Por Laís Gouveia
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A realidade dos trabalhadores do campo, desde cedo, é muito árdua. Quando crianças, já seguem auxiliando a lida nas lavouras com os pais, debaixo do sol, da chuva, muitas vezes em condições precárias de trabalho. Ao Portal Vermelho, militantes do Movimento sem Terra (MST) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) contam sobre o impacto negativo que a Reforma da Previdência proposta por Temer causará na juventude do campo.
Com a nova proposta de previdência social, o plano estabelecerá idade mínima de 65 anos para homens e mulheres se aposentarem e tempo mínimo de contribuição de 25 anos, alterando o atual regime que garantia a seguridade especial aos 60 anos (homens) e 55 anos (mulheres).
O coordenador da Juventude do MST, Paulo Henrique, considera a Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer é uma afronta aos camponeses de todo Brasil, que conquistaram esse direito com muita luta. “Irá impactar toda a classe trabalhadora, mas sobretudo os trabalhadores do campo e neste recorte os mais mais afetados serão as mulheres e os jovens. Não é somente uma questão de aumento no período de aposentadoria, isso só já uma forma de retirar diretos, mas, sobretudo, por que a maior parte da classe trabalhadora camponesa sustenta sua família com a previdência, sobretudo na região nordeste”, denuncia o jovem.
Paulo Henrique- MST
Paulo avalia o plano do governo Temer como uma proposta para precarizar mais ainda a população rural. “A juventude que é filha de camponês e trabalha no campo. Quanto tempo essa geração levará para se aposentar? Nós consideramos um absurdo essa Reforma da Previdência”, dispara.
“Saúde e educação também serão penalizadas”
“As influências da Reforma estão ligadas diretamente a questão da saúde e educação, porque a previdência não compromete apenas a aposentadoria, mas está relacionada à todas as políticas sociais do campo”, explica Paulo.
O militante do MST diz que a luta principal é pela permanência da juventude no campo. “Nossa pauta é para que a população rural não seja sequestrada pelo capital financeiro, que é o maior interessado nessa Reforma. Nós vamos nos mobilizar ações em todo o país contra o desmonte das políticas sociais”, conclui Paulo.
Contag: “vai aposentar quem já está na cadeira de rodas?”
Mazé Morais, coordenadora de jovens da Contag, explica que no campo as condições de trabalho são adversas e já se inicia na infância. “Eu, a partir dos 8 anos, já estava na roça para auxiliar os trabalhos na lida, a vida nossa é muito dura, ficamos expostos ao sol e chuva, saindo cedo para o roçado e voltando tarde, essa medida só irá precarizar os direitos trabalhistas do trabalhador rural e das próximas gerações”, afirma.
A diretora da Contag chama atenção para um ponto fundamental da reforma: Os jovens que estão trabalhando no campo hoje, vislumbrarão sua aposentadoria à beira da morte. “Veja a expectativa de vida da população, com 55 anos tem muita gente que já não possui mais condições físicas para trabalhar na lavoura, vai aposentar quem já está na cadeira de rodas?” questiona Mazé.
Mazé Morais
Esses jovens, que contribuem também para que 70% da alimentação do brasileiro venha da agricultura familiar, hoje enfrentam o processo do êxodo rural, sendo forçados à sairem cada vez mais cedo de casa, em busca de qualidade de vida e por melhores oportunidades de emprego nas grandes cidades.
Mazé explica que a maioria dos jovens querem permanecer no meio rural, mas com condições dignas. “Eles deixam claro: Eu quero permanecer no campo, mas com trabalho, geração de renda, educação, cultura e esporte para não ter que abrir mão do meu vínculo familiar, do meu local de origem”, elucida.
Segundo informações do IBGE, a população rural no país perdeu 2 milhões de pessoas entre 2000 e 2010, o que representa metade dos 4 milhões que foram para as cidades na década anterior.
“A Contag continuará lutando contra essa reforma da Previdência imposta pelo Governo Temer, mesmo que ela seja implementada mas que não afete e vida dos trabalhadores rurais e de todos os outros segmentos”, conclui Mazé.