou nos seus familiares, filhos, seguidores, parentes, amigos, colegas de trabalho? A vida não é só aqui? Viver não é só aqui? E o seu amanhã? E se houver uma nova vida, como será a sua de pagador do que se fizer devedor? Vai repetir de vida? De onde viemos, para onde vamos, o que vc fez da vida que recebeu para viver e evoluir, se vc se corrompeu, se estragou, retrocedeu, estragou tudo, perdeu feio, e valeu-se do famoso jeitinho brasileiro para certas conquistas ilícitas?
-… o que veio da dor e sofrimento, labuta, fará vc vencedor com justeza e graça. O que veio fácil e na moleza de um malfeito um dia causará a dor da revelação da invalidade, da improbidade, do dezelo ético pessoal. Na dor valoramos as coisas certas, na facilidade achamos que merecemos ou que não fizemos certo. Na dor respondemos presentes e alargamos as costas para suportarmos a cruz. Na facilidade enchemos o bolso, fulguramos a pose, arrotamos grandezas pífias, e continuamos parvos e rasos e fracotes. O que vem fácil, desmerece o facilitador, o que vem com dificuldades, valora o conquistador. Simples assim.
-… o tempo passa, diz-se que o melhor juiz é o tempo, a justiça tarda e falha, acertamos e erramos, mas erro que podemos errar, é aquele que podemos compartilhar com todo mundo, e rirmos deles, e parecermos frágeis que é o que realmente somos, como paradoxais, fracos, limitados, humanos, portanto… Erro que escondemos de dizer, que fingimos para dissimular, que disfarçamos para parecer certo, que camuflamos, que ninguém sabe, mas se souberem pagaremos caro e seremos apenados, então é um erro que macula sua vida, camufla seu falso caráter, identifica vc como errado e impune.
– … em qual tabela de meritocracia real vc se enquadra?
-… errar, humanus est. Escolher seu erro pessoal que classifique circunstancial impunidade e descoberta improvável para evitar sanção legal, é afinal vc por vc … você com você mesmo! Vai encarar?
-… para vc o crime compensa?
-0-
*Silas Corrêa Leite
Professor, conselheiro diplomado em direitos humanos, jornalista comunitário, ciberpoeta e escritor premiado, livre pensador humanista, consta em mais de oitocentos links de sites, até no exterior, entre eles Cronópios, Observatório de Imprensa, Correio do Brasil, EisFluências, Pravda (Rússia) e outros, Prêmio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Prêmio Paulo Leminski de Contos, Prêmio Ignácio de Loyola Brandão de Contos, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (São Paulo, Gestão Marilena Chauí), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás, Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda),   Prêmio Instituto Piaget/Cancioneiro infanto-juvenil, Portugal, vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP-Parceiros do Tietê/Jornal O Estado de São Paulo/Rádio Eldorado) entre outros, publicou em revistas, jornais, tabloides, fanzines, como Revista da Web, Trem Itabirano, Panorama Editorial, Revista Construir, DF Letras, Mundo Lusíada (Portugal, etc. Autor, entre outros, de Porta-Lapsos, Poemas, All-Print, SP, Campo de Trigo Com Corvos, contos premiados, Editora Design, SC (finalista no Telecom, Portugal), DESVAIRADOS INUTENSILIOS, Editora Multifoco, GOTO, A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, romance,  GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, romance, e O Menino Que Queria Ser Super-Herói, romance infantojuvenil, ambos a venda site Amazon e do ebook de sucesso O RINOCERONTE DE CLARICE, onze contos fantásticos, cada ficção com três finais, um final feliz, um final de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, destaque na grande mídia (Estadão, Diário Popular, Revista Época) inclusive televisiva, por ser o primeiro livro interativo da rede mundial de computadores, tendo sido entrevistado por Márcia Peltier (Momento Cultural/Jornal da Noite, REDE BAND), Metrópolis e Provocações (TV Cultura), entre outros, e a obra, por ser pioneira e única no gênero, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria Linguagem Virtual, do Mestrado de Ciência da Linguagem da UNIC-Sul de SC, tese de Mestrado na Universidade de Brasília e tese de Doutorado na UFAL. Seu estatuto de poeta foi vertido para o espanhol, francês, inglês e russo. Contatos: poesilas@terra.com.br

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