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Sputnik – A desdolarização, promovida ativamente pelo Sul Global, por exemplo, no quadro do BRICS, é uma tendência que já dificilmente será parada, levando em conta que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, tem pouco poder para aplicar a política externa de formato estadunidense antigo, acreditam especialistas entrevistados pela Sputnik.
Há algum tempo, Trump ameaçou os países do BRICS de impor “tarifas de 100%” sobre seus produtos se não abandonassem os planos de criar uma moeda alternativa ao dólar norte-americano.
Ao mesmo tempo, o presidente russo Vladimir Putin disse anteriormente que é muito cedo para falar sobre a criação de uma moeda única do BRICS.
Em resposta às preocupações de Trump, a África do Sul e a Índia declararam que a associação não planejava criar uma moeda de substituição ao dólar estadunidense.
Contudo, o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, afirmou que a ideia de realizar o comércio entre os países do BRICS em suas próprias moedas é uma “medida legítima”.
“Embora a desdolarização seja um caminho muito longo e difícil, já é uma tendência que, para o novo governo da Casa Branca, acredito, será difícil deter”, disse à Sputnik o diretor-geral do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, Ivan Timofeev.
Ele admite que o BRICS ainda não tem a força política e econômica suficiente no cenário mundial, mas é um bloco de partes com a mesma opinião, unidas pela ideia de um mundo multipolar.
Cada país do BRICS tem sua própria abordagem nas relações com os Estados Unidos, mas todos eles estão interessados em se afastar do “americanocentrismo” e do domínio do dólar na economia mundial.
“No entanto, não é só o BRICS que está se esforçando para isso. Muitos países do Sul Global querem isso hoje”, concluiu Timofeev.
Neste contexto, a chegada de Trump ao poder pode trazer mudanças indesejáveis, pois sua equipe é inadequada para o atual cenário global, opinou o especialista japonês da Universidade Meiji Gakuin, Takao Takahara.
O acadêmico acredita que a tendência de enfraquecimento dos EUA como superpotência, ao mesmo tempo em que mantém seu poderio militar, está repleta de grandes riscos.
“Trump tem poucos poderes para conduzir habilmente a política externa de grande potência do formato antigo, algo que ele insiste em fazer. Para que os EUA demonstrem poder diplomático, ele precisa de assessores talentosos. No entanto, neste momento, Trump está cercado de pessoas focadas em assuntos domésticos e não em assuntos externos”, disse Takahara.
Segundo ele, a administração Trump é composta por pessoas com mentalidade da época do presidente dos EUA Ronald Reagan (1981-1989).
Takahara acredita que o novo governo dos Estados Unidos não poderá deixar de infligir um impacto na situação de segurança na região da Ásia-Pacífico, com a China, e no Oriente Médio, com Israel.
“Se, como foi durante o primeiro mandato de Trump, ele ficar apenas do lado de [premeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu, não pode ser descartada a possibilidade de terrorismo com armas atômicas.”
Donald Trump venceu as eleições presidenciais em 5 de novembro de 2024.
Ele se tornou o primeiro político norte-americano desde o século XIX a retornar à Casa Branca após um intervalo de quatro anos.