Handout / Argentinian Presidency / AFP
César Fonseca
Aobilização popular peronista-kirchnerista, na Argentina, manda o recado para PT e toda a esquerda latino-americana para enfrentar o seu maior inimigo: o trumpismo imperialista neoliberal; povo nas ruas mobilizado derrotou Javier Miley e o seu chefe maior, presidente Donald Trump; greves, paralisações, mobilizações intensas e, nos últimos dias, valendo tudo, até pedrada no presidente; a ira popular contra Milley que prometeu combater a corrupção foi ao auge, depois que a irmã do chefe, a que manda no governo, foi pega com a mão na massa: roubou dos miseráveis superfaturando preços dos remédios destinados aos aposentados a fim de favorecer grupos econômicos e financeiros especulativos; ao rasgar o discurso do combate à corrupção, Miley está sendo expulso do poder, democraticamente, pela mobilização popular radicalizada; nas eleições parlamentares de outubro, deverá sofrer novas derrotas, para formação do parlamento; o resultado será a remoção das medidas neoliberais que estão impondo sacrifício inumano à população em nome do combate à inflação, enquanto o governo perde novamente o controle do câmbio, jogando a economia em completa volatilidade sob ajuste fiscal neoliberal draconiano.
RECADO PARA LULA
A derrota de Miley é o recado para o presidente Lula tomar posse efetiva do seu principal capital político: a massa de trabalhadores, que paga a conta do ajuste fiscal neoliberal imposto pela Faria Lima, aliada, agora, dos narcotraficantes, lavando seu dinheiro sujo, multiplicando seu capital nos juros altos especulativos, prejudiciais ao desenvolvimento econômico sustentável; essa ação especulativa cresceu e dominou a economia com as bençãos de um Congresso neoliberal, semipresidencialista inconstitucional, gerado no bolsonarismo bonapartista, dominado, amplamente, pelo pensamento neoliberal militarista; formou-se, na Era Bolsonaro, negociata entre Executivo e Legislativo, para que este tomasse conta da execução orçamentária elaborada pelo primeiro; nasceria o orçamento secreto e as emendas parlamentares que legitimaram verbas legislativas em escala crescente; o Executivo se tornou prisioneiro do Legislativo; o STF teve que interceder na relação espúria entre os dois poderes, na era bolsonarista, mas a prática estendeu-se ao governo seguinte, com Lula.
SAIR DO DISCURSO PARA A PRÁTICA
A correlação de forças, no Congresso dominado por direita e ultradireita bolsonaristas, virou poder de fato; as duas, agora, com o trumpismo protecionista, entram no jogo imperialista de Donald Trump, esticando a bandeira americana na Av. Paulista, reduto da burguesia nacional; seu projeto é dar o golpe da Anistia, a fim de forçar a volta de Bolsonaro, como prega o Trump; nesse contexto de guerra aberta, a esquerda brasileira está relativamente desmobilizada, como mostrou as mobilizações políticas no final de semana, no Dia da Pátria; a direita colocou mais gente na rua do que a esquerda para protestar contra Lula e o STF, a fim de jogar com Trump; o discurso da soberania de Lula levou menos pessoas ao protesto contra Trump e golpistas favoráveis à Anistia; perdeu, pelo critério de mobilização de massas.
MOBILIZAÇÃO CONTRA NEOLIBERALISMO
Na Argentina, essencialmente, povo nas ruas para lutar contra a injustiça e a desigualdade social revelou a receita política eficaz mobilizadora, fragilizando o neoliberalismo; imperou-se a dialética da mobilização, um passo mais eficiente do que o positivismo praticado pela esquerda brasileira; oposição peronista pôs mais de 11 pontos de frente no resultado das urnas; nem a esquerda peronista -kirchnerista, Fuerza Pátria, acreditou no que assistiu: massacre sobre “La Liberdad Avança”, do presidente Miley; mais uma vez fica a lição do Peronismo: repudiar o receituário neoliberal, que empobrece a população, com as multidões mobilizadas nas ruas; já a população de esquerda brasileira se mostrou, no 7 de setembro, relativamente, desmobilizada, sem apetite para o embate político, comparado ao que se registrou em Buenos Aires; na Argentina, o equilíbrio aparente nas pesquisas revelou-se falso. A esquerda deu uma lavada como resultado da ampla mobilização social; as massas radicalizaram as posições partidárias e colocaram em xeque mate Trump e Miley; na Argentina, discurso e prática se revelaram simétricos; no Brasil, a assimetria é total.