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segunda-feira, 9 setembro, 2024

Jogos Pan-Americanos: estrelas e lendas: Germán Mesa: nem ginasta nem psicólogo

Havana (Prensa Latina) Se não fosse a perseverança de seu pai, Germán Mesa poderia ter sido ginasta, judoca, lutador de caratê, jogador de basquete ou psicólogo de profissão, mas nunca o mágico das paradas curtas que foi no cubano beisebol.

Por: Norland Rosendo González

Jornalista Editor de Esportes da Prensa Latina

Com uma virtuosa mão enluvada, cerzida com fios magnéticos para as bolas, o protagonista dos cenários luxuosos de Cuba e do mundo entrou para a história por uma sensacional jogada dupla contra a seleção dos Estados Unidos nos Jogos Pan-Americanos de 1991, em Havana.

Se essa ligação fosse para o centro do campo, os americanos teriam pelo menos empatado, mas quase certamente levariam vantagem, num estádio latino-americano lotado.

Germán pegou a bola rasteira ao mergulhar no chão, passou a bola para o garçom Antonio Pacheco e este completou o lance que matou o inning e garantiu a vitória da seleção da ilha por 3-2.

“Fiz muitas outras jogadas espetaculares, mas nenhuma supera em importância a dos 91 Jogos Pan-Americanos”, comentou com exclusividade à Prensa Latina, sentado nas arquibancadas do mesmo estádio onde fez a cobrança.

Germán Mesa nasceu para ser jogador de beisebol, apesar de mais de um treinador lhe ter dito quando criança: “dedique-se a outra coisa, o que você não pode fazer como jogador de beisebol”, sem sequer deixá-lo vestir um terno . Assim que mediram sua altura, riscaram seu nome das listas.

“Mas meu pai nunca desistiu. Quando eu era pequeno jogava basquete, era bom de salto, praticava artes marciais, judô e progredi muito na ginástica, mas o velho sempre me tirava para passear e me levava para o campo de beisebol”, conta.

… “Ele se esforçou tanto, apesar das rejeições por causa do meu tamanho, que convenceu um amigo do bairro, em Cotorro, município da periferia de Havana, a conversar com seu professor da Escola de Iniciação Esportiva (EIDE). )”.

Germán lembra que o treinador o convocou para fazer alguns testes e pediu para repeti-los uma semana.

Foi algo inusitado, ressalta, porque geralmente em uma única sessão eles decidem se você fica ou vai.

Na segunda vez ele me disse: você está matriculado. Com o passar do tempo perguntei-lhe o motivo pelo qual me submeteu a dois exercícios e a sua resposta foi que na primeira vez fiz tão bem que ele quis confirmar que não foi um resultado excepcional, um daqueles que sai um dia e não se repete, lembra ele, considerado por muitos o melhor shortstop cubano da história.

Germán passou por todas as posições antes de assumir as paradas curtas: “Comecei no campo direito, onde menos rebatiam, segundo alguns, e até fui como arremessador na minha transição pelas categorias formativas”.

Era um adolescente do 12º ano do ensino pré-universitário quando em 1984 vestiu pela primeira vez o uniforme do Metropolitanos, segundo time da capital.

“Lá quase desisti do beisebol novamente. Tive um bom desempenho nas séries provinciais e nos treinos, mas me eliminaram na hora de entrar no elenco”, lembrou.

“Fiquei decepcionado com essa decisão e disse aos meus pais, até onde cheguei no esporte, vou me dedicar aos estudos, quero ser psicóloga”.

Lembre-se que foram procurá-lo na casa dele, ele disse a mesma coisa: não quero saber mais do baile. Insistiram diversas vezes e em uma delas o convenceram com a seguinte frase: esta noite vá ao estádio vamos te elevar ao time.

Queriam levar logo Germán para Industriales, mas ele recusou. O interbases do grande time da capital era Rolando Verde e o jovem ficaria no banco quando mais precisasse jogar.

“Quanto mais insistiam na minha transferência, mais eu dizia não. Estava quase na hora de deixar o beisebol novamente, então os diretores esportivos de Havana concordaram em me deixar pelo quarto ano no Metros”, diz ele.

A campanha 1987-1988 acabou sendo uma grande campanha para ele, ingressou no time Ciudad Habana na Série Seletiva, torneio de elite do beisebol cubano da época, e depois concordou em subir para o Industriales no ano seguinte.

Ele lembra que a essa altura já se sentia em condições de disputar a posição de interbases no time do Havana Lions e foi tão verdade que em 1989 também estreou na seleção nacional na Copa Intercontinental de Porto Rico.

Lá iniciou uma longa carreira de 16 temporadas nas quais se destacou pelo virtuosismo defensivo, além da espetacular combinação com o garçom Juan Padilla, para a maioria dos adeptos do beisebol em Cuba, o melhor conjunto em torno da segunda base.

Germán garante que as peças surgiram de forma espontânea. “Nunca ensaiamos nada, eu e Padilla nos conhecíamos só de olhar”, enfatiza.

… “Uma vez perdemos um jogo contra o Matanzas porque estávamos os dois assistindo a um golpe no meio que nenhum de nós atacou com medo de colidir com o outro. A partir daquele momento decidimos que em todas as conexões do centro do campo eu iria procurar ela pela frente e ele por trás.”

El Mago destaca que a chave do seu sucesso na defesa foi ter treinado muito, mas também porque estudou todos no jogo.

“A primeira coisa foi conhecer as características dos meus arremessadores e depois dos rebatedores adversários. Observei cada detalhe e também tive uma ótima intuição. Ainda há quem diga que é impossível, mas eu li a direção do golpe desde o golpe.”

Germán ficou famoso por faturar o terceiro turno com bolas rasteiras devido à sua posição, lançando para a primeira base sem olhar e continuando a correr para o banco, certo do arremesso.

“Eu pratiquei isso, sabia de cor o campo de jogo, sabia onde ficava cada base e como deveria atirar exatamente de qualquer lugar”, diz ele.

Germán conquistou dois campeonatos como jogador pelo Industriales e uma Série Seletiva, e também conquistou o título de diretor dos Azules, um dos dez jogadores de beisebol da ilha com premiações em ambas as funções.

De todas essas coroas, ele garante que foi o que mais gostou do ouro que conquistou como técnico. Foi na Série Nacional 2009-2010, cuja final venceu de forma sensacional contra o Villa Clara. Desde então, os Leões nunca mais ganharam um campeonato.

Naquela pós-temporada não éramos favoritos contra ninguém. Começámos por derrotar o Sancti Spíritus por 4-1 nos quartos de final, depois eliminámos o antigo Habana (4-2) e na final finalizámos o Villa Clara em Santa Clara por 4-3.

“Esse sétimo jogo contra o Villa Clara tem história. Durante a fase de qualificação eu tinha desistido de perder uma partida contra o Habana quando eles empataram na nona entrada. Lembro que Antonio González, glória do beisebol, me repreendeu por isso no final do jogo.”

…”A mesma situação ocorreu na decisão do campeonato quando a equipe do Villa Clara empatou cinco corridas com um home run, mas aí não deixamos o ânimo dos meninos desmoronar, assim que terminou o inning os recebemos no banco com um muito optimismo e ganhámos o jogo”.

“Eu tinha dito ao arremessador Joan Socarrás um mês antes para se preparar, que ele seria o homem do campeonato. “As pessoas diziam que eu era louco, mas sempre acreditei muito em mim mesmo.”

Com o jogo empatado, ele deu a bola para ele. Ele diz que lhe perguntou duas coisas: você se lembra do que falei com você? estás pronto? E ambas as respostas foram iguais: sim.

“O que muitos não lembram é que o Socarrás estava no rodízio e tive que transferi-lo para o bullpen, porque depois do primeiro terço seu desempenho caiu.”

“Contra todas as probabilidades vencemos o campeonato, por isso digo que se tiver que ficar com um título, escolho esse”, afirma.

O agora técnico do banco da seleção cubana lembra com gratidão sua passagem por ligas profissionais como Panamá, México e Nicarágua, nas quais foi coroado diretor três vezes.

Germán demonstra otimismo ao se referir às chances do time recuperar o título Pan-Americano de beisebol, conquistado pela última vez na prova continental do Rio de Janeiro 2007.

“Chegou a nossa vez”, diz ele, após o quarto lugar no Clássico Mundial e a prata que poderia ter sido ouro nos Jogos Centro-Americanos e do Caribe, ambas provas deste ano.

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