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terça-feira, 22 outubro, 2024

Mineração no Panamá, entre arbitragens e perigo ambiental

Cidade do Panamá (Prensa Latina) O novo governo que tomará posse no Panamá no dia 1º de julho tem vários desafios, talvez o mais difícil, a presença da transnacional canadense First Quantum que explora cobre diante de arbitragens e demandas populares pelo fechamento de operações.

Por Mário Hubert Gar/ridoCorrespondente-chefe no Panamá

Os danos à natureza causados ​​por esta empresa na cidade de Donoso (Colón), a contaminação de terras, rios e outros reservatórios são questões a serem resolvidas, mas também a perda de receitas milionárias que o Estado deixaria de receber, a maior contribuição para uma economia já reportada com indicadores de desaceleração.

O presidente eleito do istmo, José Raúl Mulino, antecipou em diversas aparições durante a campanha e durante a transição para a mudança de comando, que só se a mineradora retirasse as arbitragens poderia entrar numa negociação, que passa pela abertura da mina e depois fechando-o, uma fórmula vista como contraditória.

O ministro cessante do Comércio e Indústria, Jorge Rivera, admitiu que as obrigações legais que a próxima administração receberá em consequência do encerramento da mina poderão levar a exigências multimilionárias.

A empresa protocolou intenção que até agora, pelo menos, acumulou 20 bilhões de dólares, valor que representa a pretensão comercial, porém, há outras quatro intenções de ação judicial para investimento de outras empresas vinculadas a acionistas, que se sentem prejudicados pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça (CSJ) em novembro passado.

O Executivo anterior decidiu um plano com uma série de ações, uma das quais é defender os interesses do país contra reivindicações internacionais, apelos apresentados no Canadá e na Coreia do Sul.

Outro desafio é encontrar escoamento para os concentrados de cobre, cerca de 130 mil toneladas armazenadas em Puerto Rincón, o equivalente a pouco mais de 200 milhões de dólares, medida necessária no chamado plano de manejo ordenado e seguro, além de determinar se esse mineral é da empresa ou do Estado.

Rivera afirmou que a aplicação de um plano de encerramento já decidido e que levaria seis meses, poderia durar mais de oito anos e custaria ao país cerca de 800 milhões de dólares.

Para ter as evidências e os dados baseados nisso, propusemos como um dos eixos a preparação de uma auditoria integral dos processos de mineração e de uma auditoria ambiental, disse Rivera à imprensa, o que para os movimentos populares é mais uma desculpa e por isso Eles processar o Executivo de Laurentino Cortizo por irresponsabilidade.

ALERTA NACIONAL

As organizações sociais, sindicais e ambientais apelam a estar atentas a esta situação e lembram frequentemente que nas ruas as pessoas falavam alto e bom som ao exigir, sem qualquer outra alternativa possível, o fim da mineração de metais a céu aberto.

A First Quantum anunciou o início de arbitragem internacional perante um tribunal com sede em Miami (Estados Unidos) e outros processos baseados em acordos comerciais com Canadá e Coreia do Sul.

Os dados dessa empresa destacam que antes do encerramento, as exportações de cobre representavam quase 5,0% do Produto Interno Bruto do Panamá e 75% de todas as vendas no país centro-americano.

O futuro presidente panamenho anunciou que a questão mineira será tratada com responsabilidade, reação que espera que seja a mesma do seu homólogo.

“Lo ideal es llegar a un buen acuerdo de abrir para cerrar”, apuntó y sugirió que de esa manera se podrían generar los flujos necesarios, pues en la instalación permanecen miles de toneladas de concentrado del mineral con riesgo de daños irreversibles para la biodiversidad y a natureza.

A esse respeito, um dos porta-vozes da aliança Pueblo Unidos por la Vida, Jorge Guzmán, disse à Prensa Latina que o recente anúncio de abrir a mina e depois fechá-la constitui uma ofensa e um desrespeito aos panamenhos.

Guzmán disse que a mineradora, em cumplicidade com o Governo, deveria acatar a decisão do Supremo Tribunal de Justiça de Novembro passado, que declarou inconstitucional um acordo assinado com o Estado.

Relatórios recentes do Centro de Incidências Ambientais (CIAM) apontam os perigos de contaminação existentes na Minera Panamá, que não foram revelados pelo Governo.

REFERENDO

Convidados pela Câmara de Comércio e Indústria do istmo, estudiosos como o ex-ministro peruano de Energia e Minas, Luis Inchaustegui, instaram a abordar a situação crítica da maior mina de cobre da América Central através de um diálogo aberto e aprofundado com as pessoas.

No entanto, o Ministro do Meio Ambiente designado, Juan Carlos Navarro, insistiu na decisão do novo inquilino do Palácio de las Garzas (sede do Executivo) de abrir a mina e depois fechá-la definitivamente.

Para Inchaustegui, se o país decidir apostar no desenvolvimento mineiro, é necessário redefinir a concepção desta esfera a nível ambiental, social, jurídico e político, para aplicar “regras mais claras”, facilitar a reabertura daquele enclave e outros que podem começar na nação do canal.

Por sua vez, o ex-embaixador do Chile no Panamá, Francisco Cruz, que acompanha de perto a evolução da mina de cobre, acredita que os protestos do final de 2023 foram produto do acúmulo de “agitações sociais”, que encontraram seu alívio na a causa anti-mineração.

“Depois de cerca de seis meses desses acontecimentos, é claro que o país deve tomar decisões neste sentido, dado que inacção não é acção”, indicou. Salientou ainda que caberá às novas autoridades analisar como catalisar as novas circunstâncias para determinar se é possível construir um novo entendimento sobre a mineração.

É um acordo que pode passar por diferentes vertentes, mas não deve alterar o facto de “o Estado ser o dono óbvio de todos os projectos mineiros nele realizados, e não a empresa que está no poder, e isso não está em discussão”. “em qualquer um dos países da região, observou.

Quando questionado sobre os factores que deverão cimentar este novo entendimento, Cruz explicou a necessidade de analisar o impacto financeiro que produz e tentar vincular o conceito mineiro a um novo paradigma. “A mineração não pode ser um fim em si mesma, mas sim um meio para alcançar o desenvolvimento”, sublinhou.

Os especialistas concordam num outro ponto importante: a construção da confiança dos cidadãos envolve a criação de um quadro político, institucional e constitucional robusto, que seja independente de pressões e ideias políticas, para regular os processos de mineração antes de uma concessão ser aprovada.

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