Havana (Prensa Latina) Uma cidade tropical maravilhosa, iluminada pelo sol, beijada pelo mar e acariciada pela brisa; extraordinária e transcendente é a personalidade urbana da nossa cidade de San Cristóbal de La Habana, centro das Américas.
Assim a descreveu Emilio Roig, historiador desta cidade entre 1935 e 1964, sem imaginar que a Velha Havana e seu sistema de fortificações seriam declarados Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1982.
Atualmente, o trabalho do Gabinete do Historiador da Cidade (OHCH), criado em 1938, promove o desenvolvimento da antiga Chave do Novo Mundo, para além do resgate, restauro e preservação dos seus edifícios centenários.
Os eventos culturais revitalizam esses espaços, à medida que a instituição desenvolve diversas iniciativas que valorizam seu caráter social, artístico e patrimonial.
Sob o título “Fidelidade e Lealdade”, a capital cubana celebra seu 506º aniversário com uma programação que homenageia o legado do Comandante-em-Chefe Fidel Castro e do eterno historiador da cidade, Eusebio Leal.

DA ALDEIA À CAPITAL DO CARIBE
A capital cubana foi fundada em 16 de novembro de 1519, na costa oeste da Baía de Carenas, e foi a última cidade estabelecida pela Coroa Espanhola na ilha caribenha, chamada San Cristóbal de La Habana.
Segundo registros históricos, a cidade possuía condições naturais favoráveis, como a qualidade de seu porto e a localização privilegiada de frente para a entrada do Golfo do México, o que logo a tornou a mais importante do país.

Em 1550, o governador Antonio de Chávez transferiu seu centro de operações da antiga capital, Santiago de Cuba, localizada na região leste do país, para Havana. A partir de então, sua importância continuou a crescer.
Tornou-se o porto mais rico da América, abrigando o Depósito e Escola de Artilharia (1678), a Estação da Marinha Espanhola (1740) e o principal estaleiro da Espanha no continente.
Em 1674, começou a construção das muralhas que delimitavam a cidade antiga, as quais foram concluídas em 1797. Nessa altura, já não conseguiam conter o crescimento da cidade, e por volta de 1820 Havana expandiu-se, e o pouco que restou do seu interior passou a ser conhecido como Havana Velha.
Com o enriquecimento da cidade, tornou-se necessária a sua proteção através de um sistema de fortificações, a primeira das quais, La Fortaleza, concluída em 1540, foi destruída e em seu lugar foi erguido o Castillo de la Real Fuerza (1558-1577).
Seguiram-se os castelos de San Salvador de la Punta (1589-1600), os Tres Reyes del Morro (1589-1630), o Torreón de San Lázaro (meados do século XVII), o Castillo de Santa Dorotea de Luna de la Chorrera (1635-1643) e o de Cojímar (1639-1643).

A linha defensiva é completada pela Fortaleza de San Carlos de la Cabaña (1763-1774), pelo Castelo de Santo Domingo de Atarés (1763-1767), pelo Castelo do Príncipe (1767-1779) e pelo Forte nº 1 (1897), descreve o dossiê patrimonial do OHCH.
BONITO, AUTÊNTICO E COSMOPOLITA
O trabalho do OHCH e sua significativa vocação social estabelecem diretrizes para lidar com espaços que constituem bens culturais nacionais, afirma o artigo Patrimônio Cultural, Cidadania e Gestão da Arqueologia Preventiva (2014).
O estudo revela que a área a ser administrada por essa entidade possuía mais de três mil edifícios em 2014, dos quais 550 eram de alto valor arquitetônico.
A zona patrimonial abrange atualmente 98 dos monumentos mais representativos, 42 espaços pertencentes à área de expansão urbana do século XIX e 18 construções militares.
Entre os locais mais visitados por nacionais e estrangeiros estão a Plaza de Armas, a Plaza Vieja e seus arredores, a Catedral, a Plaza de San Francisco de Asís, El Templete, o Museu da Casa Natal de José Martí, La Bodeguita del Medio, o Paseo del Prado, El Floridita – um dos bares favoritos de Ernest Hemingway – o Museu da Revolução e, claro, as fortificações.
NECESSIDADE DE PRESERVAR NOSSO PATRIMÔNIO
Segundo Eusebio Leal, em entrevista concedida na véspera do 500º aniversário da cidade, Havana possui um valor simbólico: “é a capital da nação, sua cabeça; mas ao mesmo tempo é também muito representativa de todos os valores culturais, intelectuais, políticos, históricos e sociais do povo cubano.”
É também “um catálogo da arquitetura mais bela e deslumbrante que a ilha alcançou, com características que também podem ser encontradas em Camagüey, Santiago de Cuba ou Trinidad”, daí a necessidade de cuidar e preservar esse acervo.
A representante regional da UNESCO em Cuba, Anne Lemaistre, explicou com exclusividade à Prensa Latina que os critérios quatro e seis da Convenção daquela organização mundial foram o que justificaram a declaração.
“Não basta simplesmente proteger os edifícios para adaptá-los àquela imagem dos primeiros séculos; é preciso mantê-la viva, administrá-la e aproveitar esses monumentos para a apropriação da comunidade que reside no centro histórico”, declarou Katia Cárdenas, Diretora de Gestão Cultural do OHCH, em entrevista exclusiva à Prensa Latina.
O projeto mais abrangente do Escritório é o Rotas e Caminhos, que celebrou seu 25º aniversário este ano e envolve todas as instituições e famílias cubanas em seus atraentes passeios durante os meses de julho e agosto.
Aliana Martínez, diretora dos museus da Plaza de la Catedral, aderiu à iniciativa em 2004 e declarou a esta agência de notícias que os especialistas deveriam criar temas atraentes, propostas dinâmicas e passeios interessantes para o público.
Isso nos dá muita energia porque, embora seja a mesma coleção do museu, você tem que apresentá-la sob um discurso diferente, o que exige e resgata conhecimento para mostrar Havana de outra perspectiva, disse ele.

O projeto responde à necessidade de preservar o patrimônio por meio da colaboração ativa entre instituições e comunidades, mas não é o único; a celebração do 506º aniversário da cidade abriu uma série de atividades comemorativas, assegurou Cárdenas.
O objetivo é projetarmo-nos para o futuro com novas instituições culturais e a renovação das propostas museográficas e museológicas, de modo a estarmos em sintonia com os tempos e com os novos públicos, aos quais devemos a nossa existência, explicou.
Um dos eventos mais aguardados era a cerimônia tradicional em El Templete, no dia 15, com o retorno da ceiba para atrair benefícios econômicos e de saúde, e a subsequente festa de gala para a fundação da antiga cidade de San Cristóbal de La Habana.

O Festival Mozart-Havana decorrerá até ao dia 23, enquanto o 21.º Encontro Internacional sobre Gestão de Cidades Patrimoniais terá lugar de 18 a 21 de novembro, sendo estas propostas complementadas pelo Dia da Cultura Japonesa e muitas outras atividades.
A cidade veste-se com suas melhores roupas para evocar uma data de grande significado; é o palco onde o mar parece salvaguardar séculos de história, enquanto a cultura pulsa em cada esquina, histórica ou contemporânea.
Voltar a esta cidade é também recordar o legado de Leal, que sempre incentivou as pessoas a cuidarem dela e a garantirem que qualquer intervenção respeitasse a cidade velha, que não procura assemelhar-se a nenhuma outra, porque Havana é única.
Na opinião dela, o Centro Histórico, do ponto de vista cultural, deveria ser como uma grande orquestra, onde cada instituição toca bem o seu instrumento para alcançar a harmonia, lembrou a Diretora de Gestão Cultural do OHCH.
Muitas são as contribuições do eterno historiador para a vida cultural da cidade, que ele chamava de “o melhor de seus amores, o melhor de suas paixões e o maior de seus desafios”.



