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quarta-feira, 4 setembro, 2024

Morenas do Caribe: legado indelével das jogadoras cubanas de vôlei

Havana (Prensa Latina) A história olímpica moderna guarda muitas passagens e acontecimentos épicos em seu legado de quase 130 anos, e entre eles é indelével a conquista de três títulos consecutivos pelas jogadoras de vôlei cubanas, conhecidas como as Morenas Espetaculares do Caribe.

Por:Julio César Mejías Cárdenas
Editor Chefe de Esportes

Liderados pelo falecido professor Eugenio George, técnico da seleção cubana há quase quatro décadas, os voleibolistas cubanos subiram ao topo do Olimpo nas edições de Barcelona 1992, Atlanta 1996 e Sydney 2000, mostrando uma determinação indelével para superar rivais fortíssimos. e superar até mesmo marcadores adversos que pareciam intransponíveis.

Eugenio, eleito o melhor treinador do século XX, e coadjuvado em vários momentos por Antonio “Nico” Perdomo, Luis Felipe Calderón e Eider George, soube imbuir de espírito inquebrantável o talento inegável e as excepcionais condições físicas de várias gerações de atletas.

A mais brilhante dessas gerações, a liderada pela capitã Mireya Luis, que se tornou uma lenda do voleibol mundial, ao lado de outras não menos qualificadas como o atacante canhoto Regla Bell, a passadora Marlenis Costa e as quase intransponíveis bloqueadoras centrais Magaly Carvajal e Regla Torres, este último aclamado como o melhor jogador do século passado.

Os Morenas chegaram a Barcelona como uma das formações favoritas, mas isso não lhes deu o título de forma alguma, já que o elenco da Seleção Unificada – nome da delegação da antiga União Soviética -, Estados Unidos, China e Brasil também Receberam a aprovação prévia dos especialistas para serem incluídos no pódio.

Depois de se ausentarem das edições de verão de Los Angeles 1984 e Seul 1988, os discípulos de Eugenio desembarcaram no Prat de Llobregat com sede de vitórias que os levassem ao título, pois não aceitavam outro resultado e assim o fizeram: eles conquistou o cetro sem perder uma única partida, incluindo uma vibrante final de quatro sets contra os ex-soviéticos.

Em diversas ocasiões, a alta Regla Torres, dedicada à formação de jogadores após a aposentadoria, expressou que a maior motivação para eles era o povo cubano: “sempre quisemos levar alegria aos cubanos com as nossas vitórias”.

E cara, elas conseguiram, porque o evento de Barcelona foi apenas o começo da façanha conquistada em Atlanta e Sydney, onde se confirmaram como o melhor time feminino já visto em uma quadra de vôlei, com a permissão das chamadas Magical Girls of o Oriente, o elenco japonês que dominou o final dos anos 60 e início dos anos 70 do século anterior.

A cidade norte-americana do estado da Geórgia organizou a edição do Centenário dos Jogos Olímpicos da Era Moderna e os cubanos chegaram com a base do sexteto monarca quatro antes, mas fortalecidos em maturidade e plenitude competitiva.

Isso permitiu que deixassem sua marca distintiva e afastassem entre si e estranhos qualquer dúvida de que eram os melhores em campo, depois de desperdiçarem determinação e se recuperarem de derrotas contra Rússia e Brasil na fase preliminar, última seleção contra a qual atuaram em um partida épica da semifinal, após cinco sets muito disputados.

Depois de destruir as esperanças dos sul-americanos, num jogo descrito por muitos especialistas e adeptos como uma final antecipada e que ainda se fala quase 30 anos depois, veio a discussão do ouro, conseguido com relativo e inesperado conforto contra outro duro rival, a China. .

Entre uma conquista olímpica e outra, os liderados por Mireya conquistaram títulos intermediários ad nauseam: Grande Prêmio de Hong Kong em 1993, Copa do Mundo do Brasil em 1994 – derrotando um anfitrião crescido na final e silenciando as arquibancadas de um Maracanazinho enfurecido – e a VII Copa do Mundo em 1995, apenas para citar os torneios mais importantes.

Atlanta foi a confirmação de por que eles não eram mais apenas as “Morenas do Caribe”, mas transcenderam como os Espetaculares – como os batizou o jornalista e comentarista esportivo cubano René Navarro Arbelo – uma geração à qual o tempo lhes concedeu ocasiões para novos feitos: o Copa do Mundo de 1998 no Japão e VIII Copa do Mundo de 1999, ambas com a jovem Ana Ibis Fernández entrando no lugar da incombustível Magaly Carvajal.

Apesar de se terem estabelecido como monarcas mundiais nos dois anos anteriores, a prova das cinco argolas de Sydney 2000 não foi uma panacéia, pois tiveram que superar vários obstáculos no caminho para o topo do pódio, incluindo um revés na fase de grupos contra o poderoso elenco da Rússia, onde então brilhavam as gigantes Liubov Chabkova, Eugenia Artamonova, Elena Godina e a muito jovem Ekaterina Gamova.

Eles quase copiaram a história de quatro anos antes, derrotando novamente o Brasil em uma semifinal disputada por 3 a 2 e conquistando seu terceiro título olímpico de forma brilhante, com uma recuperação que ainda hoje é descrita como incrível contra os russos, que saíram na frente por 2 – 0, mas finalmente se ajoelharam contra os antilhanos, para desgosto do lendário técnico Nikolai Karpol.

O ouro conquistado em solo australiano foi a consagração de uma geração, que mereceu o epíteto de Espetacular e um lugar de destaque na história do voleibol, já que conquistou quase tudo entre 1989 e 2000, permanecendo sem medalhas apenas na Copa do Mundo da China 1990 (quarto lugar) e no Grande Prêmio de 1998 (quinto lugar).

Uma geração em que sete das jogadoras participaram nas três conquistas de ouro: Mireya Luis, Regla Torres, Regla Bell, Marlenis Costa, Lili Izquierdo, Idalmis Gato e Ana Ibis Fernández, esta última ainda somou uma quarta medalha olímpica (bronze) em Atenas 1996.

QUANDO E COMO COMEÇOU A HISTÓRIA DAS MORENAS DO CARIBE?

A maioria dos técnicos e especialistas que acompanham o voleibol cubano há décadas, principalmente as seleções femininas, consideram que os pininos das Morenas del Caribe devem ser colocados na fase de preparação da seleção que conquistou o primeiro título internacional em 1966. na ocasião. dos Jogos Centro-Americanos e do Caribe em San Juan, Porto Rico.

Nomeação que para o esporte cubano ficou registrada como a epopéia do Cerro Pelado, navio em que viajaram para o evento, após a recusa da administração norte-americana da ilha porto-riquenha em autorizar aeronaves cubanas e em que dois jovens foram protagonistas. estariam mais tarde em sua primeira participação olímpica: Mercedes “Mamita” Pérez, de apenas 16 anos, e Nurys Sebey.

A referida estreia olímpica aconteceu em Munique 1972, quando ficou em sexto lugar, melhorou com a quinta posição em Montreal 1976, repetiu-se em Moscou 1980, última edição em que esperava disputar as medalhas, mas à qual não alcançou depois um revés inesperado contra a antiga República Democrática Alemã.

Apesar de não terem conquistado medalhas olímpicas, aquela primeira etapa dos Morenas teve seu clarim com a prata metálica na Copa do Mundo de 1977, no Japão, e um histórico primeiro ouro universal em 1978, quando derrotaram inquestionavelmente a ex-União Soviética e as multicampeãs Niñas Magas de o leste.

Nesse período também conquistaram títulos em jogos Pan-Americanos, Centro-Americanos e Caribenhos, e em torneios da Confederação da América do Norte, Central e Caribe (Norceca), sementes do que viria nas décadas seguintes.

Depois brilharam ao lado de Mamita Pérez, a canhota Mercedes Pomares, Nelly Barnet, Ana Ibis Díaz, Ana María García, Imilsis Téllez e Lucila Urgellés, entre outras.

A década de 80 serviu de transição, com jogadoras igualmente brilhantes como Josefina Capote, Lázara González, Josefina O’Farrill, Ana Luisa Hourrutinier, Nancy González, Norka Latamblet (permaneceu até ganhar o ouro em Barcelona 1992) e a estreia daquela lenda chamada Mireya Luis nos Jogos Pan-Americanos de 1983, em Caracas, com apenas 14 anos.

Naquela prova multiesportiva continental, os Morenas conquistaram o ouro contra a melhor seleção apresentada pelos Estados Unidos naqueles anos, na qual brilharam as históricas Flora Hyman e Rita Crockett, ambas medalhistas de prata um ano depois nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

A capital venezuelana testemunhou a transição da geração de Mamita, que disputou sua última grande prova de vôlei – aposentou-se no ano seguinte, depois que Cuba desistiu de participar das Olimpíadas em solidariedade aos então países socialistas – com a decolagem da seguinte, ao lado de veteranos como passador Imilsis Téllez que ficou mais algumas temporadas.

Como o evento de verão de Seul 1988 não contou com a participação, nesses anos os maiores resultados foram os títulos nos jogos do Caribe Central (Havana 1982, Santiago de los Caballeros 1986) e Jogos Pan-Americanos (Caracas 1983 e Indianápolis 1987), bem como o metais prateados alcançados na Copa do Mundo do Japão em 1985 e na Copa do Mundo da Tchecoslováquia em 1986.

Este último evento serviu para apresentar vários dos jogadores que acompanharam Mireya Luis nos anos dourados e espectaculares, percurso que começou com o cetro no Mundial do Japão em 1989 e terminou com a medalha de ouro olímpica em Sydney 2000.

O DECLÍNIO DAS MORENAS

Depois de Sydney, o time iniciou uma renovação, que o colocou na quinta posição na Copa do Mundo de 2002, na Alemanha, e depois conquistou uma surpreendente medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, com um elenco em que apenas a atacante Yumilka Ruiz sobreviveu. , Martha Sánchez e a já veterana defesa-central Ana Ibis Fernández.

Em seguida, a equipe ficou em sétimo lugar na Copa do Mundo de 2006, no Japão, e em quarto lugar na Copa do Mundo de 2007, ano em que conquistou o ouro continental no Rio 2007, ao derrotar os anfitriões brasileiros em cinco sets, em outra batalha épica de vôlei.

Já em Pequim 2008, a nova geração avançou às semifinais, mas caiu consecutivamente com placar idêntico de 1 a 3 contra Estados Unidos e China, para terminar na quarta colocação.

O ouro pan-americano na cidade do Rio de Janeiro foi o último grande triunfo dos Morenas, que deixaram até de ser os monarcas do Caribe Central e do Pan-americano, com apenas uma medalha de bronze em Veracruz 2014 e prata em Guadalajara 2011, respectivamente.

Mas a história respeitará o lugar no topo que conquistaram para sempre como as Morenas do Caribe, depois de brilhar por quatro décadas, inclusive de forma espetacular entre 1989 e 2000, e a inclusão até agora de sete jogadores no Hall da Fama. da Federação Internacional de Voleibol (FIVB).

São eles Regla Torres em 2001, Mireya Luis (2004), Magalys Carvajal (2011), Mirka Francia (2019), Taimaris Agüero (2021), Yumilka Ruiz (2023), Regla Bell (2024), além do lendário técnico Eugenio Jorge (2005).

Outros com méritos mais que relevantes como Ana Ibis Fernández (quatro vezes medalhista olímpica) ou as tricampeãs Marlenis Costa e Lili Izquierdo aguardam e merecem consideração da FIVB.

Colaboraram neste trabalho:

Laura Esquivel

Editora Web Prensa Latina

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