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quinta-feira, 28 março, 2024

Israel sofre as dores do Estado Islâmico

O general Herzi Halevy, chefe dos serviços de espionagem militar do Estado de Israel, declarou recentemente, numa conferência em Herzlia, que “não queremos a derrota do Daesh (ou Isis, ou Estado Islâmico) na Síria”.
Os seus “atuais insucessos colocam Israel numa posição difícil”, lamentou, de acordo com uma transcrição publicada no jornal Maariv, conotado com a direita política sionista.

A última coisa de que o general Halevy pode ser acusado é de usar uma linguagem hermética, hipócrita, ao contrário de tantos dirigentes políticos mundiais, de Hollande a Obama, de Mogherini a Hillary Clinton, do secretário-geral da Otan aos autocratas da União Europeia.

Ele é direto, fala com clareza, respeitando, aliás, a prática do seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que se deixa fotografar em hospitais israelitas visitando terroristas da Frente al-Nusra (al-Qaida) feridos durante a agressão à Síria soberana.

“Está fora de questão” que o Daesh “venha a ser derrotado na Síria”, prosseguiu o general Herzi Halevy, embora sem explicar o que tencionam fazer Israel e os seus aliados para evitar que os terroristas, ao que se diz combatidos pela “coligação internacional” onde se juntam os principais parceiros políticos e militares do exército israelita, sejam sacrificados pelas instituições sírias.

Também não devemos esperar que um militar com tão secretas funções seja um boquirroto.

As declarações do chefe da espionagem militar israelita apenas devem ser consideradas intrigantes num aspecto: de que modo podem ser conjugadas com a propaganda norte-americana – e a europeia, por arrastamento – à luz da “aliança indestrutível” entre Israel e os Estados Unidos, na verdade dois países geminados nos termos dos famosos postulados de Henry Kissinger?

O general Halevy foi factual, mas a sua franqueza confirma ao mundo que o envolvimento dos Estados Unidos e dos seus aliados da Otan na guerra contra o Daesh, pelo menos na Síria, não passa de um conto da carochinha para tentar amainar a revolta da opinião pública perante os atentados terroristas, principalmente na Europa.

Nas últimas semanas, a imprensa norte-americana, designadamente o New York Times, tem vindo a explicar que o pretenso combate apoiado militarmente pelos Estados Unidos contra o Daesh sofre de duas condicionantes de vulto: por um lado, tem de levar em consideração que os terroristas “moderados” sustentados pelo Pentágono e a Otan combatem quase sempre sob o comando operacional ou do Daesh ou da al-Qaida, pelo que, nestas circunstâncias, a “coligação internacional” não pode atuar em pleno, mesmo que queira, o que também ninguém garante; em segundo lugar, a mesma “coligação” abstém-se de agir contra o seus alegados inimigos sempre que estes estejam em posições que lhes permitam contribuir para a derrota do governo sírio, objetivo que parece ser a prioridade comum.

De Washington, das principais capitais europeias e dos meios financeiros e mafiosos que manipulam a constelação mercenária do terrorismo dito islâmico.

Chegados a este ponto, as coisas fazem todas sentido e não existe qualquer contradição entre as declarações do super-espião israelita e a prática dos principais aliados de Israel.

Halevy diz o que todos pensam e executam, embora só ele possa expressar-se sem papas na língua.

Israel não tem necessidade alguma de apregoar o seu empenho no combate ao terrorismo, uma vez que a sua intimidade com a conspiração e a prática terrorista é histórica, faz parte da essência do próprio Estado.

Já os Estados Unidos, tal como a França, o Reino Unido e outros aliados estão oficialmente do lado do combate ao terrorismo – originalmente a “guerra contra o terrorismo” de George W. Bush – e, por isso, sentem necessidade de, a cada passo, disfarçarem as suas evidentes cumplicidades com o Daesh e afins, tentando não ser vergonhosamente manchados com o sangue dos seus concidadãos vítimas do terrorismo.

O êxito é limitado, mas o terrorismo midiático vai conseguindo esconder a verdade de grandes setores da opinião pública.

No entanto, o que verdadeiramente conta para todos, em primeiro lugar e neste momento, é derrubar o governo legítimo e soberano da Síria, fazendo esse grande favor a Israel mesmo que isso signifique entregar o todo ou parte do território sírio ao Daesh, al-Qaida e parentes.

Uma tal estratégia faz gato-sapato da ONU, do direito internacional e dos direitos humanos, mas quem os leva ainda a sério?

O general Halevy falou por todos: “A derrota do Isis na Síria está fora de causa”. Ou seja, destruir a Síria soberana é o objetivo último dos terroristas e dos que dizem combatê-los.

Está dito e ficamos informados. Melhor do que nunca.

Fonte: Jornal Tornado

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