The Intercept Brasil
Não é uma novidade na realidade brasileira. Este país que convive “tranquilamente” com 60 mil pessoas assassinadas por ano. Passivos, assistimos a um genocídio diário que acontece nas favelas e periferias. Vemos crianças famintas nas ruas das grandes cidades como se fossem parte do cenário urbano. Enfim, não é de hoje que somos uma sociedade que se acomoda em meio à brutalidade.
Mas não é aceitável que no cenário atual sigamos assim. Porque nunca na nossa história a ameaça fascista foi tão real.
O país viveu semanas em compasso de espera pagando para ver o que seria o dia 7 de setembro. O planejado autogolpe de Jair Bolsonaro acabou da maneira mais brasileira possível: com uma negociação palaciana mediada por uma velhíssima raposa da política. Feito o acordo, depois de muitos dias de tensão, voltamos a uma impressionante normalidade. Você também notou isso?
O jornalismo corporativo teve a pachorra de falar em moderação, líderes políticos das oposições ocuparam-se em brigar por conta dos atos do último domingo, e o mercado, claro, recebeu a cartinha do presidente de braços abertos. É inacreditável que ainda haja qualquer possibilidade de acomodação de forças depois de quase três anos de terror.
Continuam morrendo mais de 500 pessoas por dia no Brasil para uma doença que já tem vacina! Até um velho amigo de Bolsonaro, o deputado Alberto Fraga, está indignado com a insensibilidade do presidente e com a falta de ações efetivas na pandemia. Mas vivemos um momento tão assustador que talvez esse não seja o fato mais grave.
Como o Intercept já demonstrou, somos liderados por um sujeito que tem o movimento neonazista como base. Qual o acordo possível com essa gente? Quem ainda acredita que a essa altura basta derrotar Bolsonaro nas eleições? O que vamos fazer no dia seguinte com 15 milhões de desempregados, com as polícias mobilizadas pela extrema direita, com as milhares de armas que ele despejou na sociedade brasileira, com os milhões de famintos, com o total esfacelamento do que havia de assistência social?
A aparente normalidade só serve ao mercado e ao próprio Bolsonaro. O primeiro lucra em cima das nossas desgraças. O segundo, não se engane, não desistirá do golpe que há décadas acredita ser a salvação do Brasil.
Ontem fizemos nossa primeira reunião de equipe depois dos atos do dia 7 e da nota do Temer. Aqui no TIB o sentimento que impera é o de revolta com qualquer ideia de normalidade. Não tem essa de “vamos seguir em frente”, “construir pontes”, “moderação”. Isso você vai encontrar no jornalismo que é financiado por banqueiro e especulador.
Essa é a razão desta mensagem. Como sempre, queremos remar contra a maré. Não tem acomodação só porque o autogolpe não vingou. Pelo contrário, se este é o momento em que o bolsonarismo se encontra um pouco fragilizado, então essa também é a hora de ir pra cima dele.
Como fazemos isso? Bom, tenho duas sugestões. A primeira é um convite para que você engrosse o clamor que já tomou conta da nossa redação: não tem acordo, não tem normalidade. Precisamos continuar gritando contra o autoritarismo e os desmandos do poder.
A segunda é um apelo. A falsa normalidade também impacta o fluxo de doações que recebemos. Isso é assustador e muito preocupante. Porque já temos algumas reportagens em andamento que podem ficar sem recursos no futuro próximo. Sei que não é o que você deseja.
O Intercept não se junta ao coro dos acomodados. Se você também não, hoje é o dia de vir fazer parte da maior comunidade de jornalismo do país. É em momentos assim que os rebeldes precisam se unir, e nós precisamos muito da sua força. Topa vir com a gente e enfrentar os golpistas com firmeza?
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Um abraço,
Alexandre de Santi
Deputy Editor