– A guerra nuclear está sobre a mesa
– A privatização da Ucrânia
Prof Michel Chossudovsky [*]
Neste artigo, vou concentrar-me na agenda NeoCon, em grande parte inspirada no Project for a New American Century (PNAC).
Os neoconservadores exercem controle sobre a política externa. Eles estão envolvidos em subornar e manipular políticos e tomadores de decisão. Eles desempenharam um papel fundamental na definição da doutrina nuclear em nome de poderosos interesses financeiros.
O PNAC pediu o estabelecimento da “Superioridade em Armas Nucleares” (aplicada à Rússia) juntamente com uma expansão orientada para o lucro do complexo industrial militar.
A agenda NeoCon, tal como formulada pelo PNAC (2000) segue os passos da “Doutrina Truman” da Guerra Fria Nas palavras de George Kennan:
“Não está longe o dia em que teremos que lidar com conceitos de poder diretos. Quanto menos formos prejudicados por slogans idealistas, melhor”
Os NeoCons não pretendem “Vencer a Guerra”.
Sua agenda é “destruir países”.
É uma agenda voltada para o lucro: “Destruição” leva à “Reconstrução”.
O que está em jogo é a destruição econômica e social arquitetada de Estados nacionais soberanos. Os credores estão lá para “recolher os pedaços” e “se apropriar da riqueza real”.
A segunda parte deste artigo focalizará a agenda dos NeoCons de “privatizar países” em prol do establishment financeiro.
A privatização da Ucrânia como um Estado-nação empobrecido e abandonado já começou por meio da criação do Ukraine Reconstruction Bank (URB) pela BlackRock e JPMorgan.
A Ucrânia é um país com um vasto território e enormes recursos. O regime de Kiev tem uma dívida externa intransponível na casa dos milhões de milhões (trillions)que se vem acumulando desde o golpe de Estado neonazista EuroMaidan, em fevereiro de 2014, instrumentado por Washington.
Não estamos mais no reino da “medicina fortemente econômica” do FMI.
O que está se desdobrando é a tomada de controle e apropriação corporativa de um país inteiro.
O perigo da guerra nuclear
O uso de armas nucleares está na mesa de desenho do Pentágono. Tem o apoio do Departamento de Estado dos EUA.
Enquanto isso, está a ser apresentada no Congresso dos EUA uma legislação para iniciar a Terceira Guerra Mundial.
“Os senadores Lindsey Graham (R-SC) e Richard Blumenthal (D-CT) apresentaram em 22 de junho uma resolução que, se aprovada e assinada pelo presidente Biden, (…) comprometeria os EUA como chefe da OTAN a lançar, em nome da OTAN, guerra diretamente contra a Rússia (ver Eric Zuesse, Duran, 20 de junho de 2023)
A Agenda NeoCon: O Projeto para o Novo Século Americano
Os NeoCons estão firmemente por trás da agenda ucraniana.
O Projeto para o Novo Século Americano (PNAC) domina a política externa dos EUA em nome de poderosos interesses financeiros.
O PNAC afasta o planeamento de operações militares “consecutivas”. Ele descreve da seguinte forma as “Longas Guerras” dos Estados Unidos :
“lutar e vencer decisivamente múltiplas guerras simultâneas em diferentes teatros”
A condução de “Guerras em teatros simultâneos” é a espinha dorsal da agenda hegemônica dos Estados Unidos.
É um projeto de guerra global. O PNAC controlado pelos NeoCons também afasta a realização de negociações de paz reais.
A Agenda Nuclear e a Guerra Global
O PNAC foi publicado no auge da campanha eleitoral presidencial em setembro de 2000, apenas dois meses antes das eleições de novembro de 2001. Tornou-se a espinha dorsal da política externa dos EUA. É a base para a realização de uma agenda hegemônica de guerra global, aliada à imposição de uma “Ordem Mundial Unipolar”.
Victoria Nuland que tem assento no Departamento de Estado, atualmente a assessorar o presidente Biden, é a esposa de Robert Kagan, do PNAC.
Por que o governo Biden exige um programa de armas nucleares de US$ 1,3 milhão de milhões, que deve aumentar para US$ 2,0 bilhões em 2030?
A superioridade na Guerra Nuclear é a espinha dorsal da agenda NeoCon, tal como exposta no PNAC.
O objetivo é “Manter a Superioridade Nuclear“, especificamente em relação ao equilíbrio EUA-Rússia.
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A era do Pós-Guerra
Os EUA conduziram numerosas guerras desde o fim da eufemisticamente chamada era do pós-guerra:
Coreia, Vietnã, Camboja, Laos, Afeganistão, Jugoslávia, Iraque, Líbia, Síria, Iémen… e agora a Ucrânia.
O objetivo não declarado não é “vencer a guerra”, mas engendrar a destruição de países inteiros, criar caos político e social, tendo em vista finalmente “recolher os pedaços” e assumir o controle das economias nacionais de Estados nacionais soberanos.
Esta agenda também é conduzida por meio de “mudanças de regime”, “revoluções coloridas” e da concomitante liquidação e criminalização do aparelho estatal, a par de “forte medicina econômica” e da imposição de uma dívida crescente denominada em dólar.
Foi o que aconteceu no Vietname. A destruição de um país inteiro, o qual foi então “privatizado” no início dos anos 1990:
“O Vietnã nunca recebeu pagamentos de reparações de guerra dos EUA pela perda maciça de vidas e destruição, mas um acordo alcançado em Paris em 1993 exigiu que Hanói reconhecesse as dívidas do extinto regime de Saigon do general Thieu. Este acordo equivale, em muitos aspectos, a obrigar o Vietname a compensar Washington pelos custos da guerra”.
E agora o que está em curso na Ucrânia é a privatização total de um país inteiro.
A privatização da Ucrânia
A BlackRock, que é a maior companhia de investimentos em carteira do mundo, juntamente com o JPMorgan, vieram ao resgate da Ucrânia. Eles estão conluiados para criar o Banco de Reconstrução da Ucrânia.
O objetivo declarado é “atrair bilhões de dólares em investimento privado, para atender projetos de reconstrução num país devastado pela guerra”. (FT, 19/junho/2023)
“… BlackRock, JP Morgan e investidores privados têm como objetivo lucrar com a reconstrução do país juntamente com 400 companhias globais, incluindo Citi, Sanofi e Philips. … Stefan Weiler, do JP Morgan, vê como uma “tremenda oportunidade” para investidores privados. (Colin Todhunter, Global Research 28/junho/2023)
O regime neonazista de Kiev é um parceiro nessa empreitada. A guerra é boa para os negócios. Quanto maior a destruição, maior o sufoco da Ucrânia por parte dos “investidores privados”:
“A BlackRock e o JPMorgan Chase estão a ajudar o governo ucraniano a estabelecer um banco de reconstrução para pilotar capital inicial público a projetos de reconstrução que possam atrair centenas de bilhões de dólares em investimento privado.” (FT, op cit)
A privatização da Ucrânia foi lançada em novembro de 2022 em ligação com a consultora McKinsey, da BlackRock, uma firma de relações públicas que tem sido a grande responsável por cooptar políticos e funcionários corruptos em todo o mundo, sem mencionar cientistas e intelectuais, em nome de poderosos interesses financeiros.
“O governo de Kiev contratou o braço de consultoria da BlackRock em novembro para determinar a melhor forma de atrair esse tipo de capital e a seguir, em fevereiro acrescentou o JPMorgan. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, anunciou no mês passado que o país estava a trabalhar com os dois grupos financeiros e consultores da McKinsey.
A BlackRock e o Ministério da Economia da Ucrânia assinaram um Memorando de Entendimento em novembro de 2023.
No final de dezembro de 2022, o presidente Zelensky e o CEO da BlackRock, Larry Fink, acordaram uma estratégia de investimento.
Reconstrução da Ucrânia: O local da conferência em Londres
Sincronização cuidadosa (ver cronograma abaixo). O “Golpe Fracassado” Prigozhin-Wagner (23 e 24 de junho de 2023) foi iniciado no dia seguinte à Conferência de Reconstrução da Ucrânia em Londres, organizada pelo Regime de Kiev e pelo Governo de Sua Majestade em 21 e 22 de junho de 2023. Será uma coincidência?
“O Fundo de Desenvolvimento da Ucrânia permanece nos estágios de planeamento e não deve ser totalmente lançado até o fim das hostilidades com a Rússia. Mas esta semana os investidores terão uma visão prévia numa conferência em Londres coorganizada pelos governos britânico e ucraniano.
O Banco Mundial estimou em março que a Ucrânia precisaria de US$ 411 mil milhões para se reconstruir após a guerra e os recentes ataques russos elevaram esse número.
Nenhuma meta formal de arrecadação de fundos foi estabelecida, mas pessoas familiarizadas com as discussões dizem que o fundo procura levantar capital de baixo custo de governos, doadores e instituições financeiras internacionais e alavancá-lo para atrair entre cinco e 10 vezes mais investimento privado.
A BlackRock e o JPMorgan estão a doar os seus serviços, embora o trabalho lhes dê uma visão antecipada de possíveis investimentos no país. A missão também aprofunda o relacionamento do JPMorgan com um cliente de longa data.
O que a Ucrânia precisava, aconselhou a BlackRock, era de um banco de financiamento de desenvolvimento para encontrar oportunidades de investimento em setores como infraestrutura, clima e agricultura e torná-las atraentes para fundos de pensão e outros investidores e credores de longo prazo. O JPMorgan foi contratado em parte pela sua experiência em dívida.
… A maior parte dos investidores quer esperar o fim das hostilidades. “A parte importante é que a Ucrânia já está pensando no futuro”, disse Weiler. “Quando a guerra acabar, eles vão querer estar prontos e iniciar o processo de reconstrução imediatamente”. (FT, 19/junho/2023, sublinhado nosso)
O rei Carlos V organizou uma recepção no Palácio de St. James na véspera da Conferência de Recuperação da Ucrânia.
A cronologia da privatização da Ucrânia
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Novembro de 2022. Contrato com BlackRock e McKinsey, Ministério da Economia da Ucrânia
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Dezembro/2022. Acordo entre o CEO da BlackRock, Larry Fink, e o presidente Zelensky
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Fevereiro/2023. JPMorgan se junta ao projeto BlackRock Reconstruction Bank
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18/junho/2023. Iniciativa de Paz da África em São Petersburgo, Declaração do Presidente Putin sobre as negociações de paz frustradas de março de 2022.
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21-22/junho/2023. Conferência de Londres sobre o Banco de Reconstrução da Ucrânia coorganizada pelos governos britânico e ucraniano.
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23-24/junho/2023. A “Rebelião” de Prigozhin Wagner