Ex-presidente participou do Festival Lula Livre, nesta terça (3), organizado por movimentos sociais franceses
Igor Carvalho
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Nesta terça-feira (3), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de mais homenagens em Paris, na França. Após receber o título de cidadão da capital francesa na segunda (3), o compromisso desta terça petista participou do Festival Lula Livre, no Teatro du Soleil. Durante o evento, ele voltou a criticar a operação Lava Jato.
“Lamentavelmente, no Brasil, a Lava Jato foi um pacto político entre a Justiça e a imprensa. Primeiro a imprensa condena e depois a Justiça julga. Muitas vezes, o juiz se comporta de acordo com a manchete do jornal”, afirmou Lula.
Durante o evento, foi lido um manifesto em defesa da absolvição do ex-presidente e, em seguida, Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo (SP), e Dilma Rousseff (PT), ex-presidenta da República, discursaram para o teatro lotado – todos os bilhetes estavam esgotados há semanas.
Haddad afirmou que “para que o atual presidente (Jair Bolsonaro) chegasse ao poder, foi um longo processo de desgaste das instituições” e que “o arbítrio chegou ao poder pelo voto e precisamos entender como isso aconteceu.”
Para Dilma Rousseff, muito aplaudida pelo público, a prisão de Lula cumpre um marco histórico que tem início no processo de impeachment que ela sofreu em 2016, após ser acusada de “pedaladas fiscais”, crime que nunca foi comprovado pelo Legislativo.
“Nós tivemos um golpe. Esse golpe, tem um ato inaugural, que é meu impeachment sem crime de responsabilidade. Esse ato é crucial. Como eles vão dar um golpe e deixar que esse golpe seja derrotado dois anos depois? O presidente Lula era, e eles sabiam, o grande líder da resistência no Brasil. Portanto, ele teria que ser impedido de concorrer às eleições presidenciais de 2018”, afirmou a ex-presidenta.
Último a discursar, Lula afirmou que não há possibilidade de consolidar a democracia fora da política. “Como também não há hipótese de fazermos uma sociedade mais justa, sem um Estado forte. Não conheço um empresário que abriu dos seus lucros para fazer política social. Não conheço nenhum empresário que queria um Estado forte”, argumentou o ex-presidente.
Ainda de acordo com o petista, é preciso apostar que “é possível recuperar o humanismo e a solidariedade. Não temos o direito de aceitar sermos apenas um algoritmo. Nosso coração precisa falar mais alto do que uma mentira na internet.”
Mais cedo, Lula discursou na Escola de Economia de Paris, á convite do economista Thomas Piketty. O ex-presidente falou sobre a experiência brasileira de combate à miséria durante os governos petistas. O francês coordena um laboratório de estudos sobre desigualdade no mundo.
“Nós temos que expor a desigualdade como um problema político, uma questão de dignidade humana. Não haverá diminuição da desigualdade se a gente não mexer no coração da riqueza”, afirmou Lula.
Por fim, o petista lembrou que os problemas sociais brasileiros remontam ao período colonial. “É muito difícil compreender o Brasil se não levar em conta os 350 anos de escravidão. Somos uma sociedade escravagista, embora a escravidão formalmente tenha sido extinta. Ela existe na economia brasileira. Existe no patrimonialismo. A elite brasileira nunca efetivamente se deu conta da necessidade de elevar a qualidade de vida dos mais pobres.”
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