Por Moisés Mendes, em seu blog:
Moro ainda está longe de entrar no baile, mesmo que, por inexperiência, ache que já entrou. Temos por enquanto alguns preparativos importantes, mas apenas preparativos.
Por exemplo, a Globo começa agora a dedicar todas as suas energias ao lavajatista. Até domingo, quando as prévias tucanas acabaram expurgando Eduardo Leite, o gaúcho também era uma aposta da Globo e dividia as atenções com Moro.
Leite revelou-se fraco e está fora, o que facilita a concentração de esforços no preferido, porque a possibilidade de apoio a João Doria está descartada. E Rodrigo Pacheco, por enquanto, nem cobra é, mas apenas uma minhoca com empáfia.
Mas quem – além de Merval, Miriam, Camarotti e assemelhados de outras emissoras de TV e de jornais – está mesmo com Moro?
Para relembrar, militantes de rua pró-governo, que marchavam em defesa de Bolsonaro, como resposta às manifestações das esquerdas, apareciam como tietes de Moro, e não do seu chefe.
As imagens históricas de gente de verde-amarelo nas ruas são de militantes de Moro, com cartazes de exaltação aos seus feitos. Moro protegia a classe média mais branca do vexame de ter de apoiar publicamente Bolsonaro.
Essa direita que exaltava Moro nas ruas não era necessariamente bolsonarista, era apenas antitudo, antiLula, antiPT, anticomunista, antipobre e antinegro e era lavajatista. Bolsonaro fazia o serviço sujo, e Moro era seu Sancho Pança de luxo.
Um magistrado caçador de corruptos garantia um certo glamour ao fascismo dos que pediam o fechamento do Congresso e jogavam no mesmo time de Sara Winter.
Moro deu adeus a Bolsonaro, pela incapacidade de cuidar dos interesses da família e manobrar a Polícia Federal, e está aí agora como um apêndice no espaço desgrudado do bolsonarismo.
Dizer que temos no baile o mesmo justiceiro anticorrupção pode significar alguma coisa para a base que sempre o seguiu com fervor, mas pode não significar mais nada numa campanha.
A palavra corrupção, que parece gasta até pela pronúncia em falsete de Moro, faz parte hoje de uma retórica nas nuvens, é uma paisagem dos cinco anos da caçada a Lula, mas sem alcance eleitoral.
Moro terá de calibrar e dar forma ao que de fato virá a ser como candidato. Seu desafio não é pequeno como calouro. O ex-juiz vai levar bordoada do bolsonarismo e ainda não tem traquejo para se defender.
Não basta montar boas estruturas de Whats e redes sociais. Moro entra num baile que já tem cobras criadas da direita e extrema direita. Terá de sapatear, falar mais alto e com voz mais grossa, responder, atacar. Não bastará dizer qual é a biografia que ele não está lendo.
Vai aguentar? Talvez não aguente. As próximas pesquisas podem mostrá-lo bem acima dos 10%, o que acionará a tropa de elite da extrema direita para a qual trabalhou no governo.
Moro viveu mais de meia década no conforto de Curitiba, com time exclusivo de ajudantes, rapazes criativos e prestativos no Ministério Público, leis e regras usadas a gosto, imprensa amiga, filme do Padilha e livro do filho da Miriam Leitão.
Passou trabalho com Bolsonaro e vai sofrer agora com os amigos de péssimas folhas corridas do Podemos e sob ataque dos filhos e dos amigos dos filhos de Bolsonaro.
O ex-juiz vai sofrer comendo buchada de bode no Nordeste. Vai vacilar quando estiver sob tensão e se dará conta de que hoje ainda não é nada do que pensa que poderia vir a ser.
Moro sabe que trabalhou por empreitada, ao ser inventado como justiceiro pela direita e pela Justiça para caçar Lula e para depois ajudar a inventar e a eleger Bolsonaro.
Hoje, para que serve Sergio Moro? Logo ficaremos sabendo se ele funciona sem um Dallagnol por perto.