Por Miguel Machado
Abriu ao público no passado mês de Abril de 2013 o Museu Nacional de História Militar de Angola, instalado na antiga Fortaleza de São Miguel de Luanda. Um local a visitar por quem passe pela capital angolana, direccionado que está não só para estrangeiros interessados na História de Angola como para os nacionais que ali vêm exaltados os seus heróis nacionais, cumprindo assim uma função educativa no sentido do aprofundamento do sentimento de pertença à nação angolana.
Esta reportagem fotográfica mostra as áreas exteriores do museu e os elementos museológicos de grandes dimensões. Recuperamos ainda as principais datas históricas desde magnífico edifício e recordamos o estado da fortaleza numa visita anterior, em 1997.
A baía de Luanda, certamente uma das imagens mais conhecidas de Angola, é hoje símbolo evidente das mudanças por que passa este grande país africano, não só pela valorização em curso na “marginal” (avenida 4 de Fevereiro) como pela construção em altura que vai crescendo na baixa da capital angolana, dando-lhe o ar de cidade moderna e cosmopolita. No cimo do “morro da fortaleza”, antes conhecido por monte de São Paulo – santo que também já deu nome a esta construção militar, assim como “Forte Aardenburgh” durante a ocupação holandesa da cidade (1641 a 1648) – unindo a cidade à “ilha” distingue-se hoje uma bandeira de Angola de enormes dimensões e a renovada fortificação. Esta “Bandeira-Monumento” com 18 metros de comprimento e 12 de largura, inaugurado na mesma data que o Museu, a 4 de Abril –Dia da Paz e Reconciliação Nacional – e também pelo Presidente da República, é dedicada “…aos heróis da Pátria e a todos os que contribuíram para a independência nacional, a paz e o progresso de Angola.”
O Dia da Paz que é feriado em Angola, foi estabelecido em 2002, representando o fim do conflito armado e a reconciliação nacional, na sequência da morte de Jonas Savimbi em Fevereiro desse ano.
O Museu Nacional de História Militar de Angola, sucede ao “Museu Central das Forças Armadas” que ali estava instalado desde 1978, em condições precárias e com muitos dos seus elementos museológicos degradados. Hoje, do que vimos, o Museu tem excelentes condições, o seu acervo está recuperado e a Fortaleza foi sujeita a trabalhos que a deixaram como se vê pelas imagens, impecável!
O Museu é muito mais do que esta reportagem ilustra, os espaços interiores foram recuperados e adaptados à finalidade actual, havendo ainda algumas novas construções. Esperamos numa próxima oportunidade abordar esta outra parte do museu.
Na área exterior fronteira à fortaleza, na praça onde em 10 de Novembro de 1975 uma força militar portuguesa dos três ramos das Forças Armadas, prestou as honras militares no último arrear da Bandeira Portuguesa na então Província Ultramarina de Angola, estão hoje expostas, viaturas militares de várias origens utilizadas nos conflitos entre as forças dos três partidos políticos angolanos que dispunham de forças militares (MPLA, FNLA e UNITA) e ainda a República da África do Sul, peças de artilharia (muitas portuguesas) e 2 aviões “T-6” da Força Aérea Portuguesa. Tudo muito bem recuperado e mantido. Aqui, bem assim como em relação a algum armamento exposto no interior da fortaleza, apenas um aspecto a melhorar: a identificação das armas, uma vez que muitas estão apenas referenciadas com a sua origem (nacionalidade) e não pelo nome/modelo o que é pena.
A título de curiosidade refira-se que o T-6, número de cauda 1668 foi originalmente construído no Canadá (designava-se Harvard MK III), serviu na Fleet Air Arm da britânica Royal Navy, chegou a Portugal em 1956 integrado num lote de 15 destas aeronaves. O 1685 foi fornecido a Portugal por França em 1961, integrado num lote de 46 “North-American T-6G”. Ambos terão servido nos Aeródromos Base n.º3 (Negage) n.º 4 (Henrique de Carvalho/Saurimo), tudo isto de acordo com Adelino Cardoso no livro “Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX”.
Este renovado pólo de turismo cultural de Angola, situado na Rua 17 de Setembro, Bairro dos Coqueiros, Distrito de Ingombota, Município de Luanda, é sem dúvida um local a visitar, direccionado que está não só para estrangeiros interessados na História de Angola como para os nacionais que ali vêm exaltados os seus heróis nacionais, cumprindo assim – e a Bandeira Monumento é disso mais um exemplo – uma função educativa no sentido da criação e aprofundamento do sentimento de pertença à nação angolana.
Cronologia*
1575 – Paulo Dias de Novais desembarca em Luanda na qualidade de governador, e manda construir de imediato uma fortaleza para protecção da baía;
1625 – O rei D. Filipe III manda constituir uma comissão para estudar a fortificação da cidade;
1634 – Construção de uma nova fortificação;
1641 – Ataque à fortificação pelos holandeses, que a ocuparam, passando a designar-se Forte Amesterdão, ou segundo outras fontes, Forte Aardenburgh;
1650 – O governador Salvador Correia de Sá e Benevides apresentou ao Conselho Ultramarino os novos planos de fortificação de Luanda, a cargo do engenheiro francês Pedro Pelique. O forte, que até à invasão holandesa se chamara de São Paulo, teve o seu nome trocado por São Miguel, Santo de devoção de Salvador Correia de Sá.
1669 / 1676 – Reconstrução da fortaleza em alvenaria, durante o governo de Francisco de Távora, deixando concluídos um baluarte e duas cortinas;
1697 / 1701 – Construção da casa da pólvora no interior da fortaleza, durante a governação de César Meneses;
Em 1771, procedeu-se à fundição de canhões no forte, sendo este o único forte africano onde se fundiram canhões para a sua defesa.
1876, 15 Setembro – Portaria de criação do Depósito de Degredados de Angola que se estabeleceu na fortaleza em 1881;
1930 / 1938 – Extinção do Depósito de Degredados e abandono da fortificação;
1938 – Instalação do Museu de Angola pelo governo português; colocação de painéis de azulejo numa casamata com cenas da história de Angola e exemplares da fauna e flora;
1938, 8 Setembro – classificada como Monumento Nacional, por Portaria do então Ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado;
1961 – Remoção total do acervo do museu, voltando a fortaleza a assumir funções militares; instalação do Destacamento Avançado de Combate do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas de Tancos que havia rumado a Angola em Março de 1961, e depois ali permaneceu a 1.ª Companhia de Caçadores Pára-quedistas do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 21, até à criação da nova unidade, em Belas (em 1964); instalação de uma Companhia de Policia Militar; instalação do Comando-Chefe das Forças Armadas de Angola.
1975 – 10 de Novembro, última cerimónia do arrear da Bandeira Portuguesa em Angola, realizado na Fortaleza de S. Miguel, perante força dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas (Pára-quedistas da Força Aérea; Fuzileiros da Marinha; Cavalaria do Exército).
1975-1978 – Estado-Maior General das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA);
1978 – 31 de Julho, inaugurado o Museu Central das Forças Armadas;
1995 – Intervenções pontuais de recuperação do edifício
1996 – Incluído na Lista Indicativa a Património Mundial da UNESCO.
2001/2005 (?) – O forte volta a ter uma utilização militar (parcial) sendo integrado no sistema de defesa área de pontos sensíveis da capital angolana.
2013 – 4 de Abril, inaugurado o Museu Nacional de História Militar.
Fontes:
Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (www.monumentos.pt);
História do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 21;
ANGOP – Agência Angola Press (04ABR2013)
PNN Portuguese News Network (04ABR2013)
TPA – Televisão Pública de Angola (05ABR2013)