Nesse terrível ano pandêmico de 2020, quase um ano por assim dizer maldito, no isolamento exigido, quase mesmo fugindo de existir, restou-nos ficar em casa, achar o que fazer, brigar com a musa-vítima, terminar projeto de várias obras em verso e prosa, criar um livro sobre a coronavirus e, principalmente, ouvir muita música boa e ler o mais que pudesse, de melhores livros que achasse, comprasse ou mesmo ganhasse de presente, claro. E comendo, engordando e surtando…
Pois consegui em e-book “de grátis” pelas redes sociais, o livraço “O Livro Obscuro do Descobrimento do Brasil”, de Marcos Costa, Leya Editora, Portugal, só para citar o primeiro que li da safra toda. Depois li “Irmãs em Auschwitz”, de Rena Kornreich Gelissen e Heather Dune Macadam. No vai da valsa ainda li “As Montanhas de Buda” e “Paixão Índia”, ambos de Javier Moro, além de “A Cruz de Cinza”, de Fran Zabaleta (um homem e a utopia na época de Martinho Lutero – outro livraço), e ainda, entre outros um livraço de pesquisa histórica sobre São Paulo colonial, “O Reino, a colônia e o poder”, do mestre doutor da USP, Adelto Gonçalves. Isso entre escritas, pesquisas, projetos, cervejas, gibis, papos afiados e a Netflix causando no flanco. Haja paciência e preguiça tentando pegar no tranco.
Todo esse desparafusado preâmbulo para chegar ao ponto xis que queria, quando, vendo promoção bonita e bem alardeada do romance de ficção histórica chamado “NOVO MUNDO EM CHAMAS”, do Víktor Waewell, fiz contato, e o escritor generosamente me enviou um exemplar da obra, que li, comi, bebi, aprendi, surtei, curti muito feito um leitor voraz e feroz; embarquei e lá me fui atiçado 417 páginas novo mundo adentro. Vocês não vão acreditar.
Ficção com gabarito a pleno vapor, um tijolo de literatura bonita e bem torneada de fio a pavio, uma surpresa e tanto para um chamado escritor emergente, o autor caprichoso e o livro diferenciado. Vão lendo. Uma aventura épica, a batalha pelo destino de uma nação em formação nos primórdios de priscas eras coloniais, de índio, negros e lusos – e holandeses – no mesmo caldeirão narrativo estiloso. Eis o mote e o fluxo do livro, para mim um clássico no gênero, estilo e qualidade técnico-editorial de narrativa caprichosa e cativante, além do foro das pesquisas datadas.
À venda no site Amazon, Kindle, a apresentação bem diz, com veracidade de marketing:
“Negros fugidos no mato, um exército dos fidalgos e índios que comem gente são ingredientes deste épico histórico arrebatador, por uma das novas vozes da literatura brasileira contemporânea. Quando os fidalgos expulsam os invasores holandeses do Nordeste, sua máquina de guerra volta-se para o interior, para a grande região de Palmares, lar de vilas e cidades fortificadas dos pretos, localidades chamadas mocambos, e de tribos selvagens remanescentes, com seus exímios guerreiros”.
Você vai vivenciar este embate, palco de algumas das maiores batalhas já travadas em solo americano, com heróis e vilões dos dois lados, entre soldados e guerreiros, capitães do mato, pretos que buscam vingança e poderosos senhores brancos, com reconstituição histórica fiel.
E ainda inventa de inventariar: “O seu coração vai acelerar, os pelos dos braços vão arrepiar, com o medo, a coragem, os amores e as traições, no melhor estilo “é impossível parar de ler”.
E destaca, confirmando a apresentação da obra:
Revisado por historiadores:
1) “O autor impressiona com o cuidado em pesquisar o quilombo e todo o momento histórico.” – Mayra Melo (Historiadora)
2) “Um primoroso trabalho de pesquisa e de escrita.” – Náuplia Lopes (Historiadora)
E conclui:
Qual o resultado deste embate épico? Descubra nesta aventura fascinante, que vibra do início ao fim e que ilumina este momento definidor da nossa História: a revolta de Palmares.
Pronto, eis o livro, eis a obra.
Bem narrada, linguajar cativante, bem construído de cabo a rabo. Comecei a ler, larguei mão de outras leituras, criames e projetos, e fui sacando o discorrer da história, alvando batalhas, fugas, presos, mortes, Zumbi, Ernesto, tudo no mesmo contexto de como se constrói um romance de peso. O Brasil de muito antes de antigamente, na sua construção histórica, pois, como já dizia Drummond que toda história é remorso, vê-se na leitura as aquarelas e querelas de então, negros, índios, mestiços, aventureiros, brancos, coronelato, escravidão, e Recife ali no palco das contendas, nas entranhas históricas de doer, de dar dó, para se dizer o mínimo. O leitor vai adorar o desfrute da leitura…
Um baita romance. O autor se apresenta e se valora assim. Eis o cartão de identidade de Víktor Waewell, voz retumbante da nova literatura brasileira com fulcro em ficção histórica. Centrado num rigor acadêmico deveras especial e bonito, com trechos de prosa poética, permite uma leitura com as calças da história nas mãos.
Acredite, você não vai querer parar de ler. Dá vontade de ler de novo para curtir melhor e assim afinar o deguste literário. Ao final do romance, explicações sobre o projeto e peculiaridades da feliz e preciosa elaboração. Um livraço que daria um filmaço, uma minissérie. E que venham outras obras. Vou ficar aqui esperando para saciar a busca nessa fonte de prazer de ler e de saber que afinal se restou o livro. Bravo!
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Silas Corrêa Leite, professor, escritor, jornalista cultural, autor, entre outros de O LIXEIRO E O PRESIDENTE, romance social, Kotter Editora, Curitba-Pr – E-mail: poesilas@terra.com.br
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NOVO MUNDO EM CHAMAS
AUTOR VIKTOR WAEWELL