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quarta-feira, 19 fevereiro, 2025

Lula X Trump: antagonismo político no cenário dos BRICS

Reprodução Veja

César Fonseca 

O presidente Lula tem a responsabilidade maior de ser, em 2025, a voz da defesa dos países do sul global, que se colocam, por meio do BRICS, na linha de frente contra o imperialismo, cuja missão pretensiosa e brutal é de mundializar a doutrina neoliberal de dominação colonial.

Lula será o comandante dos BRICS, que já ultrapassa o G7 e se transforma na força econômica que anima a desdolarização, o símbolo da desarticulação imperial, para a construção do multilateralismo, capaz de unir os povos num novo acordo mundial.

O presidente Trump percebe a força dos BRICS e tenta desqualificá-la com as armas – que podem não funcionar – do protecionismo, cuja essência, sempre, foi, quando acionado, fator de desorganização do capitalismo.

O titular da Casa Branca diz que a força americana é a maior responsável pela desvalorização das moedas concorrentes do dólar a inundar o mercado americano de mercadorias que considera responsáveis pela desindustrialização do império.

Os Estados Unidos, depois de Bretton Woods, 1944, com o dólar poderoso, optaram pela realização de superávit financeiro para pagar déficits comerciais, faturando senhoriagem em escala global.

O resultado foi que com superávit financeiro os americanos conseguiram manter inflação baixa e crédito barato para dinamizar sua economia, enquanto, em contrapartida, produziu dívida pública que serviu para financiar guerras, com as quais sustentou a arquitetura de poder armada em Bretton Woods.

DÓLAR DESCOLA DO OURO

Não duraria eternamente essa manobra imperialista, que teve de ser desarmada a partir dos anos 1970 com a decisão imperial de descolar o dólar do ouro e deixar a moeda flutuar, regra acompanhada da desregulamentação dos mercados globais.

As periferias capitalistas, que tiveram que embarcar nessa arquitetura imperial, acabariam se endividando demasiadamente em dólar, levando Washington, temerosa de que o excesso de liquidez global produzisse hiperinflação, produzindo calotes, a reagir violentamente.

A puxada dos juros americanos de 5% para 21% em 1979 levaria as economias que hoje formam os BRICS à bancarrota geral.

Esse contexto duraria de 1980 a 2008, quando o capitalismo neoliberal, liberado do padrão ouro, partiu para a concretização da financeirização global imperialista.

Desde então, vigora o domínio incontrastável da economia ocidental pelos bancos centrais comandados por Washington por meio das regras do tripé econômico: metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávit primário.

Por meio dele, o império, via financeirização, toma, na mão grande, os ativos dos estados nacionais periféricos, privatizando-os e impondo-lhes  arrochos fiscais e monetários que os impedem de crescer sustentavelmente.

Ao mesmo tempo, buscou concluir sua ambição política de alcançar a hegemonia global, o que não foi possível, como se vê, atualmente, com Trump, caindo na real de que não dá mais para mandar sozinho no mundo.

O telefonema de 90 minutos de Trump para Putin, nesta semana, a fim de acertar o fim da guerra na Ucrânia, mostra, claramente, os limites de Washington de vociferar, imperialmente.

Inicia-se novo status quo global.

Ele revela a força da Rússia aliada à China para impulsionar o BRICS, na tarefa de desdolarizar o mundo e dividir o poder com os Estados Unidos,  evidenciando, na prática, a nova ordem.

ESTADOS UNIDOS X BRICS

O que realmente impede Trump de mandar sozinho, por meio do protecionismo, é o que o historiador americano marxista Michel Hudson disse: se os países que vendem para Washington não podem mais fazê-lo, com suas moedas desvalorizadas frente ao dólar valorizado, como pagarão suas dívidas?

Pode pintar o calote e a desorganização capitalista final.

Trump quer desvalorizar o dólar para os Estados Unidos inverterem sua balança comercial, mas, com isso, invertem, também, os termos de Bretton Woods: os Estados Unidos deixam de produzir superávit financeiro com senhoriagem do dólar para pagar importações, para, também, ser exportador com moeda desvalorizada que, estruturalmente, enfraquece os Estados Unidos.

Maior contradição do império!

Washington cairia na armadilha ou vai à guerra pelo dólar, se for preciso, para insistir na hegemonia que não dá mais conta de sustentar?

LULA, O PROTAGONISTA GLOBAL

É nesse cenário, portanto, que o BRICS, sob comando de Lula, vai enfrentar o imperador Trump sem a força hegemônica do passado.

Afinal, no BRICS, pontificam a Rússia, potência nuclear rival dos Estados Unidos, e a China, potência econômica e comercial, que dobra a força dos americanos.

Lula terá, portanto, do seu lado o equilíbrio de forças no cenário global para agir com sua capacidade de articulista político no plano global, com possibilidade de presidir o início da construção da nova arquitetura internacional pós Bretton Woods.

Esse é o sentido simbólico final do contato telefônico entre Putin e Trump para iniciar os termos do novo entendimento mundial que ocorrerá, sem dúvida, no palco do BRICS, presidido, esse ano, pelo presidente Lula.

Essa oportunidade histórica contribuirá ou não para Lula conquistar seu quarto mandato em 2026, se conduzir, com sucesso, a economia acossada pelas pressões neoliberais?

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