Fonte da imagem, Al Jazeera
Adriano Viaro
Tenho me deparado com discursos que relativizam a dor e a tragédia. Discursos de pessoas que em nome de sua fé justificam o genocídio. Acabo de ver o vídeo de uma criança com vísceras expostas. Viva. Lutando pela vida, ainda assim. E o que vejo nas redes? Pessoas defendendo o extermínio de um povo. Vejo também pessoas de fé evangélica se unindo à estrela de Davi como forma de se sentirem perto da Terra Prometida. Imbecis de ignorância teológica e pretensão humana – demasiada humana. Seres abjetos e pútridos.
Crianças estão morrendo. Mulheres gestantes estão dando à luz meio aos escombros, quando conseguem chegar com vida. O Estado de Israel comete crimes de guerra de forma inconsequente e fundamentalista. Sim, Netanyahu discursa dizendo que o exército, “o mais ético do mundo”, será protegido “pelo Deus que eliminará o inimigo”. O fundamentalismo, mesmo em um massacre mais político do que religioso, apela para a fé como forma de legitimidade diante de seus maiores crimes.
Evangélicos do Brasil rasgam o evangelho e destroem as palavras do Cristo. A humanidade, vil, escrota e desumana, em sua significativa parcela neonazifascista, assiste ao massacre com pipoca gourmet e refrigerante diet. Estamos vendo o extermínio étnico protagonizado pelos “éticos”. Estamos vendo o horror de um holocausto, sofrido, absorvido e ressignificado sob forma de prática sionista.
Gaza chora seus feridos, enquanto enfrenta a fome e a incerteza de se manter ainda vivo. Que Deus é esse que Netanyahu, o “fascista”, chama em seu discurso? Quem é o Hamas diante da fúria do sionismo? Que Davi é esse que empunham junto aos discursos de ódio e aos símbolos de um passado mitológico: o “homem segundo o coração de Deus” (Atos 13:22), ou o Davi que manda Urias para a morte para ficar com sua esposa (2 Samuel 11:15)?
O mundo precisa preencher suas ruas pedindo o fim do governo fascista de Netanyahu. Governos e organizações precisam frear o sionismo em sua mais pútrida, indecente e pornográfica prática de armas. Gaza é Varsóvia ressignificada e revivida. O direito de Israel se defender não pode se contrapor ao direito de Gaza existir.
O mundo está com feridas. Nenhuma delas é maior do que a de Gaza.