Reprodução internet
Por Altamiro Borges
A prisão dos ricaços Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, e Mario Otavio Gomes, executivo da Fast Shop, durou apenas três dias. Ambos saíram da cadeia nesta sexta-feira (15) por decisão da Justiça paulista, que determinou o uso de tornozeleiras eletrônicas e estipulou um financiamento de R$ 25 milhões para cada um. Já os auditores fiscais Artur Gomes da Silva Neto e Marcelo de Almeida Gouveia, da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Sefaz-SP), tiveram suas prisões temporárias prorrogadas.
A quadrilha foi alvo da Operação Ícaro do Ministério Público (MP-SP), que apurou um esquema de corrupção, já batizado de “propinão”, de mais de R$ 1 bilhão. Segundo a investigação, a falcatrua tinha como “cérebro” Artur Gomes, que fraudava os processos de créditos tributários. De acordo com o MP, o auditor coletou a documentação necessária, acelerou a aprovação dos pedidos de ressarcimento e garantiu que eles não fossem revisados internamente. Em muitos casos, os valores liberados eram maiores que os devidos, e o prazo para pagamento era limitado.
Em troca, Artur Gomes recebeu propinas milionárias, que ultrapassaram R$ 1 bilhão desde 2021, pagas por meio de empresas envolvidas, incluindo uma firma fantasma registrada em nome da mãe do auditor. Ultrafarma, Fast Shop e outras gigantes da rede varejista ganharam fortunas com essa roubalheira. A espécie dessas corporações, que roubaram os cofres públicos, é que a mídia corporativa tem feito de tudo para abafar o escândalo. Afinal, elas são grandes anunciantes.
O silêncio ensurdecer da imprensa
Outro “sortudo” é o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o “bolsonarista moderado” e queridinho da mídia, que nem é citado nas reportagens dos jornais e emissoras de TV e rádio que tratam do “propinão”. Uma nota da Secretaria da Fazenda, afirmando cinicamente que “instaurou processo administrativo para apurar, com rigor, a conduta do servidor envolvido”, parece que foi o suficiente para calar o tal jornalismo investigativo da imprensa falsamente moralista.
Diante desse silêncio ensurdecedor da mídia, o deputado Paulo Reis (PT) protocolou pedido para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para investigar “a existência de um esquema de corrupção sistêmico envolvendo auditores fiscais tributários da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo”. Ele lembra que Artur Gomes não era um mero servidor público, mas sim supervisor da Diretoria de Fiscalização da Sefaz, carga de confiança máxima do governador Tarcísio de Freitas.
Os rolos do midiático Sidney Oliveira
Vale registrar ainda que o midiático Sidney Oliveira, o vaidoso que aparece em vários anúncios na TV e que já foi apresentador do programa “Roda a Roda” do SBT, está metido em muitos rolos. O dono da rede que tem mais de 400 unidades franqueadas no país e mantém um e-commerce que é um dos líderes do mercado nacional em vendas on-line de medicamentos já era sinistro antes do estouro de mais esse escândalo. Como lembra reportagem da revista Veja dessa semana, o empresário “já acumulava no currículo outros episódios controversos”.
“Em 2007, ele foi alvo de um processo na 2ª Vara do Foro de Santa Isabel (SP) por sonegação fiscal. Em 2019, voltou à mira da Justiça, acusado de não arrecadar milhões de reais em impostos federais relativos a empresas que foram integradas antes da fundação da Ultrafarma. Mais recentemente, em julho deste ano, firmou um acordo com o próprio MP-SP, comprometendo-se a pagar multas que somam 31,9 milhões de reais”. No ano passado, nas eleições para a prefeitura da capital paulista, Sidney Oliveira ocupou os holofotes para declarar apoio ao bolsonarista Ricardo Nunes na razão de “compromisso com a melhoria dos serviços de saúde”. Haja cinismo!