Pequim ainda poderia tentar vender o conceito de ‘soberania cibernética’ ao presidente norte-americano Donald Trump, de acordo com artigo da Foreign Policy. Foto:Getty Images
Pequim propôs aos países do Brics um acordo sobre a “soberania nacional cibernética” que permitiria que os governos desses países controlassem e regulassem a internet em seus territórios.
Além disso, Pequim divulgou planos para intensificar os meios de guerra cibernética, respondendo a um aumento exponencial das ameaças no ciberespaço.
Mas os países Brics não são o único objetivo de Pequim, e a inciativa deve se estender a todos os países emergentes.
Além disso, a China poderia tentar vender o conceito de “soberania cibernética” ao presidente norte-americano Donald Trump, de acordo com um artigo opinativo do professor Ran Jijun, da Universidade da China das Relações Exteriores, publicado recentemente pela revista Foreign Policy.
“Ultimamente, a internet se tornou um lugar que dá voz aos conflitos sociais mais extremos da história dos Estados Unidos. A rede foi polarizada e as lacunas sociais se tornaram mais profundas, algo que representa um enorme desafio para a sociedade americana atual”, escreve Jijun.
Outros motivos
Há diversas razões para a preocupação de Pequim com o progresso do reinado virtual, segundo Oleg Demídov, especialista em cibersegurança do Centro PIR, um grupo de profissionais em TI independentes.
“Com o rápido desenvolvimento da economia digital, quando o governo está deixando de ser um simples fabricante de produtos de alta tecnologia e tornando-se o criador de conceitos avançados de tecnologia inteligente, qualquer interferência nessas ambições é considerada uma ameaça real”, disse Demídov.
A insistência da China sobre o conceito de “soberania cibernética” também é motivada pela preocupação de seu governo com os perigos da espionagem cibernética comercial e da atividade dos hackers em altas tecnologias.
“Desde 2010, quando a China decidiu investir recursos intelectuais e financeiros em tecnologias inteligentes, o país asiático ultrapassou os EUA e o Japão em número de patentes”, diz Andrêi Ostróvski, vice-diretor do Instituto dos Estudos do Extremo Oriente da Academia de Ciências da Rússia.
“A China registrou cerca de um milhão de patentes, embora apenas 5% delas sejam reconhecidas internacionalmente. No entanto, é uma tendência vertiginosa”, diz Ostróvski.
Segundo o presidente Xi Jingping, a ambição chinesa em se tornar “dona de suas próprias tecnologias” é parte de uma estratégia em longo prazo e é baseada na ideia nutrida pela elite política de que a competitividade no desenvolvimento de tecnologias inteligentes é um dos três pilares de uma superpotência moderna.
Como nova incubadora emergente de conceitos nas áreas de robótica, macrodados, semicondutores e inteligência artificial, é natural que a China aposte em proteger sua propriedade intelectual contra quaisquer riscos.
Além disso, as revelações do WikiLeaks aumentaram as suspeitas de Pequim quanto a países ocidentais. A vulnerabilidade de iPhones, Smart TVs (como no caso das Smart TVs da Samsung utilizadas pela CIA para espionagem), roteadores e computadores sob o controle de espiões norte-americanos causaram alarme na China.
Moscou interessada
Apesar de afirmações de que a Rússia está atrasada em pesquisas e desenvolvimento de altas tecnologias, o interesse dos hackers chineses pelas tecnologias russas está crescendo.
Costin Raiu, um especialista em segurança da Kaspersky Lab, empresa de software de segurança baseada em Moscou, diz que, entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, o número de ataques de hackers que “falantes de chinês” contra alvos russos aumentou 300%.
Isso aconteceu apesar de um acordo bilateral sobre segurança cibernética ter sido assinado entre a Rússia e a China em maio de 2015. Segundo o acordo, os dois países não realizariam espionagem cibernética mútua.
“É muito provável que Moscou apoie estratégias chinesas como a criação de uma ordem no ciberespaço baseada em leis, a expansão da cooperação com outros países, a realização de uma reforma institucional na governança da internet, o combate conjunto contra o ciberterrorismo e a proteção da privacidade individual no ciberespaço”, diz Demídov.
Assim, segundo o especialista, a iniciativa chinesa é uma boa notícia para Moscou.
“Os objetivos declarados pelos chineses são compatíveis com as medidas retroativas consideradas pela Rússia como resposta ao número crescente de ataques cibernéticos e à ameaça de futuras invasões na rede internacional”, completa.
Vladímir Mikheev é um jornalista moscovita. Foi repórter do jornal Izvêstia e colaborador da BBC.
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