Joe Biden (à esq.) e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
César Fonseca
Lula exibiu na ONU seu pragmatismo político em escala global levantando a bandeira dos BRICS diante da polaridade radicalizada, de um lado, Biden, de outro, aliados, Putin-Jiping.
A ausência de Xi e Putin na abertura da assembleia anual deu expressividade a essa nova realidade global em ritmo de confronto crescente.
Xi Jinping e Putin, dissidentes da velha ONU, querem transformar os BRICS numa nova ONU.
Como Biden, rei de Roma em incêndio, elege-se inimigo frontal de Rússia e China, ou seja, do BRICS, Lula, novo presidente do G20, passa, no mínimo, a ser visto, diplomaticamente, para Estados Unidos e aliados, como agente duplo.
Essa é nova dinâmica de nova ONU, multipolar, que está nascendo, no lugar da que está morrendo, unipolar.
Como BRICS, Lula é Rússia e China; logo, China e Rússia é Brasil.
Essa é a realpolitik internacional que vai tomando conta do Brasil, cada vez mais internacionalizado pelas relações diplomáticas lulistas.
BRICS vira bandeira de luta política de classe global.
Lula é Sul Global, base de sustentação de poder geopolítico na nova cena mundial.
Não é à toa que o bloco atrai mais de 40 sócios candidatos ao clube diplomático que mais cresce em discussão e influência no mundo.
Não há como negar, o que se expressa pelo número de audiências de reis e imperadores solicitando encontro com Lula na ONU.
Popstar
Novo Mandela do Terceiro Mundo aos olhos do capitalismo cêntrico imperialista euro-americano armado pela OTAN.
Lula está radicalizando nos seus discursos cada vez mais internacionais.
No entanto, o presidente brasileiro, enquanto declara ser BRICS, agradando Putin e Jinping, encontra-se com Biden na Casa Branca nessa quarta-feira.
O JOGO LULA-BIDEN
Ambos se acordam em acomodar relações bilaterias Brasil-Estados Unidos em política trabalhista.
É útil a Biden já em disputa eleitoral com Trump.
Sem dúvida, Biden troca cooperação política com líder político sul-americano das classes trabalhadoras, para juntos defenderam nova legislação trabalhista global.
Visam, conjuntamente, política trabalhista capaz de combater eficazmente condição precarizada dos trabalhadores de aplicativos.
Trata-se de milhões e milhões de precarizados trabalhadores, em escala global, como resultado do fracasso das políticas neoliberais que sucederam as legislações trabalhistas sociais-democratas.
Dor de cabeça sem fim para os políticos neoliberais, Biden procura relaxar os rigores do capital neoliberal sobre os trabalhadores de aplicativos, na dinâmica econômica digital, a fim de ganhar reeleição.
A polaridade radicalizada entre capital e trabalho no cenário do mundo dos aplicativos tende à explosão social.
O ritmo avassalador da exploração dos trabalhadores da economia digital socialmente excludente agiliza, simultaneamente, consciência trabalhista universal proporcionada pela uniformidade dinâmica do próprio mundo digital.
NOVA MODALIDADE TRABALHISTA GLOBAL
O poder de mobilização dos trabalhadores em escala global para ação política simultânea de golpe no capital sobre acumulador de renda é aterrador para os empresários.
É o mundo veloz, atropela tudo.
Biden, agora, precisa de Lula para disputar a eleição com Trump, se é que ele não caia por já estar gagá, segundo especialistas adversários.
Se Lula se ajusta política e pragmaticamente com Biden em torno de uma política trabalhista capaz de acomodar capital-trabalho em novas proporções e culmine em vitória eleitoral do “Velhinho da Casa Branca”, cria outra correlação de força entre Brasil-Estados Unidos no plano político estratégico.
O preço a pagar poderia ou não ser nova aliança política EUA-BRASIL?
Biden sabe da prioridade número um de Lula: supremacia do social no orçamento público em disputa com a ganância especulativa sobre a dívida pública interna, maior fonte do déficit público.
Com tal prioridade, matar a fome do povo, revigorando programas como o Bolsa Família, Lula combate a desigualdade e dinamiza a economia com investimentos em criação de emprego e gastos em educação e saúde.
BIDEN RENUNCIARIA A LUTA?
Ou Biden se dispõe a renunciar a Lula para deixar o líder sul-americano ser atraído, preferencialmente, por China e Rússia, aliados militar e economicamente?
Sobretudo, com sua posição clara de combate à desigualdade como bandeira para virar a crise capitalista em novas oportunidades capitalistas mediante novo acordo monetário internacional, Lula aponta para o trabalhador como norte para solução da crise.
Política pública deve centrar na economia digital que exige investimento em conhecimento e tecnologia para combater o subemprego precarizado dos aplicativos, a praga do capitalismo.
O conhecimento, no jogo da economia digital, reclama uma parcela da propriedade para os trabalhadores
Essencialmente, conhecimento é capital do trabalhador, que o capitalista nega com a imposição dos aplicativos.
A nova dinâmica do novo mundo multipolar da relação capital-trabalho que Biden e Lula discutirão nesta quarta-feira, não exige que ambos comungarão com os mesmos ideais.
Porém, as circunstâncias políticas fazem Lula e Biden se aproximarem, um atraindo o outro, para uma unidade contraditória que somente a dialética produzirá como nova consciência social.