A participação do judiciário nos golpes é parte da estratégia da banca de dominação do poder mundial. Denomino banca o sistema financeiro internacional. Esta não é uma jabuticaba, mas vou me ater ao Brasil, sem descuidar das ligações internacionais que a participação da banca me obriga.
Cabem poucas palavras sobre a origem e as transformações da banca.
Como poder, podemos dividir em três tempos a ação do “financismo”. Primeiro, nos séculos XVI e XVII, quando surgem, na Inglaterra e na Holanda, as Companhias das Índias e os Bancos Centrais, numa simbiose de instituições privadas agindo como entes públicos. Não me deterei nem neste, nem na segunda fase, iniciada na Inglaterra com a Revolução Industrial e que ganha corpo, após o Congresso de Viena de 1815, com o Império Britânico. Há uma certa continuidade entre esta fases, distinguindo-as pela amplitude do poder. Na primeira, era do mercantilismo, a banca se apropriava dos ganhos mercantis, causa principal das guerras angloholandesas e da primeira expansão colonial. Na segunda, especificamente inglesa, evita o surgimento do poder industrial autônomo e subordina o desenvolvimento da indústria à expansão colonial. A era das canhoneiras.
A Revolução Francesa, o domínio continental de Napoleão e a hábil manipulação das vaidades e dos medos, no Congresso de 1815, tornam a Inglaterra a grande vitoriosa do imperialismo que se esgota na I Guerra Mundial.
Há, então, um interregno, onde se empodera o industrialismo. Mas, após a II Grande Guerra, o financismo volta a atacar em várias frentes: econômicas, ideológicas e ecológicas. É desta época o surgimento de sociedades, grupos, foros e outras organizações que combaterão a industrialização como poder, quer capitalista quer socialista, com argumentos muitas vezes contraditórios, mas com o importantíssimo domínio dos meios de comunicação de massa: as mídias.
É curioso que muito do que se divulga como estratégia gramscista, das ardilosas maquinações comunistas, na verdade constitui a ação corriqueira da banca, com a manipulação das mídias. Nem há o pudor da coerência; ontem atacava a corrupção e, ao colocar os corruptos no poder, esconde a corrupção e passa a difundir a violência urbana e o terrorismo estrangeiro. Assim, prepara o campo para transformar as Forças Armadas em gendarmeria da banca. Não sei se o caro leitor foi despertado para o fato de o exército, aquele de Caxias, ter-se transformado em oficial de justiça, dando proteção à entrega de mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, agora, em agosto de 2017.
Deixemos o Clube de Roma, o Instituto Tavistock, a Sociedade de Mont-Pélerin, o Grupo Bilderberg, o Consenso de Washington, o Foro Econômico Mundial, o Greenpeace e outros instrumentos de ação da banca e vamos nos concentrar na questão do direito e da justiça. Afinal, com o objetivo de destruir os Estados Nacionais, a banca não pode deixar de lado as questões constitucionais e administrativas, que trarão para o espaço de suas vítimas a insegurança jurídica.
Já existe um aparato, que chamarei juspolítico (embora não seja uma denominação minha), dando respaldo teórico e ideológico às formulações jurídicas pró banca. Alguns são filhos de Carl Schmitt, o jurista do nazismo hitlerista, outros já dispensam a fase racial; muitos não são corruptos, mas descreem na humanidade; o sistema totalitário os une. Para todos eles, as pessoas precisam de tutores, de donos, de quem tenha capacidade para mandá-las fazer ou proibi-las de agir. Cito os estrangeiros, Karl Larenz, Patrick Lagadec e Ulrich Beck, Eduardo García de Enterría e Antonio-Enrique Pérez Luño, Giancarlo Sorrentino e, entre nós, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Moreira Neto, cada um com suas especificidades e profundidades filosóficas e analíticas.
Quando um juiz, como o agente Moro, age ao arrepio das normas e procedimentos jurídicos consagrados, unicamente para perseguir um partido político, seus filiados, suas lideranças e seus apoiadores, com ou sem provas, e, ao mesmo tempo, desconsidera processos e fatos públicos que condenam os opositores do PT, ele não age tão somente por arbítrio. Ele cumpre, em seu campo, o papel de desmoralização da justiça e dos institutos jurídicos. O mesmo se pode dizer de Gilmar Mendes, sua concessão de habeas corpus e as visitas noturnas e nos fins de semana a representantes golpistas do executivo e judiciário. O apoio ao golpe pelo judiciário não é novidade, nem no Brasil nem na América Latina, mas se reveste, neste instante, muito mais do que uma mudança de rumos políticos e prioridades administrativas. Agora, o judiciário contribui com o projeto da banca de ver, em toda América Latina, um imenso Iraque, uma Líbia só.
E a importância do Brasil, neste projeto, é enorme.
O que é a Líbia, hoje? Um enorme território, com muito petróleo, sem um governo nacional, onde etnias e populações se digladiam por um nada. Como os coronéis brasileiros matavam por “honra” (sic). E, assim, a banca pode extrair o petróleo, formando um gueto de segurança, usando os próprios líbios para defendê-la, e garantindo a energia barata que usa na Europa ou nos Estados Unidos da América (EUA).
Thierry Meyssan, escritor e analista, escreveu em seu Réseau Voltaire (Divergências no seio do campo anti-imperialista, 16/08/2017): “Os Estados Unidos não buscavam nem derrubar os governos progressistas (Líbia e Síria), nem roubar o petróleo e gás da região, mas, sim destruir os Estados, para reenviar as populações à pré-história, para a época em que «o homem era o lobo do homem»”. Ao escrever Estados Unidos, Meyssan tratava claramente do poder que move hoje os EUA: a banca.
Para esta triste realidade, os brasileiros tem, como agentes de interesses não nacionais, seu próprio poder judiciário. Não é uma luta fácil, construir um sistema de governo, ainda que venha se tomar o executivo, que reformule os poderes da Nação para evitar a ação daninha da banca. E despertar uma magistratura nacionalista.
“Não nos é permitido olhar a realidade a partir da varanda nem podemos permanecer comodamente sentados no sofá a olhar o mundo que passa à nossa frente na televisão.” (Papa Francisco)
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
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