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quinta-feira, 28 março, 2024

Locarno: melhor morrer que sobreviver ?

Rui Martins, do Festival de Cinema de Locarno
Para muitos sobreviventes da Primeira Guerra Mundial de 1914, talvez o melhor tivesse sido morrer, pois retornaram para viver anos sem alguns de seus membros, com rostos desfigurados, enlouquecidos ou ainda com os sobressaltos dos horrores revividos em pesadelos diários.
Para Emmanuel Courcol, realizador francês do filme Cessez-le Feu (cuja tradução poderia ser Trégua, ou o imperativo – Apaguem o Fogo) a Guerra de 1914 deixou traços indeléveis nos sobreviventes, mesmo os sem ferimentos visíveis.
« Mesmo sendo um neto de soldado sobrevivente, essa guerra chegou até mim e me deixou sequelas », disse para os críticos após a exibição do filme.
Cessez-le-feu mostra a vida pós-guerra de dois irmãos sobreviventes, Georges, que regressou aparentemenete ileso mas, na verdade traumatizado pelos horrores presenciados, a ponto de querer encontrar outra vida, um tipo de anestesia, indo viver na África, onde se torna amigo de um senegalês também sobrevivente, participante do contingente de soldados vindos das colonias francesas.
O outro, Marcel, sem sequelas físicas visíveis, mas mergulhado numa total apatia, ficou  mudo. Graças a uma dedicada enfermeira, que estivera também trabalhando junto ao fronte, Marcel começa a mostrar melhoras aprendendo a manter contatos com o alfabeto de sinais. Mas está sujeito a uma recaída que poderá ser mortal.
Na verdade, os horrores de hoje vividos na Síria e no Iraque teriam sido suplantados pelos bombardeios incessantes da guerras de trincheiras em 1914, onde morreu a juventude europeia entre os vinte milhões de vítimas. O filme, exibido na Piazza Grande, neste sábado, é um libelo, cru contra a guerra, sem querer ser um espetáculo, ao qual se juntam emoções humanas, mostrando a possibilidade de se fugir do horror sem se conseguir dele se desfazer.

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