O termo “distanciamento social” talvez não seja o mais apropriado. Foi usado aqui para designar a necessária separação física que estamos vivendo, afastados de familiares e dos círculos de amizade. Sem encontros de avós com netos, de professores com alunos, os nossos afetos já não são adubados na interação presencial. Sinto falta do barulho álacre das crianças no recreio da escola quase em frente de casa, que gera vida, prazer, felicidade. O silêncio produz um zumbido ensurdecedor.
O sentimento de impotência aparece quando a gente pensa em grande parte da população brasileira, isolada e abandonada à própria sorte. Ou nas aldeias indígenas, cuja organização e forma de vida dificulta o isolamento. Foi o que aconteceu no período colonial, onde a varíola, o tifo, o sarampo causaram uma das maiores catástrofes demográficas da história da humanidade, ceifando milhões de vidas. Agora, já surgiu um caso suspeito de um Pataxó na aldeia Coroa Vermelha, sul da Bahia, que pode ter contraído o coronavirus no contato com turistas estrangeiros. Como sobreviver sem a venda de artesanato? – pergunta o guarani Miro Silva, ex-aluno nosso.
P.S. Em decorrência de complicações da cirurgia bariátrica, faleceu Devair Fiorotti, 48 anos, autor de “Urihi, nossa terra, nossa floresta” e “Panton pia”, com 79 cantos Macuxi e Taurepang. Deixou mulher, quatro filhos e muitos amigos. Seu corpo foi velado com música e poesia nessa sexta (20) no malocão do Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima, da qual era professor. “Ele era um amigo generoso. Era um aliado dos índios. Tudo o que ele fez foi com paixão e poesia” – escreveu saudosa sua amiga Loretta Emiri. Quando Bolsonaro assinou o projeto de lei permitindo a mineração em terras indígenas, Devair indignado postou no facebook: