Cartoon de Miroslaw Hajnos.
Por Níkolas Stolpkin [*]
“Aqueles que nos governam moldam nossas mentes, definem nossos gostos e sugerem nossas ideias são em grande medida pessoas das quais nunca ouvimos falar”. (Edward Bernays)
O que nos poderia fazer pensar que agora (com a pandemia) o papel dos Grandes Media poderia ser diferente?
Não pode haver engano. O papel manipulador dos Meios de Comunicação de Massa (MCM) continua a ser o mesmo. E de forma alguma poderia ser diferente com a atual “pandemia”.
Nunca deveríamos esquecer que os MCM são extensões naturais dos grandes interesses económicos, pelo que tudo o que ali se diz é preciso sempre vê-lo com alguma distância ou desconfiança. E, mais ainda, quando uma boa parte do que vemos é propaganda, verdadeiro “braço executor das elites económicas.
Tal como definiu o publicista e jornalista Edward Bernays, no princípio do século XX: “A propaganda é o mecanismo pelo qual se disseminam as ideias em grande escala, no sentido amplo de um projeto organizado para estender uma crença ou uma doutrina em particular”.
“A propaganda moderna é a tentativa consequente e duradouro de criar ou dar forma aos acontecimentos com o objetivo de influir sobre as relações do público com uma empresa, ideia ou grupo”.
Vale a pena ver, atualmente, cada MCM sintonizar na mesma frequência propagandista. A televisão, os diários, a rádio, a Internet e as redes sociais, todos estão a confluir num mesmo leito ou na propaganda do momento – potenciando-a. Outros deixam-se influir pelo efeito contágio, ou pela sua própria inocência, o que poderia ser compreensível quando existe certa confusão e ignorância frente a um tema ou quando se carece de informação suficiente.
Tão pouco deixa de ser interessante a censura atual existente nas redes sociais, quando se tenta ser crítico frente à narrativa oficial ou surgem vozes autorizadas contrárias à mesma; o maciço-crível costuma ser censurado e o maciço-ridículos costuma ser aceite. Assim como, também, o tratamento dado pela informação dos MCM quando existem protestos ou manifestações contra as restrições em “pandemia”, chamando-os de “negacionistas”, “anti-vacinas”, “anarquistas”, etc.
E tal como funciona até os dias de hoje: “os Media de elite estabelecem um padrão dentro do qual opera o resto” (Noam Chomsky). Não é de surpreender a “tradicional” dependência dos Media [nos países] em “vias de desenvolvimento” ou “terceiro-mundistas”, os quais costumam replicar o que emitem os Grandes Media de Comunicação ou Grandes Agência Informativas.
Não é desconhecido por ninguém que hoje em dia – e desde que foi decretada a “pandemia” – estamos a ser dia a dia, sistematicamente, bombardeados com propaganda (em diferentes graus) para de alguma forma manter certa atmosfera de medo – algo muito parecido ao que sucedeu depois dos atentados às Torres Gémeas (2001). E, perguntar-se-ão, o que faz o medo? O medo contribui significativamente para silenciar e paralisar as pessoas. E é a razão pela qual, se prestarmos atenção, não há tanta oposição às políticas restritivas nos nossos respectivos países.
Não deixa tão pouco de ser interessante como as pessoas comuns, ou outras com certa experiência ideológica-crítica, tenham sucumbido facilmente ao poder de influência dos Grandes Media. Ali onde poderia haver alguma crítica, além disso, a narrativa oficial da “pandemia” não fez senão silenciar ou anular as vozes críticas.
Um exemplo paradigmático sobre como os Grandes Media atuam, quando certas vozes chegam a contradizer sua narrativa oficiais, foi o que aconteceu com o respeitável virologista francês Luc Montagnier (Prémio Nobel de Medicina em 2008 pela descoberta do VIH, causador da SIDA), uma voz autorizada quando se trata de vírus, que praticamente trataram de ridicularizá-lo. Ou o acontecido com o médico espanhol Luís de Benito, numa entrevista à TVE (Espanha) onde tentou impor-se sobre a voz de um entendido que trabalha desde o início da “pandemia” dentro da “primeira linha”.
O medo como ferramenta de controle
Um dos recursos mais utilizados pelo Poder a fim de conseguir manter afastados os governados é atiçar uma atmosfera artificial de medo ou tirar proveito de um desastre natural, político ou económico, como meio de buscar obediência (aceitar certas normas) ou anular qualquer resquício de dissidência, rebelião ou oposição. Ao longo da história tem sido essa a tónica: guerras, catástrofes, doenças…, e o medo da morte; o cristianismo… e o medo do “inferno”; o capitalismo… e o medo das “crises económicas” (desemprego, inflação, cortes, etc).
E está para ser visto como uma estrutura do Poder, como o FMI, estaria a desempenhar um papel interessante com tudo isto da “pandemia” e sua inclinação em ver as economias afogadas para ir finalmente em seu “resgate”. Não deixa de chamar a atenção como silenciosamente, de vez em quando, o FMI soa ruidosamente naqueles lugares onde existe alguma recusa. Onde não existe recusa, será desnecessário dar a conhecer o interesse “filantrópico” do FMI? Terá o FMI desembarcado nos nossos países sem nos apercebermos?
Manter certas ameaças ou temores, periodicamente, por parte da classe dominante, sempre foi parte da paisagem às quais os governados costumam estar expostos para ir “renovando” ou “refrescando” seus medos. Hoje o tema particular da “pandemia” vem renovar o medo da morte, da doença, do contágio… Mas aquilo que agora o torna muito particular é sua permanência exagerada, o que vai despertando outros temores como o medo do futuro, medo de perder o emprego, medo de ser marginalizado económica ou socialmente, medo de ver reduzido o seu poder aquisitivo, etc. E o que há de melhor para o Poder senão tornar uma prática “normal” o “distanciamento social” e portar uma máscara incómoda, símbolos do medo e da submissão?
Não é por acaso que hoje se incitam nos Media, na ausência de liberdade plena, a conveniência do “teletrabalho”, das “vendas online”, da “educação digital”, dos “espetáculos online”, os quais vêm ameaçar certas práticas comuns que já estavam instaladas dentro de um contexto de plena liberdade.
Então, cabe perguntar:
Será o sacrifício da nossa liberdade plena a forma em que nós iremos despojar pouco a pouco das nossas formas tradicionais de encarar o trabalho, as vendas, a educação, os espetáculos, etc? Poderia a liberdade plena ser compatível com a adopção generalizada das novas “conveniências” tecnológicas? Será possível a convivência entre o velho e o novo, sem descartar imposição alguma, e gozar da liberdade plena? Ou o novo, sem opção alguma, deve acabar por se impor cruelmente sobre o velho em prejuízo do “retardatário”? Será que o “novo” é o veículo ideal (“a grande oportunidade”) para “poupar nos custos” que o “velho” representava? Os “novos” grandes interesses estão agora em “luta de morte” frente aos “velhos” grandes interesses? Os “velhos” grandes interesses devem terminar por se adaptar aos “novos” grandes interesses?
Ninguém desconhece as paisagens tradicionais-vulgares do medo que costumam rodear permanentemente os media informativos (delinquência, assassinatos, violações, acidentes, roubos, incêndios, suicídios, violência, etc); assim como as paisagens periódicas do medo com que, de vez em quando, costumam aparecer, conforme o contexto ou o tempo (a ameaça de um meteorito, aquecimento global, o enfraquecimento da camada de ozono, doenças contagiosas, desastres naturais, contaminação ambiental, etc). Os primeiros costumam estar diária e permanentemente, dentro de um contexto normal; e os segundos costumam estar periodicamente, conforme o momento.
Mas o que destaca o protagonista de hoje (a “pandemia”) é sua permanência exagerada e sustentada ou de permanente ricochete entre o impacto e a ameaça, ou sua presença protagonica-permanente nos MCM.
Todos sabemos que os MCM costumam “jogar” com as emoções do receptor: alegria, raiva, medo, surpresa, tristeza e desgosto, são emoções que costumam explorar para captar a atenção sobre um determinado produto. Mas quando estas emoções permanecem presentes prolongadamente de forma consciente, então transformam-se em sentimentos que facilmente poderiam afetar as pessoas. E é o que se está a ver hoje com a exploração particular do medo. Quando a imagem diária são indivíduos com máscaras, o que se está a fazer é transmitir medo; o mesmo se passa quando diariamente se dão a conhecer números de infectados e mortos pelo COVID-10; o quando existem declarações do tipo: “o mundo mudou”, “o mundo já não será como antes”, “nova normalidade”, “novos surtos”, etc.
No momento em que os MCM deixassem de transmitir da maneira como estão a fazê-lo, a partir daí as pessoas poderiam voltar pouco a pouco voltar a fazer parte do que tinham como “normal” antes da “pandemia”. Enquanto se continuar a transmitir como agora, as pessoas comuns só poderiam continuar a ser vítimas do silêncio e da imobilidade.
Seria interessante saber qual é o desempenho atual dos MCM na China quanto à “pandemia”. Por que os MCM ocidentais permanecem praticamente em silêncio quanto à volta à normalidade na China, onde as pessoas supostamente voltaram a juntar-se maciçamente, têm aulas presenciais, podem ir normalmente aos restaurantes e onde o COVID-19 está mais do que controlado? Esse exemplo chinês acaso não será digno de imitar no Ocidente? A quase ausência de informação sobre o êxito chinês será devido a que não queiram expor o fracasso do ocidente frente aos seus rivais orientais? O que perseguem as estruturas do Poder no ocidente?
[*] @NStolpkin, analista político.
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