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segunda-feira, 14 julho, 2025

O Brasil e a questão energética

Pedro Pinho*

José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) foi escritor, advogado, empresário e nacionalista. Em 1936 publicou “O Escândalo do Petróleo”, criticando a ausência do governo na pesquisa do petróleo no Brasil. Ele mostrava as descobertas já realizadas na Venezuela, na Colômbia, no Peru, na Bolívia e na Argentina e questionava: cercado de petróleo por que ele não existe no Brasil?

Fotografia antiga de Monteiro Lobato, um dos mais famosos escritores brasileiros - Domínio Público via Wikimedia Commons

Domínio Público via Wikimedia Commons

Certamente a campanha de Monteiro Lobato muito ajudou Getúlio Vargas e a criação, em 1954, da Petrobrás.

Igualmente importante foi a nacionalização do petróleo que Lázaro Cárdenas, presidente do México de 1934 a 1940, realizou em 1938, criando a Petróleos Mexicanos (PEMEX) para assumir a administração desta fonte de energia. A data 18 de março é celebrada como feriado cívico naquele país, lembrando o feito histórico.

Poucos no Brasil se interessavam pelo petróleo. A primeira Faculdade de Geologia surgiu em 1957, embora a Escola de Minas de Ouro Preto já oferecesse cursos sobre geologia desde 1876. Os primeiros profissionais para exploração de petróleo na Petrobrás foram engenheiros e agrônomos que fizeram cursos de especialização em petróleo no exterior.

Este descaso não era somente pelo desconhecimento, era para manter o povo na melhor hipótese desinformado, quando não intencionalmente com ideias deformadas.

E, para iniciar a pesquisa exploratória e formar profissionais, o governo contratou, em 1954, o aposentado Walter Link (1902-1982), ex-geólogo chefe da Standard Oil Company of New Jersey, empresa de petróleo dos Estados Unidos da América (EUA). Mister Link havia trabalhado na Venezuela, na Colômbia e no Equador. Era um profissional competente e sério. Sua vinda para o Brasil lhe pareceu um coroamento de 30 anos de trabalho, descobrindo nova província petrolífera no território brasileiro. Mas nossa geologia é difícil e ingrata, excelentes geólogos, descobridores de imensas jazidas nos exterior, fracassaram no Brasil.

Walter Link não se iludiu nem se aproveitou da ignorância brasileira. Em diversas análises, entregues à direção da Petrobrás, afirmou que as bacias terrestres brasileiras não eram oleíferas. Se houvesse petróleo no Brasil seria nas águas oceânicas. E estava absolutamente certo.

Plataforma de petróleo no Brasil (Foto: Petrobras)

Hoje, em 2025, a produção terrestre brasileira jamais superou 200.000 barris diários, onde a Petrobrás e empresas privadas investiram, enquanto a produção nacional já supera os quatro milhões de barris/dia (b/d), dando-nos a autossuficiência, e quase integralmente pelas descobertas nas águas territoriais brasileiras, que ainda podem nos revelar mais surpresas, como a do pré-sal, em 2006.

A ENERGIA E A CIVILIZAÇÃO – BREVES CONSIDERAÇÕES

A primeira energia que o homem usou foi a do próprio corpo, a força dos braços e das pernas que o levaram muito além do berço africano para conquistar o planeta. Aos poucos foi descobrindo o fogo, a água, o vento e, a cada elemento, aumentava seu poder transformador da natureza. Dava mais um passo no sentido da construção civilizatória. E tinha ainda outra característica, reduzia o tempo entre uma energia e a outra, mais potente, que viria se incorporar no processo civilizatório.

Assim da energia da força física ao uso do fogo passaram-se quase dois milhões de anos, mas da energia do carvão mineral, que passa a ser usada na primeira metade do século XVIII para do petróleo foram somente cem anos e do petróleo para energia nuclear menos de um século.

Em 2025 estamos vendo a produção, em laboratório na China, da fusão nuclear que substituirá brevemente a fissão nuclear de 1945.

Energia é, depois do processo para formação cognitiva, o que dá maior autonomia ao homem. Quanto mais ele domina a fonte primária, mais traz para si o controle do uso das energias, mais fica em condição de melhorar sua vida e do seu ambiente de existência.

Há uma condição política na energia, que levou o Brasil a enfrentar diversas crises, exemplificando com a do sequestro, em 1952, dos equipamentos para instalação da energia nuclear. Estando já prontos para o embarque no Porto de Hamburgo, na Alemanha, pelas forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN); hoje, depois de derrotadas pela Rússia na Ucrânia, apenas um clube de russofóbicos. Também a prisão do Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, em 2015, digno seguidor do Almirante Álvaro Alberto na continuidade do programa nuclear brasileiro, pela operação Lava Jato, constituída nos EUA para liquidar com a engenharia brasileira e, em especial, àquelas com relações na área da energia.

As forças do atraso construíram uma falsa ciência, ainda no início do século XX, para retirar o poder político da industrialização e transferi-lo para as finanças. Entre as razões podemos enumerar a melhoria de vida para maiores parcelas da população, pois a indústria prosperava com o aumento dos consumidores, ou seja, com pessoas empregadas e com salários que lhes permitisse aquisição de bens, enquanto para as finanças bastava a fixação de juros altos e mínima tributação para enriquecer; e o povo que se danasse.

Com esta falsa ciência criou-se o pavor climático, ocultando ser a história do planeta uma sucessão de eras glaciais, quando a Terra se torna uma bola de gelo, com eras interglaciais, quando as geleiras desaparecem. Vivemos cerca de dois milhões de anos da última era glacial, nada mais natural do que o calor intenso e as mudanças climáticas. A este propósito é muito instrutiva a leitura de “Máfia Verde – O ambientalismo a serviço do Governo Mundial”, de Lorenzo Carrasco, Silvia Palácios e Geraldo Luís Lino (Capax Dei Editora, RJ, 2017, na 12ª edição, revisada).

Hoje, “Organizações não Governamentais (ONGs)”, com recursos dos mais diversos, se infiltram em governos, mantém instituições nos países vítimas, para construir uma ideologia ambientalista. Esta irá estagnar o progresso econômico e tecnológico, retroceder nas conquistas sociais e subornar instituições e políticos para conduzir seu projeto colonizador, globalizante.

Fontes de Energia

AS FONTES DE PRODUÇÃO DE ENERGIA

Na década de 1970 o mundo conheceu o surgimento de dois processos radicalmente transformadores: a miniaturização e a virtualização. A partir de então novos recursos foram disponibilizados nas duas áreas mais sensíveis da civilização humana: da informação e da energia.

O Sol e o vento formam a história da energia. Foram importantes, mais jamais supriram o carvão vegetal, destruidor das florestas europeias e de grande parte do mundo ocidental. As energias fósseis: carvão mineral e petróleo, uma vez descobertas, passaram a dominar a produção de energia, não só pela maior quantidade de energia gerada por unidade quanto pelo preço, muito inferior aos das demais fontes até então conhecidas.

A energia nuclear ainda está em desenvolvimento. O mais recente passo foi dado pela República Popular da China (China) com a produção em laboratório da fusão nuclear.

A ressureição das energias fotovoltaica (solar) e eólica foi criação das finanças para combater o poder político da industrialização. Veja que as finanças ao combaterem o sistema socialista não visavam somente um tipo de poder mais abrangente, de algum modo incorporando toda população, mas o uso energético do petróleo, pois este combate ainda permanece e o comunismo, além do sério baque com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 26 de dezembro de 1991, está mais no nome do Partido do que na prática da China. Nesta grande potência do mundo atual, o poder político é a mistura única do confucionismo com o capitalismo industrial-comercial e a participação ampla da população no modelo organizacional e gerencial do Estado, ou seja, pouquíssimo, se for de algum modo, exportável.

As fontes de energia contemporâneas são: a hídrica, a da biomassa, a fóssil e a nuclear. Outras fontes podem atender a situações muito particulares, da existência local ou por questões mais políticas do que tecno-econômicas.

Examinemos cada uma, voltada principalmente para o interesse brasileiro.

ENERGIA HÍDRICA

Têm-se duas possibilidades, com grandes massas d’água, como a dos rios brasileiros, ou com aproveitamento com pequenos cursos d’água. Basicamente a água move a turbina que, acoplada a um gerador, converte a energia cinética da água em energia mecânica e esta, pelo gerador, na energia elétrica. A fase seguinte consiste em produzir a voltagem adequada à distribuição.

A miniaturização é uma característica da evolução tecnológica a partir da segunda metade do século XX. A nanotecnologia pode ser amplamente desenvolvida quer para área da energia, da eletrônica, da ciência da computação, da física, química, biologia, engenharia dos materiais e da computação e mesmo da medicina. Importante artigo sobre as decisões do plenário do Comitê Central (CC) no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) foi denominado “Nanômetros sobre o PIB” (Ruihan Huang, do MacroPolo – Instituto Paulson, Chicago), pois mudava a ideia do aumento da riqueza pela produção pelo do aumento pelo desenvolvimento tecnológico, simbolizado na miniaturização (Monitor Mercantil, 15/agosto/2023).

BIOMASSA

A segunda energia de menor custo de produção é a da biomassa, pois pode ser um subproduto da produção pecuária, agrícola e agroalimentar. O Brasil foi importante protagonista da biomassa, ao criar, pela genialidade do cientista José Walter Bautista Vidal (1934-2013), em 1975, o Programa Proálcool, tendo por insumo básico a cana-de-açúcar.

Com o poder neoliberal financeiro, que entra no Brasil na década de 1980, o Proálcool passa a ser sabotado e hoje só sobrevive graças ao Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), que o utiliza para produção de energia nos assentamentos que promove em todos estados brasileiros, como um primeiro passo para a Reforma Agrária.

PETRÓLEO

Foi o mais versátil e econômico produtor de energia desde seu descobrimento, simultaneamente em Baku (Azerbaijão) e na Pensilvânia (EUA), 1846 e 1859, respectivamente. Mas logo foi apropriado por ricos empreendimentos que levou esta energia para as dominadoras petroleiras privadas ou públicas. Hoje continua sendo um negócio de ricos, mas encontra a mais intensa campanha de substituição pelo poder neoliberal financeiro. No entanto, o petróleo move enorme diversidade de tecnologias e empreendimentos e suas reservas conhecidas garantem o suprimento mundial por mais um século. E ainda não foram descobertas todas suas reservas como tem comprovado a região marítima equatorial do Brasil.

A última grande reserva de petróleo no Brasil foi identificada com a descoberta do pré-sal, em julho de 2006, nas bacias de Campos e Santos, com profundidades que podem chegar a 7.000 metros. Estima-se que o pré-sal possa se estender até a região Nordeste.

ENERGIA NUCLEAR

No horizonte atual, a energia nuclear representa o futuro da energia. Houve no Brasil a campanha para encerrar a pesquisa nuclear brasileira desde o início da Nova República. Primeiro no campo da institucionalização, em 1988, extinguindo a NUCLEBRÁS e criando a Indústrias Nucleares do Brasil S.A.(INP) e a Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A (NUCLEP). Depois colocando no processo estadunidense da Lava Jato, destinado a demolir a engenharia brasileira, com foco na Petrobrás e no que restava da Nuclebrás.

Recentemente a Rússia ofereceu mini usinas nucleares flutuantes para utilização na Amazônia que pode recolocar o Brasil num nível contemporâneo (Jornal de Brasília, 27/06/2025).

A China está na vanguarda da pesquisa nuclear já no patamar da fusão nuclear, conforme noticiou a revista Exame, em 21/01/2025: “China, alcançou um marco histórico ao manter uma operação de plasma em confinamento de alta eficiência por 1.066 segundos nesta segunda-feira (20)”.

Como em todas as atividades, o poder da ideologia neoliberal financeira levou o Brasil ao retrocesso e teve os processos comunicacionais, da educação escolar ao uso de plataformas estrangeiras acessíveis em aparelhos celulares, para desinformar e deturpar fatos, imbecilizando o povo brasileiro. Aqui trouxe a crença da “transição energética” para nos impor o passado da energia.

Com a “transição energética”, o Brasil retrocedeu e cedeu espaço para empresas estrangeiras no domínio da energia no Brasil. É uma ação política que precisa ser combatida e eliminada.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado

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