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sexta-feira, 29 março, 2024

Literatura Pop – A Internet é a Salvação da Lavoura

“A mídia sabe que para um estrela brilhar, outra tem

que se apagar(…) Ela é apenas o interruptor, não é

parâmetro de nada(…) O sucesso é uma farsa(…) Se

hoje sou estrela amanhã já se apagou…”

(Raul Seixas para Paulo Coelho, in, A Verdade

Absoluta, MárioLucena, Editora MacBel

Oficina De Letras

Silas Correa Leite*

Escrever faz bem, é um vício predileto (e até muito barato) de quem tem sensibilidade à flor da pele, e tem muito a dizer com palavras, principalmente o que nem sempre pode ser dito em bravata, greve de fome, coquetel molotov ou passeata fervorosa na Avenida Paulista.

Escrever é um despojo que pode até, eventualmente, dispensar uma analista ou psiquiatra cara, e ainda faz bem pro espírito atribulado nesses tempos tenebrosos pós-modernos (de um neoliberalismo globalizador amoral e inumano),  e ainda nos ajuda, também literalmente falando, a colocar historicamente os pingos nos is das mediocridades culturais por atacado – que infestam todas as mídias e emburrecem ainda mais essa terra brasilis de coxinhas Hipoglós et caterva – principalmente depois de um tucanato sem visão plural-comunitária, das suspeitas privatizações-roubos e, pior, de um FHC, o chamado Pai da Fome, que deixou uma baita dívida sociocultural para o Lula Light, sem verba disponível, portanto, para encorajar uma ração melhor de cultura pop pro povão assim despolitizado e sua carente Periferia S/A.
 Lendo, escrevendo, criando, repensando, pesquisando, tornamo-nos escritores caseiros, não necessariamente nessa ordem, mas, de alguma forma, pequenas antenas da época como preconizou Rimbaud. Vale ainda o quinhão de sensibilidade, a lucidez, a visão poético-literária-cultural, a sofrência da vida pregressa, e depois, nessa prática nossa de todo santo dia, escrever é treino; ganharmos o traquejo das palavras-armadilhas, e então, colocarmos rinocerontes e mundos-sombra pra fora.
A alma na ponta do lápis. Ou da caneta. Ou, agora, do teclado de algum pc merreca e de um mouse cutucando ostras íntimas com pedras cultas. Perolizando a dor, talvez, mesmo nas palavras apenas, acabemos em ficções e versos, dando o testemunho de nós, e de nosso tempo de vacas magras e besouros de ouro de idolatrias pop-esotéricas.
Faz sentido. Com isso, todo mundo sonha. Um quer ser pagodeiro de negritude suspeita, outra quer ser manequim-pilha-palito, outro quer ganhar na Loteria Três Poderes desse Cassino Brazyl, tem gente que quer ir pro Japão ou pra América Cloaca, e, gente fina, claro, sonha em ficar e mudar o Brasil aqui mesmo, custe o que custar, doa a quem doer. Desses, alguns bicho-grilos viram pintores, alcoólatras, noiteadeiros, asnoias ou escritores. Tirando os que, de certa forma, direta ou indiretamente, se prostituem de várias maneiras, prevaricam. Cargos, drogas, poses, salários, status quo. E existem outros.
Escrever não dói. No começo. Aliás, põe a alma pra res/pirar, nos arames das sofrências brasileirinhas e mestiças. Amor e dor. Escuridões e abismos. O sujeito pega jeito, participa de concurso, aventureiro de primeiras águas, lustra o ego, entra numa antologia de clube de esquina, ganha nódoa, quando se vê, quer, imagine só, virar um novo PC (Paulo Coelho) da vida. Tem gente que sonha pesadelos, ora. E dose dupla é bobagem. Um raio não cai duas vezes na mesma cabeça, certo? Deve ser.
Falando sério: em terra de Guimarães Rosa, de Machado de Assis,  Carlos Drumond de Andrade, de Hilda Hist, de Clarice Lispector, de Paulo Autran, de Dias Gomes, para chegar a ser um neo PC tem que literalmente também, meter muito a mão em cumbuca esotérica. Afinal, o que se ganha com invencionices de extirpe, na arte literária genial, se não a cegueira? Jorge Luis Borges que o diga. Ou João Cabral de Mello Neto, um convertido pré-mortis.
Assim, todos sonham em lançar o livro do terceiro milênio, ganhar o Prêmio Nobel, a Novela na Globo no horário das oito (mesmo que seja uma Mulheres Raquetadas qualquer), a fama, a grana, a lama, a grama. Só pra citar Gonzaguinha Dois. Em áureos tempos, mal imaginávamos ganhar um fuscão no juízo final. Agora, uma quer ser a pop Gisele Bündchen (é assim que se escreve?) outro quer ser o Netinho do Gueto-Rodeio Record, um outro o imberbe canela-de-vidro Kaká com acento e sem acento, um outro o titã barroco-concreto Arnaldo Rock Antunes,  e, muitos, valha-me Deus, sonham um espaço na Folha de São Paulo, já que até o Cony está lá sem seca e casca grossa, quase que alienado desses brasis tantos gerais desde o impune ególatra FHC et trupe…
Sonhar não dói, mesmo que a fama seja reles. Falo com conhecimento de causa. Escrevo desde muito guri ainda, com 16 anos já colaborava com jornais de minha aldeia, a Estância Boêmia de Itararé, migrando, vindo pra Sampa, estudando sempre, comecei a participar de concursos e tive sorte de ganhar alguns em verso e prosa, até na USP, colaborei com jornais, suplementos e revistas lítero-culturais, até que, inocente, puro e besta, calhou de tentar fazer a via-crúcis editorial (anônimo & zé ninguém) na busca de uma avaliação crível, buscando (sem intermediário) que  bancassem os meus livros, e então, finalmente, tivesse o reconhecimento que acho bom e faz parte.
Triste ilusão. Ou  muito me engano, ou muitos me enganam. Mal leem os livros enviados. Devem ter gerentes de açougues de sebos em análises de mercado editorial mal-conduzido. A arma do negócio. A mercadoria-livro. Um tipo de uma grande editora carioca, jogou-me na cara que o Brasil tem mais escritor que leitor. Vejam só o disparate. Isso, quando acusam o recebimento do livro. Isso quando não somem com ele. Isso quando nunca mais devolvem, ou extraviam. Isso quando avaliam mesmo, o que é bem certo que noventa e nove por cento não o fazem com grosso calibre e conhecimento de causa propriamente dita, principalmente se não tiver um Q.I. (Quem Indique) de panelinha próxima.
Corporativismos de panelas de amigos do alheio, gangues, turmas, jornalistas, amigos do barato ou de testes de sofás, e vai por aí a fora a cantilena do antro de escorpiões. Todos passam por tudo isso de alguma maneira? Crivos incríveis. Só alguns se sujeitam ao teste do sofá, ou tudo é mesmo uma panelinha? Simony, Derico, Homanny Ramos e Ratinho lançaram livros inúteis. Acredite, se quiser. É a falência da avaliação das editoras. Algumas obras(…) encalharam. Imagine o avaliador (SIC) que deu o OK prum livreto desses, bocós e sem conteúdo?. Um livro meu, recusado por uma outra grande editora de Sampa (mesmo sendo pioneiro, de vanguarda, único no gênero no mundo)  acabou, por asas do destino via CBN carioca, vamos colocar assim, estourando como e-book, livro virtual (eletrônico).
É o caso do O Rinoceronte de Clarice, no site www.hotbook.com.br/int01scl.htm que, com onze contos fantásticos (cada conto com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto) virou must da Internet, passou de 100 mil downloads, tem uma belo handicap, e assim fui de roldão e no vácuo fiz palestras, mostras, oficinas, congressos, tudo pago (e até em universidades) quando também foi recomendado como leitura obrigatória na Universidade do Sul de Santa Catarina, na matéria Linguagem Virtual, num Mestrado de Ciência da Linguagem, e esse primeiro livro da web virou tese de mestrado e de doutorado na UFAL. Conheceu, papudo?. Caminhos foram abertos. Aleluia. Ave Bill Gates.
Daí para ser tachado por fiéis amigos virtuais de o rei da Internet (ou o neomaldito da web segundo o site Capitu), foi um passo. Colaboro com mais de 800 sites, até no exterior. Mesmo sendo desconhecido da chamada grande mídia (que pecado), mesmo já tendo meus vários cinco minutos de fama, fiz meu palco iluminado, e destilei meus palavreiros, meus palavrórios, meus versos e prosas por atacado.
 De microcontos a haikais. De ensaios a críticas. De humor (de Dalai Brahma de Silas e suas “siladas” a pensagens, pensadilhos e ensaios lítero-culturais) E conheci situações de semelhantes entre desigualdades. Inéditos entre iguais. Com vias parecidas ou até piores. Antologias pagas, prêmios divididos, mídias suspeitas, e assim fez-se um ninhal pop de literatura nos tempos modernos, de Bienais-mercados saturados, de açodados engodos FLIPs a antros… Escritores virtuais. Não mais como um título ruim, um rótulo apenas, mas como uma realidade cristalina e bem valorada.
O que as editoras de livro impresso desprezam por grande incompetência até, pode virar sucesso como livro eletrônico, em link pago ou não. O site Amazon que o diga. Tenho dois ebooks lá. Algumas editoras correm atrás (não aconteceu comigo ainda), e lançam tardiamente em livro impresso, convencional, o que virou chique de sucesso comprovado na Internet. E as provas batem: todo sucesso na Internet, com um handicap desse naipe, acontece muito bem feito mercadoria-livro no chamado mercado editorial.
Curto e grosso: certos avaliadores estão por fora, são fracotes, não têm visão, ou, pior, vendem livretos como entendem de pão com banana. Não sacaram o mercadão que é a Internet, ou que o que é bom já nasce luz, cedo ou tarde quem merece acontece, principalmente se for teimoso como uma  mula,  e, de uma forma ou de outra, quer queiram, quer não, a cultura pop da literatura contemporânea brasileira dá um show no mundo virtual.
Os donos das grandes editoras, precisam comprar computador pros seus avaliadores de ocasião, darem um curso de navegação pros tipos, ou, mudarem de avaliadores que os tempos são outros e qualidades abundam, obras espetaculares viçam pelaí. Porque o mundo virtual endossará o mercado literário do futuro. E quem acreditar ainda no livro apenas como mercadoria descartável vai ver que, como em todos os tempos, em todas as épocas, em todos os campos, quem prepara um caminho (como diz a canção My Way) cedo ou tarde vai colher frutos e os chamados louros da vitória, trocadilhando, não as morenas da derrota. É preciso persistência, determinação, estudo, releitura, cursos, avaliadores sarados, fé na tábua de esmeraldas do sonho, do empenho, da luta árdua pra vencer barreiras e panelas.
Mas, com certeza, um bom site ajuda, uma fama no mundo virtual é uma escada para ao céu, abre portas espetaculares, e assim, todos têm espaço garantido e cada um que procure seu balaio, seu ninho, seu canto virtual, sua trupe, mesmo que, ainda, parafraseando os evangelhos, muitos sejam chamados (vocação) e poucos colhidos em safras e searas de tantos aventureiros pops em canteiros literários virtuais de quilate.
Parafraseando Silviano Santiago, eu diria, sem querer ser visionário, que os escritores contemporâneos que se destacarão no futuro, certamente na sua grande maioria sairão dentre os audazes navegantes das tribos virtuais da pós-modernidade. É a literatura pop no mundo da Internet. A salvação da lavoura. Sorte nossa. Habemus ícaros.
-0- Silas Corrêa Leite
Professor, conselheiro diplomado em direitos humanos, jornalista comunitário, ciberpoeta e escritor premiado, consta em mais de oitocentos links de sites, até no exterior, entre eles Cronópios, Observatório de Imprensa, Correio do Brasil, EisFluências e outros, Prêmio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Prêmio Paulo Leminski de Contos, Prêmio Ignácio de Loyola Brandão de Contos, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (São Paulo, Gestão Marilena Chauí), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás, Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda),   Prêmio Instituto Piaget/Cancioneiro infanto-juvenil, Portugal, vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP-Parceiros do Tietê/Jornal O Estado de São Paulo/Rádio Eldorado) entre outros, publicou em revistas, jornais, tabloides, fanzines, como Revista da Web, Trem Itabirano, Panorama Editorial, Revista Construir, DF Letras, Mundo Lusíada (Portugal), etc. Autor, entre outros, de Porta-Lapsos, Poemas, All-Print, SP, Campo de Trigo Com Corvos, contos premiados, Editora Design, SC (finalista no Telecom, Portugal), DESVAIRADOS INUTENSILIOS, Editora Multifoco, GOTO, A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, romance,  GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, romance, e O Menino Que Queria Ser Super-Herói, romance infantojuvenil, ambos a venda site Amazon e do ebook de sucesso O RINOCERONTE DE CLARICE, onze contos fantásticos, cada ficção com três finais, um final feliz, um final de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, destaque na grande mídia (Estadão, Diário Popular, Revista Época) inclusive televisiva, por ser o primeiro livro interativo da rede mundial de computadores, tendo sido entrevistado por Márcia Peltier (Momento Cultural/Jornal da Noite, REDE BAND), Metrópolis e Provocações (TV Cultura), entre outros, e a obra, por ser pioneira e única no gênero, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria Linguagem Virtual, do Mestrado de Ciência da Linguagem da UNIC-Sul de SC, tese de Mestrado na Universidade de Brasília e tese de Doutorado na UFAL. Seu estatuto de poeta foi vertido para o espanhol, francês, inglês e russo. Contatos: poesilas@terra.com.br

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