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quinta-feira, 28 março, 2024

O caos dos últimos dias de Trump no poder

“A polícia do Capitólio falhou em seu dever de proteger as duas câmaras do Congresso”

Por Ines Pohl/DW Brasil

Ataques de Trump ao sistema democrático levaram apoiadores do presidente a tentar um golpe ao invadirem o Capitólio. Ele claramente prefere ver a república desmoronar se não puder ser seu líder, opina Ines Pohl.

Os ataques de Donald Trump ao sistema democrático chegaram ao auge. Suas declarações na manhã desta quarta-feira (06/01), perpetuando as conspirações bizarras de que a eleição que ele perdeu há dois meses foi roubada, levaram seus leais partidários a tentar um golpe.

Não há dúvida de que Trump é totalmente responsável e enviou sua leal multidão de nacionalistas brancos, teóricos da conspiração e milícias digitais para marcharem descontrolados pela capital do país.

Por gerações, os Estados Unidos têm sido um farol de esperança quando se trata de democracia e da transição pacífica de poder – mas Trump deixou claro para o resto do mundo que o sistema dos EUA também é frágil.

Facilitadores

É crucial notar que esse problema não foi criado apenas por Trump e seu estilo bombástico. Os facilitadores ao seu redor, que sempre descartaram sua retórica como hipérbole e fanfarronice online, também são culpados.

Isso inclui os 12 senadores e mais de cem deputados que concordaram que a eleição de novembro foi ilegítima (ou pelo menos questionaram os resultados). Eles não fizeram nada para parar o fluxo de desinformação e caos.

Os republicanos viram um autocrata com transtorno de personalidade controlar seu partido e foram cúmplices ao deixá-lo formar um governo que só funciona para ele, e não para o povo.

Queimando tudo

Enquanto parecia que a democracia estava queimando no Capitólio, o presidente Trump estava sentado dentro do Salão Oval, assistindo pela TV à destruição que ele iniciou. Demorou horas antes que ele fizesse uma declaração, pedindo gentilmente à sua turba que seja “pacífica”. Trump fez pouco esforço para controlar a situação, dizendo-lhes que, de fato, os “ama” e acredita que são “especiais”. E falava sobre uma multidão que exibe um desrespeito terrível pela democracia.

Faltando apenas alguns dias para a transição, parece que Trump planeja queimar seu partido e as bases da democracia junto com ele. Ele começou a atacar alguns de seus defensores mais leais, como o vice-presidente Mike Pence.

Trump deixou claro que o único bom republicano é aquele que o defende até o fim. Esse tipo de linguagem se disseminou através da mídia conservadora e das redes sociais, e levou à confusão que vimos em Washington na quarta-feira. Trump claramente não está preocupado com a república pela qual está encarregado e prefere vê-la desmoronar se não puder ser seu líder.

Polícia de dois pesos, duas medidas

A polícia do Capitólio, encarregada de proteger as duas câmaras do Congresso, seus membros e as centenas de trabalhadores dentro do prédio, falhou em seu dever. A maioria dos manifestantes não foi controlada enquanto invadia o plenário do Senado, quebrava janelas e até entrava no escritório da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. Eles foram autorizados a ficar nos degraus do Capitólio quase sem maiores incidentes.

No ano passado, quando ativistas do movimento Black Lives Matter marcharam pela cidade de Washington, eles foram recebidos com gás lacrimogêneo, cassetetes e um presidente indignado, pedindo que manifestantes pacíficos fossem presos por exercer seu direitos civis. Existe um padrão duplo claro: se você é branco e apoia Trump, você é um patriota. Do contrário, você é um anarquista perigoso que precisa ser submetido a gás lacrimogêneo e prisão.

Estamos assistindo ao ato final de um presidente que, vez após vez, incita a violência entre as pessoas que o veem como seu líder. Já passou da hora da transição do governo Trump para o governo Biden.

Ines Pohl foi editora-chefe da DW e atualmente é correspondente em Washington. O texto reflete a opinião pessoal da autora, e não necessariamente da DW.

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