O presidente Lula, nesta segunda (24), em Portugal, pronunciou seu mais contundente discurso contra a privatização da Eletrobras, maior empresa de energia elétrica, talvez, do mundo, por meros R$ 36 bilhões de dólares, verdadeiro crime de lesa pátria.
Indiretamente, convocou os trabalhadores a reagirem, energicamente, contra esse absurdo total, que inviabiliza, junto com privatização da Petrobrás, desenvolvimento econômico sustentável e industrialização nacional.
Por que, diante desse desabafo nacionalista do presidente, os trabalhadores, a partir de já, não começam grande mobilização de resistência para reestatizar esse valioso patrimônio nacional?
Trata-se das duas armas econômicas poderosíssimas criadas por Getúlio Vargas com as quais o líder do trabalhismo brasileiro imaginou alavancar a industrialização nacional de forma vigorosa.
Com elas, exploraria os ativos nacionais disponíveis em forma de matérias primas, para serem manufaturadas e conquistar o mercado mundial de energia em suas imensas variedades, transformando-as em valores agregados, empregos de qualidade, ciência, tecnológica, inteligência artificial, educação, melhor distribuição de renda etc.
FORÇA DA CONSCIENCIA POLÍTICA SINDICAL
A terceira arma, talvez, a mais importante, criada por Getúlio, para construção do Estado Nacional soberano, foi o imposto sindical por meio do qual os trabalhadores tinham condições financeiras de se organizarem para a mobilização política.
Com ela enfrentaria os vendilhões da pátria, que acabaram surgindo, depois que o neoliberalismo exterminou a Era Vargas, a começar pelo governo neorepublicano de Fernando Henrique Cardoso, que teve, nesse caso, é preciso dizer, ajuda incompreensível do PT, armadilha histórica monumental.
Getúlio, visão estratégica de estadista extraordinário, quanto à construção do Estado Nacional, lançou as bases da industrialização com a nacionalização do petróleo e de todas as estatais que a partir dela, tendo, sobretudo, visão social aguda.
Concebeu leis trabalhistas, para, com elas, formar mercado consumidor para os capitalistas, mediante formação de poderosa classe média.
Sem o trabalhador, devidamente, protegido por legislação social, que, anos depois desembocaria, nas conquistas inscritas na Constituição de 1988, não teria condições de assegurar suas conquistas políticas, tornando-as presas fáceis os ultraneoliberais, o que, de fato, viria acontecer.
BASE ECONÔMICA E POLÍTICA DA FILOSOFIA TRABALHISTA
Que fez Vargas, para assentar na consciência do trabalhador suas raízes políticas consistentes, como demonstra o escritor e jornalista José Augusto Ribeiro, na trilogia, “A Era Vargas”, Editoria Folha Dirigida, 2014?
Criou o Imposto Sindical Laboral, contribuição anual incidente sobre a folha nacional de salário, articulada com o Ministério do Trabalho, para dar base de sustentação aos milhares de sindicatos que iriam nascer com o movimento trabalhista varguista, depois da Revolução de 1930.
Ocorreu o mesmo com a base sindical patronal, por meio da qual Getúlio criou o Sesi, Senai, Senac, Sesc, o chamado Sistema S, que garante a força política do capital, para obter do Estado os subsídios estatais quando o capitalismo entra em crise diante da queda tendencial da taxa de lucro que leva o sistema à deflação, às crises, o desemprego etc.
Getúlio pensou para frente, de modo atender os dois lados capital-trabalho: se tem de proteger os capitalistas, na hora da sua desgraça, da queda da sua taxa de lucro, por que, também, não dar o mesmo tratamento aos trabalhadores, a verdadeira base social da economia?
APOIO POPULAR AMPLO
Os trabalhadores, no Estado Novo getulista, apoiaram, amplamente, a proposta de equilíbrio econômico-social do trabalhismo getulista, como sendo passo adiante na formulação ideológica de regime político para além da social democracia.
A direita vendilhã da pátria, expressa na velha UDN, cria histórica da Casa Branca, percebendo que Getúlio, com seu trabalhismo progressista, ganhava, ideologicamente, os trabalhadores, enquanto praticava política macroeconômica vantajosa para os capitalistas nacionalistas, vendeu a ideia de que a esquerda praticava o peleguismo trabalhista tupiniquim, comprado por Getúlio para não ter os trabalhadores como adversários.
República sindicalista pelega getulista para se eternizar no poder etc.
CONTRADIÇÃO EVIDENTE
Ora, por que os trabalhadores iriam contra Vargas, fazendo oposição e não unindo-se a ele nos sindicatos apoiando sua proposta de Imposto Sindical que fortalecia a categoria para fomentar a industrialização e políticas sociais por meio de instituições fortes nacionalistas mediante Imposto Sindical cobrado, apenas, uma vez ano ano, sem nenhum peso significativo no poder de compra da classe trabalhadora, mas, ao contrário, destinado a fortalece-la, politicamente?
Polarizariam contra Vargas para atender discurso diversionista da UDN armado em Washington, contrário ao monopólio estatal do petróleo, a força central da economia brasileira?
Seria ou não dar tiro no pé?
PETISTAS PRISIONEIROS DA UDN
Os petistas caíram na conversa da UDN, de Carlos Lacerda, de Tio Sam, da corja direitista golpista, de que o sindicalismo getulista era pura pelegagem, razão pela qual sempre bateram contra o Imposto Sindical, justamente, a arma social dos trabalhadores que impedia ataque dos capitalistas contra monopólio nacionalista getulista.
Não é à toa que Darci Ribeiro e Leonel Brizola e todos os nacional-trabalhistas consideram o PT e a esquerda pequeno burguesa aliadas inconscientes dos golpistas udenistas, aliados de Carlos Lacerta e cia ltda, os melhores aliados do capital liberal americano, aquele que deu golpe em Getúlio e Jango Goulart, para enterrar as reformas de base trabalhistas, especialmente, a reforma agrária, sem a qual o Brasil chegará ao capitalismo.
No primeiro momento de ataque neoliberal ao Imposto Sindical, o PT e aliados, contra Darci e Brizola, estiveram na linha de frente, fazendo o jogo da direita.
Agora, por que os trabalhadores não se dispõem mais à organização política para irem às ruas, de forma determinada, organizados em seus sindicatos para defenderem estatização da Eletrobras e da Petrobrás?
COM QUE ROUPA?
Ir, como diria Noel Rosa, com que roupa, sem dinheiro do Imposto Sindical?
Lula chora a entrega de mão beijada das duas principais estatais criadas por Getúlio Vargas, as agentes econômicas principais e fundamentais sem as quais a industrialização brasileira não se alavanca para valer.
Como os trabalhadores arregimentarão forças, sem os bilhões arrecadados pelo Imposto Sindical, sem força econômica e financeira para se organizarem e irem a luta, nas ruas?
Pedirão dinheiro emprestado aos bancos que cobram juros extorsivos enquanto a inflação cai no compasso da queda de demanda global que aprofunda o subconsumismo econômico?
Conseguirão recriar o Imposto Sindical sem base política no Congresso?
Bem que Darci e Brizola avisaram!
Getúlio iniciou a construção do Estado Nacional criando, em primeiro lugar, o Ministério do Trabalho.
Os neoliberais, que tomaram o poder, em 2016, destruíram, em primeiro lugar, o Ministério do Trabalho, que, sem o Imposto Sindical, virou cadáver insepulto.
As reformas de base do nacional trabalhismo getulista exigem o renascimento do Imposto Sindical.
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