Há várias semanas, o Site The Intercept, do jornalista e advogado estadounidense Glenn Greenwald, divulga diálogos ilegais que mostram o papel exercido por Moro e pelo promotor Deltan Dallagnol, coordenador da operação anticorrupção Lava Jato, durante as investigações contra Lula.
Em suas primeiras publicações, The Intercept denuncia que ‘as conversas entre Moro e Dallagnol demonstram que o ministro se intrometeu no trabalho do Ministério Público -o que está proibido – e foi bem recebido, atuando de maneira informal como um auxiliar da acusação’.
Precisa que a atuação regulada ‘entre o ex juiz e o Ministério Público por fora de audiências e autos (isto é, das reuniões e documentos oficiais que compõem um processo) fere o princípio de imparcialidade previsto na Constituição e no Código de Ética da Magistratura, além de desmentir a narrativa dos atores da Lava Jato de que a operação tratou a acusadores e acusados com igualdade’.
Moro e Dallagnol sempre foram acusados de operar juntos e confabulados na Lava Jato, mas não tinham provas explícitas dessa atuação conjunta até agora, reafirma o portal.
‘Este é só o começo do que pretendemos fazer: uma investigação jornalística contínua das ações de Moro, do procurador Deltan Dallagnol e da força de tarefa de lava-a Jato, além da conduta de inumeráveis indivíduos que ainda têm um enorme poder político e econômico dentro e fora de Brasil’, assinalou um primeiro editorial assinado por jornalistas de The Intercept.
Pelas filtragens das inéditas práticas fica confirmado que os promotores da Lava Jato conversavam abertamente e de maneira insolente sobre sua vontade de impedir o triunfo do Partido dos Trabalhadores (PT) na última eleição presidencial em outubro.
E para atingir tal objetivo assumiram ações e adotaram medidas. Moro colaborou de maneira clandestina e antiética, com os promotores da operação, para estruturar uma acusação e incriminar o ex dirigente operário.
Às claras, o ex magistrado liderou o processo contra Lula enquanto fingia ser um juiz neutro. Seu papel de chefe da força de tarefa era tão evidente que Dallagnol se desculpou quando adiou a obediência às ordens de Moro.
Os intercâmbios dos correios entre eles revelam uma colaboração proibida e sem medir consequências o ex togado deu conselhos estratégicos e pistas informais da investigação.
Isto é, elaborava uma lista da ordem dos elementos da indagação, das pessoas a interrogar e áreas a explorar, para depois ele mesmo julgar o ex metalúrgico.
Disfarçado nessas indevidas manobras e sem provas confirmadas, Moro condenou em 2017 Lula a nove anos e seis meses de prisão por supostamente ter recebido um apartamento de luxo em uma praia de São Paulo, em troca de favores políticos à construtora OAS. O ex governante nega todas as acusações.
Pressionado pelo escândalo, o fanfarroneado caçador da corrupção no Brasil tentou explicar e justificar no Senado as irregularidades que cometeu e que ficam a nu em seus chats com agentes públicos, difundidas por The Intercept.
Depois de sua apresentação no Senado em 19 de junho, o PT considerou que Moro atuou com esquivas e ataques à imprensa.
‘Discurso ensaiado, evasivas e memória seletiva: esse foi o guião do depoimento do ministro da Justiça, Sérgio Moro, quem assistiu à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, para tratar as denúncias do site The Intercept Brasil’, indicou a organização política.
Referiu que ‘blindado pela base bolsonarista (do presidente Jair Bolsonaro), Moro deixou sem resposta as pergunta inconvenientes formuladas pelos senadores que pretendiam mostrar as acusações trazidas à luz pelo The Intercept -mensagens trocadas entre o então juiz, que devia julgar os processos da Lava Jato, e uma das partes nestes casos, os responsáveis pela acusação, o que constituiria prevaricação’.
Segundo o senador Humberto Costa, do PT, ‘você (Moro) enganou milhões de brasileiros… Peça desculpas e tenha a humildade de pedir sua saída do cargo, pois não cabe a uma pessoa com todas essas acusações graves ser chefe da Polícia Federal’.
‘Mente de forma tão descarada que não consegue dar coerência ao próprio discurso’, estimou Costa.
Comentaristas políticos asseguram que agora Moro começa a surfar na mentira que o leva e bebe gota a gota a verdade que o atormenta e pode levá-lo a renúncia.
arb/ocs/jcfl
*Correspodente da Prensa Latina no Brasil.