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quinta-feira, 6 março, 2025

Kutsari: Areia, silício e semicondutores no México

Cidade do México (Prensa Latina) Kutsari, que significa “areia” na língua purépecha, é o nome dado ao projeto mexicano para fortalecer a cadeia de valor dos semicondutores, essenciais para a produção de dispositivos eletrônicos e as novas tecnologias do nosso tempo.

Por Lianet Arias Sosa

Correspondente chefe no México

Sua existência “move” e molda a vida cotidiana, desde telefones celulares, laptops e consoles de videogame até veículos, geladeiras, telas de LED, sistemas de GPS, equipamentos médicos ou painéis solares.

O desenvolvimento dessas minúsculas peças, consideradas pilares da economia atual, vem da física quântica e ganhou impulso com o nascimento do transistor bipolar de ponto de contato, em 1947, criado pelos americanos John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley.

Muito mais tarde, os circuitos integrados, comumente conhecidos como “chips”, que são fabricados com tecnologias baseadas em materiais semicondutores – daí seu nome genérico – passaram a ser um componente presente em todos os dispositivos, explica o pesquisador Edmundo Gutiérrez.

O diretor geral da Innovación Bienestar também destaca que seu uso em quase todos os setores industriais e em produtos e serviços de uso diário os levou a se tornarem a tecnologia em competição estratégica e comercial em nível global.

Segundo a Gartner, empresa de pesquisa e consultoria na área, a receita global do setor chegará a US$ 626 bilhões em 2024, um aumento de 18,1% em relação a 2023, enquanto neste ano pode aumentar para US$ 705 bilhões.

A crescente demanda por cargas de trabalho de inteligência artificial (IA) e IA generativa (para criar novos conteúdos) levou os data centers a se tornarem o segundo maior mercado de semicondutores no ano passado, atrás apenas dos smartphones.

No México, Kutsari – que se refere à areia porque é onde se obtém o silício, material importante na fabricação de semicondutores – é um dos projetos estratégicos confiados à Secretaria de Ciência, Humanidades, Tecnologia e Inovação (Secihti).

Segundo as autoridades, o projeto abrangerá diversos aspectos, entre eles a proposta de um marco legal e regulatório para fortalecer a maturação e transferência de tecnologia nessa área, e a promoção de ecossistemas que incluam toda a cadeia de suprimentos nos Polos de Desenvolvimento.

A primeira etapa envolve a criação de um Centro de Design que aproveitará a experiência de especialistas locais, e a segunda etapa envolverá a fabricação de chips tradicionais ou legados para atender à demanda nacional nos setores de eletrodomésticos, automotivo e outros.

Buscamos “consolidar as capacidades de desenvolvimento de dispositivos baseados em semicondutores no México, por meio da criação de um Centro de Design com viabilidade comercial imediata e, a médio prazo, um Centro de Fabricação com visão estratégica”, disse a chefe da Secihti, Rosaura Ruíz.

POR QUE UM CENTRO DE DESIGN?

Segundo especialistas, a indústria de semicondutores tem uma cadeia de suprimentos de três elos: design do chip (com pessoal altamente treinado), fabricação do design (a parte mais cara do processo) e montagem, teste e embalagem (validados e entregues ao usuário final).

Edmundo Gutiérrez, coordenador nacional do projeto de semicondutores, também destacou que o primeiro elemento mencionado é um dos principais elos de grande valor econômico-intelectual, com aproximadamente 58% do total.

Nesse cenário, a nação latino-americana tem a seu favor mais de quatro décadas de investimento em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e formação de pessoal em nível de mestrado e doutorado, principalmente no Instituto Nacional de Astrofísica, Óptica e Eletrônica (Inaoe).

Mas também, destacou o responsável, no Centro de Pesquisa e Estudos Avançados (Cinvestav), na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), no Instituto Politécnico Nacional (IPN) e em outros centros públicos e instituições de ensino superior.

Além disso, “houve e há uma ligação com o setor industrial através de acordos específicos” e há experiência a nível local na concepção de chips para instrumentos científicos com especificações de altíssimo nível.

Como exemplo, ele citou instrumentos para observatórios astronômicos ou a instrumentação para detecção de partículas de alta energia no laboratório da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear, na Suíça, evidências da competitividade global do design mexicano.

Outro motivo para investir em um centro de design é que a indústria local importa mais de 20 bilhões de dólares por ano em chips para os setores automotivo, de dispositivos médicos, eletrodomésticos e produtos de informática.

“Queremos iniciar a substituição de importações de alto valor intelectual e comercial”, acrescentou Gutiérrez em recente entrevista coletiva.

O especialista vai além e destaca a capacidade do Inaoe e do Centro de Engenharia e Desenvolvimento Industrial, não só em design, mas também na fabricação de protótipos de vários tipos de sensores e chips para uso em satélites, telecomunicações ou equipamentos médicos.

Na sua opinião, essa vantagem pode ser alcançada “a médio prazo com a instalação de uma fábrica de semicondutores que leve a fabricação em nível de protótipo para uma escala industrial”.

Os próximos passos do governo são muito claros: neste ano, ele planeja criar o Centro Público de Design de Semicondutores, que será consolidado em 2027, enquanto a fábrica pode começar a operar em 2026 e ser consolidada até 2029.

Uma vez alcançadas essas metas, o plano terá como objetivo concluir o terceiro elo de montagem, testes e embalagem, com o qual o país terá conseguido estabelecer os três elementos da cadeia de fornecimento de semicondutores até 2030.

Gutiérrez resume a relevância do projeto: “Os semicondutores estão definindo a maneira como as pessoas se comunicam, realizam transações comerciais, gerenciam serviços e serão um elemento importante para o uso eficiente de energia, a produção de alimentos e a conservação do nosso planeta. Portanto, é agora ou nunca.”

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