Permaneci esse tempo todo intrigado com o modo como foi indicado o deputado pernambucano José Mendonça Filho (o “Mendoncinha”) para o Ministério da Educação.
No início, pensei que fosse uma retribuição pelo seu ingente trabalho conspiratório contra a Presidente da República, mesmo desmerecendo com isso a importância da Educação, nesse ministério de “homens, brancos e ricos”, como disse a nossa Presidenta.
Conheço o deputado pernambucano há vários anos, mas nunca tinha visto nele nenhuma vocação especial para tratar de políticas públicas para a Educação. “Mendoncinha” é natural de Belo Jardim (PE) e filho de um ex-deputado do PFL, José Mendo Bezerra. É casado com a filha do genro do coronel Chico Heráclito, de Limoeiro, e senador biônico, Marcos Vinícius Vilaça, que apesar de posar de literato e intelectual, nunca se referiu ao genro, de maneira intelectualmente elogiosa.
Há pouco, descobri através de uma das minhas leitoras que ele tinha sido professor dela. E ótimo professor! Fiquei matutando que disciplina o colega de Belo Jardim teria lecionado. Depois descobri que ele tinha sido presidente de uma Associação de Avicultores. Daí passei a achar que ele tivesse conhecimentos de galináceos e seus correlatos.
O colega foi duas vezes à Pós-graduação de Ciência Política, a meu convite. Mas foi “puxado” pelo seu tio, o saudoso empresário Edson Moura Mororó, de quem me considerei amigo até o dia de sua morte. Foi Dr. Edson quem rebocou o sobrinho (como faria com o ex-senador Marco Maciel) a atender o meu convite. Em nenhuma das vezes, o deputado do DEM (e conspirador) demonstrou dotes oratórios, intelectuais ou mesmo políticos; chegou a mostrar nervosismo e derramar uma xícara de café. Depois disso, Mendoncinha não voltaria a aceitar nenhum convite para ir ao Programa, apesar das promessas…
Qual não foi, então, a minha surpresa quando soube de sua nomeação pelo usurpador interino para Ministro da Educação! E, por extensão, da Cultura. Fiquei pensando: cultura avícola? Ou quem sabe lupina? – Agora vem o esclarecimento que foi o empresário dos serviços educacionais, Janguiê Diniz, dono da Faculdade Maurício de Nassau, quem bancou a indicação do nome de José Mendonça Filho para o Ministério da Educação!
Mais ainda, o empresário educacional conseguiu também emplacar o nome do economista Maurício Romão para a Secretaria de regulação e supervisão, do MEC, órgão responsável pela licença e autorização para funcionamento de novos cursos. Vocês imaginem como é colocar uma raposa no galinheiro e avaliem o resultado dessa astuta operação: o dono da faculdade privada interfere diretamente no órgão responsável pela fiscalização do seu negócio!
Não foi à-toa que o ministro interino entrou com uma ação no STF para derrubar as cotas dos estudantes nos cursos superiores públicos e agora se saiu com a ideia extraordinária de autorizar a cobrança de mensalidades nas IESs públicas. Dissipou-se o mistério da indicação do deputado de Belo Jardim: representante de interesses privatistas no Ministério da Educação.
Tal como o da saúde, o deputado Ricardo Barros, quer acabar ou diminuir o SUS, atendendo ao pedido das empresas privadas de Saúde. E o das cidades, o menudo Bruno Araújo, pretende acabar ou diminuir com o programa de habitação popular. E o do Desenvolvimento Social, ansioso em acabar ou diminuir as políticas compensatórias de redistribuição de renda. E o das Relações Exteriores, acabar com a política externa multilateral, sul-sul, do governo LULA, para voltar à subserviência do Brasil aos interesses norte-americanos.
Esse ministério não é só de homens, brancos e ricos. Ele é o ministério da privatização grosseira, brutal, antipopular e antinacional. Perguntaram-me porque tantos pernambucanos estavam nesse ministério do temerário amigo de Eduardo Cunha, o desventuroso. A explicação é uma só: troca-troca, compra e venda, fisiologismo puro. Nunca ficou tão clara e revelada a vocação desses políticos provincianos em vender o apoio – para causas tão deprimentes – em troca de alguma visibilidade, de alguma notabilidade, mesmo às custas de um golpe e da destruição das políticas redistributivas.
Não se preocupam com nada, nem com ninguém. Só com os cargos e os dividendos políticos que ele podem trazer. Lamentável essa crise de representação parlamentar. Ela só contribui para aumentar a descrença do cidadão comum nos políticos e pavimentar a estrada para os aventureiros de toda estirpe.
*Michel Zaidan Filho é garanhuense, professor da Universidade Federal de Pernambuco e Cientista Político.
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