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terça-feira, 6 maio, 2025

Gustavo Petro diante da ameaça do silêncio

Bogotá (Prensa Latina) Além de investigações com aparência de inconstitucionalidade, retrocessos legislativos e questionamentos sobre sua idoneidade moral, agora há a imposição do silêncio como arma de ataque contra o presidente colombiano Gustavo Pet

Por Ivette Fernández

Correspondente-chefe na Colômbia

Essa é a interpretação que setores próximos ao governo deram a uma resolução da Terceira Seção do Conselho de Estado, que determinou a suspensão da transmissão televisiva das reuniões ministeriais presididas pelo presidente em canais privados, bem como de outros meios de comunicação regionais, locais e comunitários.

Em 4 de fevereiro, o presidente anunciou que transmitiria as reuniões do Gabinete ao vivo para que os cidadãos soubessem o que seria discutido nelas, mas até o momento, apenas seis foram ao ar.

Como parte de sua decisão, o tribunal argumentou que as transmissões, sob o disfarce de discursos, “suprimem o pluralismo informativo porque forçam os espectadores a confiar em uma única fonte, com uma única versão dos fatos”.

Após o incidente, o presidente chamou a decisão dos juízes de um erro e descreveu a decisão como uma tentativa de censurar o chefe de Estado.

“Eles não me consideram presidente simplesmente porque pertenço ao movimento global do progresso humano, ou porque meu poder vem apenas do voto popular e não de clubes financeiros, e é por isso que, por meio de decisões, eles tiram meus poderes constitucionais”, disse ele.

Ele também questionou por que os programas de seu antecessor Iván Duque (2018-2022) nunca foram censurados, apesar de seus discursos serem diários.

“A lei diz que o presidente tem o direito de fazer discursos públicos. Como vão tirar esse direito legal de mim?” ele perguntou. Ele também argumentou que a democracia implica debate público e que, com essa postura, os juízes do Conselho de Estado estão fechando essa possibilidade na Colômbia.

“Eles estão tentando destruir o governo progressista, as reformas votadas pelo povo. É uma guerra jurídica que não será mais capaz de calar a voz do povo”, afirmou.

Ele argumentou que agora cabe ao público migrar dos canais privados, que ele descreveu como a voz da plutocracia, para o pluralismo oferecido pelas plataformas públicas.

ALGUNS SIM, OUTROS NÃO

Há meses, o presidente colombiano alerta sobre a existência de um viés político e comercial que predomina nas políticas de informação dos grandes canais, cujos discursos e agendas ele considera prejudiciais à sua gestão.

Recentemente, uma reportagem da RTVC Noticias, parte do Sistema de Mídia Pública, destacou como a imagem de figuras políticas apresentada por canais de mídia privados varia.

Foi o que afirmou em discurso o vereador Julián Triana, do Partido Verde, durante um debate de controle político sobre uma possível relação favorável entre a mídia tradicional e o prefeito da capital, Carlos Fernando Galán.

Triana argumentou que a percepção dos cidadãos sobre como Bogotá funciona não é a mesma que aquela refletida nas notícias. Ele considerou que isso pode ser devido ao fato de que três dos cinco conglomerados de comunicação também foram os principais financiadores da campanha de Galán.

Durante o debate, o vereador revelou que a campanha do prefeito Galán recebeu 1,185 bilhão de pesos (cerca de US$ 280.000 no câmbio atual) das empresas de comunicação Ardila Lulle, Santo Domingo, Gilinsky e Prisa.

Ele afirmou que, após duas crises de prefeitos em setembro de 2024, foi feito um investimento de 500 milhões de pesos (mais de US$ 115.000) em veículos de comunicação que fazem parte dos grupos empresariais mencionados “para que possam falar coisas positivas sobre segurança e coleta de lixo”. Ele também denunciou que, embora a impressão da mídia sobre a segurança da capital seja positiva, sob o lema “Bogotá caminha segura”, os números mostram que um caso de assassinato por encomenda ocorre a cada 14 horas na cidade, e um aumento de 64% na extorsão foi relatado.

O vereador afirmou que sua apresentação destacou como a mídia é muito mais simpática sob o comando do atual prefeito do que sob os líderes regionais anteriores, Claudia López ou Gustavo Petro, agora presidente.

“Galán é mais conveniente para o establishment”, concluiu Triana.

APOIO À PETRO

As reuniões do Conselho de Ministros realizadas até o momento abordaram questões vitais relacionadas ao desenvolvimento econômico e social do país.

Os cidadãos puderam conhecer os detalhes de um plano para eliminar pelo menos 25.000 hectares de plantações de coca por meio de um programa de incentivo econômico para agricultores na região de Catatumbo (no nordeste), que atualmente sofre com uma escalada de violência.

Outras iniciativas foram reveladas, como uma que busca reduzir as tarifas de eletricidade nos bairros mais pobres da região do Caribe por meio da autogeração e venda de energia por meio da instalação de painéis solares e outras soluções energéticas.

Um deles alegou ainda que os oligopólios dedicados à indústria farmacêutica nacional estariam se aproveitando de sua posição para aumentar os preços desses produtos, segundo representantes do Poder Executivo.

Em outra reunião, foi revelado que, ao longo do ano passado, o governo destinou seu maior orçamento ao setor de educação, totalizando quase 74 trilhões de pesos (mais de US$ 17,5 bilhões na taxa de câmbio atual).

Após a decisão do Conselho de Estado de limitar o escopo das reuniões ministeriais, organizações e líderes sindicais expressaram seu apoio ao presidente.

A Confederação Geral do Trabalho afirmou que censurar o Gabinete apenas reflete o medo da oligarquia de que o povo descubra o que está acontecendo.

Por sua vez, Fabio Arias, presidente da Central Unitária de Trabalhadores, afirmou que a decisão do tribunal viola o direito à verdade. “Eles só querem informações da mídia pró-negócios e oligárquica. Não querem a verdade ou informações diretamente do governo”, disse ele.

O deputado Heráclito Landínez também afirmou que a proibição de aparições do presidente na mídia coloca os interesses comerciais acima dos interesses nacionais, desrespeita a soberania dos cidadãos que elegeram o presidente e ignora as decisões do Tribunal Constitucional.

Enquanto isso, o ministro do Interior, Armando Benedetti, disse que apelará da decisão, argumentando que um mandado de proteção não pode violar a Lei 182 de 1995.

“Só porque uma cidadã desliga a televisão, milhões de pessoas não podem ser privadas de informações sobre as decisões do Executivo. Dada a importância desta decisão, solicitaremos que o recurso seja resolvido no pleno do Conselho de Estado”, afirmou.

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